Miguel Guilherme: "É o primeiro papel em que assumo a minha condição de velho"

28 out, 2022 - 17:25 • Maria João Costa

“O Coração de um Pugilista” estreia sábado, no Teatro Aberto. A peça, da autoria de Lutz Hübner, tem encenação de João Lourenço. No principal papel, o ator Miguel Guilherme que veste a personagem de um velho pugilista a viver no lar de idosos.

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Teve lições de boxe, mas não sonha dar um murro. Miguel Guilherme é o protagonista da peça “O Coração de um Pugilista”, que estreia sábado no Teatro Aberto, em Lisboa. A peça, com encenação de João Lourenço, é nas palavras do ator a primeira onde “assume” a sua “condição de velho”.

O texto da autora do alemão Lutz Hübner foi adaptado pelo encenador, em conjunto com Vera San Payo Lemos, e leva ao palco a história de um velho pugilista reformado que está num lar de idosos e onde vem a conhecer um jovem “candidato a marginal”, como diz Miguel Guilherme ao programa Ensaio Geral da Renascença.

Segundo o ator, o pugilista é o primeiro papel que faz em que é “assumidamente um velho”. O facto é para Miguel Guilherme “um bocado assustador” e, em simultâneo, “interessante e inquietante”. Aos 63 anos, o artista considera “preocupante a ideia da idade, do avançar”, mas admite, no entanto, que são coisas que não lhe “tiram o sono”.

“Quando penso nisso, todos nós temos que, de certa maneira, lidar com isso, mais tarde ou mais cedo na nossa vida”, desabafa. No palco está a história da vida deste pugilista reformado e do seu encontro com um jovem.

“É uma história relativamente simples, é um pugilista já reformado há bastante tempo que está num lar para velhos. Cometeu um deslize que foi bater num enfermeiro, então, mudaram-no para um lar especial, onde está numa ala para pessoas mais agressivas”, conta Miguel Guilherme.

É a esse lar que chega, entretanto, “um miúdo com os seus 20 anos, candidato a marginal, mas que ainda não o é”, papel interpretado por Gonçalo Almeida. “Mandaram-no fazer trabalho comunitário nesse lar e pintar os quartos de alguns velhos. Quando ele chega ao quarto do pugilista aquilo começa muito mal entre os dois. Passam dois, três dias, e eles começam a entender-se bastante bem”.

A peça “O Coração de um Pugilista” dá assim protagonismo ao diálogo entre gerações. “O que o velho tenta é fazer crer que o caminho da violência se calhar é não é o melhor caminho”, explica Miguel Guilherme sobre a relação que se estabelece entre a sua personagem e a mais jovem.

Mas a liberdade é outra das questões abordadas neste texto. “O velho tem uma ânsia de liberdade enorme, porque está ali preso e o miúdo ajuda-o a fugir. O pugilista está ali preso, mas no fundo não deixou de ser livre ou de ter uma ânsia de se libertar. O miúdo também quer encontrar uma maneira de estar melhor na vida, porque está muito perdido. Então, ajudam-se um ao outro.”

Nesta troca de experiências de vida em que o valor da amizade sai reforçado, participa também a atriz Joana Pialgata. Segundo Miguel Guilherme, esta não é, contudo, uma peça “moralista”.

O lado moral surge, indica o ator, porque “a vida, sendo um combate, vale a pena ser travado da melhor maneira, e pelas melhores razões”. Para Miguel Guilherme, a peça, que “é também para a juventude dos 12 anos aos 100 anos”, tem um “lado moral muito forte sobre o que vale a pena ou não fazer” sobre a vida.

Quanto ao boxe, Miguel Guilherme conta que tiveram “apenas umas pequenas lições” para aprenderem “mais ou menos algumas posturas”, mas “nada mais!”, remata. “Não me passou pela cabeça ir jogar boxe para fazer esta peça!”

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