Entrevista a Roberta Medina

Rock in Rio Lisboa vendeu 20 mil bilhetes fora de Portugal, em 39 países

17 jun, 2022 - 21:00 • Maria João Costa

É um regresso aguardado, depois dos adiamentos por causa da pandemia. Começa sábado a 9ª edição do Rock in Rio Lisboa. Roberta Medina fala da “ansiedade” e “celebração da vida”. O festival vai fazer um minuto de silêncio pela paz.

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“É um privilégio poder estar junto”. É desta forma que Roberta Medina vê o regresso do Rock in Rio Lisboa, depois do adiamento do festival devido à pandemia. Em entrevista à Renascença, a diretora do evento, reconhece que a pandemia trouxe um “prejuízo grande” ao festival, diz que tiveram de se adaptar a novas circunstâncias, mas mostra-se confiante no regresso do ambiente festivo.

A abertura de portas, para o primeiro fim-de-semana, é este sábado e conta, além dos bilhetes vendidos em Portugal, com mais 20 mil entradas vendidas fora do Portugal. “Tem um pouquinho de todo mundo, muitos europeus, mas também Brasil, Argentina, Estados Unidos”, explica Medina que fala num total de 39 países presentes.

Nesta entrevista em que deixa conselhos aos festivaleiros, Roberta Medina considera que o Rock in Rio não é “só de festa”. “Trata-se de festa com muitos benefícios para todo mundo”, diz a filha do fundador do festival, apontando a dinâmica económica que o Rock in Rio Lisboa gera e assegurando que o evento vai continuar na capital portuguesa.

É um regresso muito aguardado, com que sentimento acha que abrirão este sábado as portas da Cidade do Rock?

Acho que o sentimento é de realização de um sonho. Depois de tanto tempo, quase fica difícil acreditar que a gente de facto está aqui, que a Cidade do Rock está pronta, que está linda, que a equipa está feliz. As pessoas têm uma ansiedade enorme de estar juntas. Acho que é uma celebração da vida. É essa consciência de que é um privilégio estar aqui, é um privilégio poder estar junto. Acho que é muita alegria.

Que marcas a pandemia deixou no Rock in Rio Lisboa?

No que toca à vivência do festival, acho que não há. Acho que vivência do Festival vai ser exatamente como sempre foi, com uma diferença de que as pessoas que se sintam mais confortáveis, e que possam estar mais fragilizadas, e queiram, ficar de máscara é absolutamente normal. Hoje em dia já aprendemos o benefício da máscara e isso não é estranho.

Acho que a experiência em si, vai ser como ela sempre foi, de muita alegria, de muita brincadeira e cantar junto. As marcas da pandemia estão mais na indústria, no como chegamos até aqui, do que, no como fazer e a experiência do festival

Que mudanças fizeram?

A gente teve de alterar bastante o planeamento. Antecipar muito as nossas decisões, antecipar os contratos com os fornecedores. A cadeia ainda está, e estava, muito desestabilizada de mão- de-obra, de matéria-prima, de logística. A gente teve situações do equipamento de som ter ido parar num outro país, por engano, e ficar perdido. Então, o mundo está vivendo um desafio muito grande de pós pandemia, e como se não bastasse, ainda veio a guerra na Ucrânia que veio aqui dar um nó maior nas coisas. Isso tudo, impacta em todos nós, em qualquer coisa que a gente faça, seja na indústria dos eventos, na música, seja na vida do dia-a-dia, como cidadãos.

Todo o adiar desta edição do Rock in Rio Lisboa teve prejuízos na própria máquina do evento?

Ah, com certeza! Existe um prejuízo grande acumulado até aqui. Felizmente é um grupo sólido que conseguiu segurar esse impacto, para podermos estar hoje aqui conversando e celebrando que vamos abrir portas.

Estamos num contexto de guerra em plena Europa. O Rock in Rio é um festival como slogan “Por um Mundo Melhor, em termos ambientais, mas não só. De que forma irão marcar essa ideia de lutar por um mundo melhor?

Acho que se vai sentir como nunca. A gente trabalha ativamente o tema do mundo melhor há 22 anos. A coisa boa é que nunca houve um espaço de escuta tão grande. Lembro em 2018, na última edição do Rock in Rio aqui em Lisboa, essas perguntas não se colocavam. As perguntas sobre sustentabilidade, nas entrevistas, nunca apareciam. Era a gente tentando falar sobre isso. E isso, é sinal de que existe um espaço de escuta. Existe interesse.

O tema ganhou relevância, não só para os cidadãos, mas para as empresas, para os governos, e isso é muito bom. Sem esse momento, e esse espaço de escuta a gente não conseguiria fazer as maiores mudanças que a sociedade precisa.

De que forma isso se vai traduzir no Rock in Rio Lisboa deste ano?

Vai-se sentir muito pelos palcos que vão ter conversas relevantes. Vai-se perceber que cada vez mais é visível o tema dos cuidados ambientais, desde os resíduos, a tudo e mais uma coisa.

Em relação à paz, a gente vai fazer um momento simbólico, no primeiro dia, com a Simone de Oliveira. Vamos convocar o público a fazer um minuto de silêncio pela paz, para mandar uma energia boa para o mundo, para a gente mostrar a força da música e, acima de tudo, reforçar que, num futuro melhor, a paz depende de nós próprios. Não depende de ninguém que está fora da gente, e as mudanças de atitude, de escolha, têm de começar em cada um de nós.

Que outras novidades, pode destacar para a edição deste ano para quem ainda não comprou bilhete?

Eu acho que vale a pena! Sou suspeita! Acho que é para quem quiser recarregar as energias, ganhar um "shot" de alegria. Independentemente de a gente ter que lidar com todas as dificuldades da vida, e do mundo, a gente precisa ter alegria e esperança. Sem esperança, a gente não consegue acreditar na mudança que a gente quer ver no mundo.

Vão ser dias de muita brincadeira. A gente aproveitou aqui o segundo adiamento para repensar todas as ativações e as atrações. É muito interativo, muita brincadeira. Estou muito feliz, porque a gente tem um pouquinho de Portugal aqui dentro, um pouquinho de tudo.

Tem os grandes nomes da área de game, do entretenimento digital, dos podcasts, do humor, da música. Grandes concertos internacionais, grandes concertos nacionais! Os chefes, a gente tem um grande ‘line-up’ de chefes para trazer a conversa de alimentação sustentável, para mostrar que é possível fazer de uma forma diferente, priorizando o que é do nosso país.

Tem tanta coisa bacana que acho que vão ser dias muito felizes. É o que eu desejo e, de facto, o que a gente preparou até hoje. Faz com que vá uma alegria que contagia um país, que a gente inaugure um verão otimista, que a gente recarregue as energias, com consciência de que a gente tem muito trabalho para fazer pelo nosso país ficar bem e para ajudar o mundo a ficar bem.

São já nove edições. Há gerações que cresceram com o Rock in Rio-Lisboa. Este é um festival para continuar por Lisboa?

Sim, sem dúvida nenhuma. Sabe que no outro dia estava numa conversa na Mega Hits e uma parte da equipa tem 22 anos. Eles não conhecem Portugal, sem Rock in Rio! Isso é muito especial. Tem de facto gerações que já vivem o Rock in Rio, como parte da vida do país e da vida deles. É um festival muito transversal.

Cada vez mais a gente vê as pessoas falando, "é o meu primeiro festival", onde vêm as crianças, os adolescentes, é um público muito transversal. Tem o passaporte família, em que vêm até os avós juntos. A gente criou esse passaporte família com Galp pelo preço de dois ingressos. Podem vir 5 pessoas, duas crianças, dois adultos e um sénior. Pode entrar e pode sair, se precisar deixar as crianças em casa.

Tem todo um circuito dentro da Cidade do Rock, para que a experiência das crianças menores também seja uma experiência melhor, em termos de recarga de energia, casas de banho adaptadas, menu infantil nos bares, espaço para eles fazerem maquiagens e cabelos. Está muito bacana! Eu acho que é muito bom sentir que a gente faz parte do país, e que continue assim por muitos anos!

As edições no Brasil, com o atual contexto político, e com a forma como a cultura tem sido afetada, são mais desafiantes de se concretizarem?

Acho que a gente tem tido um histórico muito positivo do Rock in Rio ao longo da sua vida. São 37 anos, no Brasil. Servir de palco para alegria, e para celebração, onde os artistas se empenham em dar o seu melhor, são shows marcantes que fazem a diferença na carreira de qualquer um, e a gente tem visto que por várias situações, em momentos mais agitados da sociedade brasileira, momentos mais calmos, a cidade do Rock sempre foi um espaço de respeito, de harmonia, de celebração.

É isso que a gente tem confiança que vai acontecer, agora em setembro. A expectativa é enorme. Os bilhetes lá esgotam numa velocidade gigante. A marca Rock in Rio tem um papel diferente na vida da sociedade brasileira, que virou marca de uma geração. Acho que vão ser 7 dias lá também muito felizes e com um impacto económico gigantesco na cidade do Rio de Janeiro que é preciso.

A gente tem batalhado muito nessa nossa conversa, como que o entretenimento, a cultura, a música, como elas são ferramentas tão importantes para mobilizar economias que têm o turismo como seu carro de frente, como é o caso do Rio de Janeiro, de Lisboa. Acho que são áreas que precisam ser cuidadas, investidas, trabalhadas com esse olhar de um bem comum.

Tem ideia do impacto do Rock in Rio no turismo em Lisboa?

A gente consegue atrair pessoas. Este ano temos 20.000 ingressos vendidos para fora de Portugal. No Brasil, são 60% das pessoas que vai ao Rio de Janeiro, vai de fora do Rio de Janeiro. Isso significa gastos na cidade, nos restaurantes, nos hotéis, no transporte. Isso significa riqueza para as cidades. Essa riqueza é transformada em escolas, em hospital etc. É importante a gente olhar para a oportunidade que o entretenimento, e cultura, que o turismo trazem para as economias também. Não se trata só de festa, trata-se de festa com muitos benefícios para todo mundo que interage com ela.

São 20.000 bilhetes da edição de Lisboa que foram vendidas fora?

Sim, em 39 países diferentes. Tem um pouquinho de todo mundo, muitos europeus, mas tem também Brasil, Argentina, Estados Unidos e muitos outros países também.

Conselhos práticos para quem vá até o Rock in Rio. O que é que pode levar na mochila, além da boa disposição?

Isso é muito importante, não só na mochila! Já que a gente ficou aqui um tempo sem a experiência dos festivais, acho importante relembrar os horários. A cidade do Rock abre ao meio-dia, e fecha às 02h00. Então é muita coisa bacana para fazer. O ideal é chegar cedo para poder aproveitar e dar conta de toda a programação.

Aqueles que queiram participar e passear na roda gigante, ou andar no slide, quando chegarem aqui façam o seu agendamento na App do festival, para garantir que não precisa ficar na fila e que tem o seu horário reservado. A App do festival tem todos os horários dos concertos. Uma dica que tenho dito, quando há muita coisa boa acontecendo ao mesmo tempo, é montar a sua agenda, botar os seus alarmes para não perder o concerto que quer ver, e não deixar de aproveitar tudo.

Muito importantes são sapatos confortáveis, roupa leve para durante o dia, casaco para durante a noite, porque baixa muito a temperatura. Protetor solar, muito importante, beber bastante água ao longo do dia. Esse ano tem muitos bebedouros espalhados pelo recinto, além do copo reutilizável, tem a possibilidade de quem quiser, tem água mineral, e quem não quiser comprar não precisa. Tem 25 bebedouros espalhados pelo recinto.

Quem quiser trazer o lanche de casa também. O que a gente sugere, o que não entra na Cidade do Rock é qualquer objeto que possa fazer mal, que possa machucar alguém. Então, se quiser trazer uma sanduíche, traga. Evita a maionese, porque com o calor pode estragar, as bebidas alcoólicas não podem entrar, até porque as garrafas não podem entrar com tampa para elas não virarem objeto de arremesso. São cuidados que acho que a maior parte das pessoas já conhece e acolhe bem, para evitar ter que ficar no bengaleiro, deixando objetos que não possam entrar. É vir feliz, para se divertir com o coração aberto. Vão ser dias lindos!

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