Na guerra em Moçambique, Portugal fez dos papéis armas

Na guerra em Moçambique, Portugal fez dos papéis armas

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28 mai, 2016 - 10:00

Objectos do Serviço de Acção Psicológica foram reunidos no livro "A Conquista das Almas - Cartazes e Panfletos da Acção Psicológica na Guerra Colonial”.

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São papéis e são armas de guerra, uma guerra que pôs tropas portuguesas contra os guerrilheiros da Frelimo, no norte de Moçambique. Peças do arquivo do historiador José Pacheco Pereira dão corpo ao novo livro da colecção Ephemera, “A Conquista das Almas - Cartazes e Panfletos da Acção Psicológica na Guerra Colonial”.

Fome, doença e morte. Os três males da Frelimo

O livro junta cartazes e panfletos criados pelo Serviço de Acção Psicológica do exército português, criado em 1965, com o objectivo de levar à deserção os guerrilheiros moçambicanos.

Os homens e as mulheres que “passaram” para o campo do ocupante “fizeram a escolha mais trágica e inglória da sua vida”, lê-se no livro. “Na sua maioria foram executados” na fase de transição para a independência.

"Governo português perdoa mesmo", diz um ex-guerrilheiro da Frelimo. Há uma promessa: quem entregar a arma recebe "matabicho"

"Deixa a Frelimo. Vem viver em paz na tua terra. Apresenta-te às autoridades portuguesas e serás bem tratado"


O Estado Novo aprendeu com as experiências da França na Argélia e da Inglaterra na Malásia. Ambos os países usaram a guerra psicológica como ferramenta.

Em Moçambique, os cartazes e os panfletos (muitos deles com desenhos devido ao grande analfabetismo na então colónia) eram lançados de aviões ou colocados nos trilhos de acesso e nas povoações. Mas Portugal usou também emissões de rádio e propaganda sonora emitida directamente a partir de meios aéreos, apelando aos guerrilheiros para que se rendessem.



Portugal tinha no terreno órgãos responsáveis pela elaboração de Planos de Acção Psicológica, cuja execução era avaliada em relatórios, e pela análise da situação psicológica, da qual resultava uma “Carta de Situação Psicológica” (um mapa com cores que assinalavam as áreas geográficas e os seus alinhamentos psicológicos face ao poder colonial).




Os cartazes e panfletos “contam a história da multiplicidade étnica e linguística desse território” e “ilustram a complexidade psicológica de um conflito de guerrilhas, de um combate pela conquista dos corpos e das ‘almas’”, diz a sinopse do livro, da autoria de Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes, dois militares com conhecimento em primeira mão da guerra e da Acção Psicológica em Moçambique nos últimos anos do poder colonial.





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  • Mário Guimarães
    30 mai, 2016 Lisboa 09:30
    Face à intenção dos Estados Unidos e da União Soviética e outros menores como a França se apoderarem dos Países de expressão portuguesa que queriam que Portugal fizesse ? Hoje todas essas possessões incluindo Portugal estão na mão de interesses estrangeiros com governos fantoches .Os portugueses esses estão preocupados com o futebol e Fátima e o descalabro dura e vai ficar pior desde o 25 de Abril da mentira !

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