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Entrevista ao presidente da Fundação JMJ

D. Américo e os recados do Papa ao clero. "De vez em quando, é preciso um grito de ordem"

06 ago, 2023 - 22:14 • Susana Madureira Martins

Em entrevista à Renascença, D. Américo Aguiar diz que as contas da Jornada Mundial da Juventude "serão exemplares" e diz que, ser for nomeado bispo de Lisboa, fará "o melhor possível".

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D. Américo ao lado do Papa. "Igreja para todos" é o "caminho a fazer"
D. Américo ao lado do Papa. "Igreja para todos" é o "caminho a fazer"

O Papa Francisco lançou recados para todos, incluindo para a Igreja, durante a sua visita a Portugal, admite o presidente da Fundação Jornada Mundial da Juventude (JMJ), D. Américo Aguiar.

Em entrevista à Renascença, o bispo auxiliar de Lisboa, que recentemente foi nomeado cardeal, considera que, de vez em quando, é preciso um “grito de ordem” para dentro, para que a Igreja acolha todos e que “todos remem para o mesmo lado”.

“O Papa foi claro. Tentemos pegar nos discursos do Papa e descobrir qual foi a palavra que o Papa mais usou. Eu arriscaria que foi ‘todos, todos, todos’. Vamos ver se foi ou não”, refere D. Américo Aguiar.

Incluindo os da Igreja? “Todos, para todos. O Papa não vem dar recados a terceiros”, responde o prelado.

D. Américo Aguiar admite, ainda, que é preciso desinstalar a Igreja e que se faz sempre menos do que se devia como, por exemplo, ouvir mais.

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"De vez em quando, é preciso um grito de ordem"

“Nós fazemos sempre menos do que aquilo que devemos fazer. Pelo menos eu tenho consciência disso. Acho que todos os dias devia fazer mais, melhor, ouvir mais, ser mais sinodal. Posso ser muito diferente para melhor todos os dias. Eu ouso dizer que todos podem e devem fazer o mesmo”, apela.

“O Papa fala-nos há dez anos de uma Igreja em saída, de uma Igreja hospital de campanha e de um Igreja para todos. Dez anos é pouquinho comparado com dois mil, mas é um caminho que temos que fazer”, sustenta.

No recente encontro com o clero, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, o Papa Francisco alertou para o "clericalismo que arruína" e pediu uma "Igreja aberta a todos", uma ideia que repetiu no dia seguinte num encontro com 800 mil jovens no Parque Eduardo VII.

"Farei o melhor possível" se for escolhido para bispo de Lisboa

Nesta entrevista à Renascença, D. Américo Aguiar deixa ainda a porta aberta para ser o próximo bispo de Lisboa, após a saída de D. Manuel Clemente, em setembro deste ano.

“Quando uma diocese vive uma situação de substituição do seu bispo, o que nós pedimos ao povo de Deus é que reze para que Deus envie um pastor. Vamos ver o que é que o coração de Deus vai fazer eco e qual é o pastor que vai providenciar para Lisboa. Se for eu, peço desculpa por ser eu, mas farei o melhor possível. Se não for eu, rezarei pelo meu pastor para que possa corresponder ao desafio que a Igreja lhe propõe”, afirma o atual bispo auxiliar de Lisboa, que foi nomeado cardeal pelo Papa Francisco.

Contas da JMJ "serão exemplares"

D. Américo Aguiar garante ainda que as contas finais da Jornada Mundial da Juventude serão exemplares.

Nestas declarações à Renascença, o presidente da fundação JMJ diz não estar preocupado com eventuais prejuízos do evento que terminou este domingo.

"Eu dou o exemplo das contas da alimentação. Agora, vamos receber as faturas de todos aqueles que serviram refeições aos jovens e vamos ter que as pagar. Fizemos um trabalho de muita preparação, que envolveu muita generosidade de todos e estou convencido que as conta finais também serão exemplares naquilo que será o resultado", sublinha.

104 horas em 104 segundos. Os melhores momentos do Papa na JMJ
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Abusos sexuais. D. Américo quer "tolerância zero" em toda a sociedade

Em relação aos abusos sexuais dentro da Igreja, D. Américo Aguiar lamenta que será sempre uma tragédia e lamenta que a tolerância zero não esteja a funcionar, tendo em conta os números de abusos fora da Igreja que já foram divulgados.

“É uma tragédia para as pessoas que as vivem, para a Igreja e para a sociedade. Peço desculpa de referir, mas, há pouco tempo, a Polícia Judiciária no nosso país revelava os últimos números de um semestre em que tínhamos centenas de casos recentes em Portugal.”

“Isto significa que a tolerância zero não está a acontecer no coração transversal da nossa sociedade. Nem da nossa, nem da europeia, nem do mundo inteiro. Alerto já que não estou a sacudir a água do capote, nem estou a virar o foco da responsabilidade. Estou a dizer que, infelizmente, hoje continua a acontecer e isso não pode acontecer”, defende D. Américo Aguiar.

A entrevista de D. Américo Aguiar à Renascença é transmitida na íntegra esta segunda-feira, a partir das 13h00.

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