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Jornada Mundial da Juventude

Distantes do palco, próximos do Papa. A vigília na fila dos últimos do Parque Tejo

06 ago, 2023 - 00:39 • Fábio Monteiro

Milhares de peregrinos escolheram pernoitar no Parque Tejo e, assim, fundir a experiência da vigília da JMJ com a missa de envio. Uns tiveram oportunidade de estar mais próximos do Papa, outros nem o chegaram a ver sem ser pelos ecrãs – apesar de terem estado no mesmo espaço. “A mensagem é o mais importante, a energia que o Papa passa aos jovens”, diz Gonçalo Hernandez, o peregrino mais distante do palco do Parque Tejo.

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Setor D21, Loures, Parque Tejo. Descalço, sentado em cima do saco-cama, Gonçalo Hernandez olha para o Papa Francisco – num ecrã gigante. O peregrino norte-americano, vindo da Califórnia, e o líder da Igreja Católica estão na mesma vigília, na mesma Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Mas estão separados por mais de dois quilómetros.

De todos os peregrinos presentes no recinto junto ao Tejo, do lado de Loures, Gonçalo é último da fila. Nas suas costas, mais ninguém irá dormir. O setor D23 está vazio, o posto do INEM está sossegado. Tanto que médicos e enfermeiros podem dar-se ao luxo de desfrutar da vigília.

“Nem tinha reparado que era o mais distante até agora, confesso. Não sabia. Quando passámos a ponte, reparei que deixámos de ver o palco. Mas só isso. Só chegámos hoje [sábado] a Lisboa e a nossa prioridade foi vir logo aqui e ouvir o Papa”, diz à Renascença. “Sabia que estávamos distantes, mas não tinha percebido que era o último.”

A distância importa? “Nada”, garante o homem de 48 anos. “A mensagem é o mais importante, a energia que ele passa aos jovens e outros, como eu, menos jovens.”

Com sacos-cama debaixo do braço e mochilas atulhadas de merendas, mais de um milhão de peregrinos optaram, este sábado, por pernoitar no Parque Tejo e, assim, fundir a experiência da vigília da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) com a missa de envio do último dia do evento.

Gonçalo está em Portugal a acompanhar um grupo de 300 jovens peregrinos norte-americanos. Entre eles, está a sua filha de 13 anos – cujo saco-cama, claro, está esticado a poucos metros de distância. “É a primeira vez que ela vai como que acampar, dormir ao relente. Eu também”, conta, enquanto mostra o jantar que trouxe para a vigília: um pacote de atum, uma garrafa de água. “Uma refeição frugal, sim. Mas a nossa verdadeira fome é outra.”

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Pertíssimo de Deus

Despenteado, encostado às grades, Simon Pogoriz reza. O jovem polaco de 19 anos não está preocupado com ecrãs. Ou distâncias. “A experiência vem de dentro de nós, não do que está em volta de nós. A minha experiência é divina. Eu sinto Deus, estou ligado a ele. E mexe com a forma como me sinto aqui, na JMJ”, diz.

No coração, Simon está “muito próximo do Papa. Esta noite não vou dormir, para conseguir estar em comunidade”, explica.

Poucos metros ao lado, está Maria Tairres, de El Salvador. A jovem de 20 anos veio sozinha para Portugal como voluntária para a JMJ. Esta noite, contudo, está no Parque Tejo como peregrina.

Enfiada no saco-cama, com uma manta de renda por cima, faz conversa com algumas peregrinas norte-americanas.

“Sinto-me próxima do Papa pelo meu trabalho voluntário, por estarmos os dois a fazer parte da mesma onda”, garante à Renascença. “Este setor [D21] foi o que me atribuíram. Não faz diferença. A palavra de Deus faz muitos quilómetros.”

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Quase no adeus

Mesmo a dois quilómetros de distância, para todos aqueles que estavam no último setor com peregrinos do Parque Tejo, o ponto alto da vigília, sem dúvida, foram as palavras e as horas passadas com o Papa Francisco. Um diálogo à distância, de sorrisos e acenos. Com muita música. Para alguns, com lágrimas.

“A Igreja está viva, está a mexer-se. E nós estamos presentes. Isso é o mais importante”, diz Gloria Tevez, 56 anos. A norte-americana, de origem salvadorenha, veio de Washington para Lisboa. Conseguiu vislumbrar o Papa? “Pouco. Mas que importa? Vi a minha comunidade, assim como os miúdos, coisa que não consigo em casa.”

Para Sofia Habber, que mora em São Francisco, na Califórnia, e em 2008 esteve na Jornada Mundial da Juventude em Sidney, na Austrália, as expectativas da noite estão altas. “Espero não dormir. Quero aproveitar para sentir que que não sou a única, que não estou sozinha. Quero cantar, dançar”, conta.

Em todo o caso, na cabeça do jovem, o adeus de domingo já começa a ganhar peso. “Após cada peregrinação, regressar a casa é uma luta. Aqui tens apoio, sentes-te encorajada. Voltas para casa, e isso acaba. Sentes que vais voltar à batalha.”

Quando o Papa abandona o palco do Parque Tejo, Gonçalo Hernandez está feliz. E emocionado. O norte-americano está pronto para o “grande dia de amanhã”, para continuar a sua peregrinação pela Europa – pelo menos, até 20 de agosto.

Gonçalo ainda vai a Fátima. E visitar outros pontos de interesse religioso em Espanha, antes de regressar aos Estados Unidos. “Pode estar quase a terminar [JMJ], mas isso não é mau. É importante pensar sempre no presente. Viver Cristo no presente. Na vida, as coisas vêm e vão. Temos de aceitar e aproveitar”, diz.

Os peregrinos estão prontos. Prontos para o raiar do sol, para o dia que se segue. Para o último dia de JMJ. Ao lado ou a quilómetros do Papa Francisco, a mensagem será a mesma.

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