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Jornada Mundial da Juventude

Pós-JMJ será “desafiante” para a Igreja, diz D. João Lavrador

03 jun, 2023 - 21:15 • Teresa Paula Costa

Pastoral da Cultura abordou situação dos jovens com especialistas que consideraram voluntariado uma maneira fundamental de ajudar quem tem problemas psicológicos.

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O presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais disse neste sábado que o período pós Jornada Mundial da Juventude será “desafiantepara a Igreja portuguesa.

”Sentimos que as pós-jornadas se afiguram ‘desafiantes’ para todos os que pretendem introduzir nos dinamismos dos grupos, movimentos ou setores socioculturais onde os jovens marcam presença, com a finalidade da transformação cultural que todos desejamos os valores essenciais para a vida da pessoa humana, para o seu desenvolvimento e para a humanidade e o seu futuro”, admitiu D. João Lavrador na abertura da Jornada Nacional da Pastoral da Cultura que decorreu em Fátima.

Para o bispo, “temos aqui um desafio sobretudo à Igreja porque ainda não conseguimos colocar verdadeiramente a tónica do protagonismo dos jovens”.

Considerando que “ainda fazemos coisas para os jovens e não fazemos as coisas a partir do protagonismo dos próprios jovens”, D. João Lavrador reconheceu que esta “é uma aprendizagem que temos de fazer e penso que temos de nos desarmar dentro dos nossos esquemas pastorais para que sejam eles a avançar nesse sentido”.

Pandemia arrastou jovens para a solidão

Com o tema “Culturas juvenis, questões adultas”, a Jornada Nacional da Pastoral da Cultura reuniu em Fátima vários especialistas das áreas do ensino, sociologia e psicologia.

A psicóloga Rita Moreira revelou que o que mais preocupa, atualmente, os psicólogos é a dificuldade que os jovens enfrentam na construção da sua identidade.


Com a pandemia, as crianças e os jovens começaram a passar muito tempo ligados à internet, o que lhes permitiu o acesso a todo o tipo de informação. Por outro lado, vive-se muito estabelecendo relações de comparação com os outros, o que dificulta o processo de construção da identidade do jovem e, nalguns casos, até o desfragmenta. A situação origina conflitos com o corpo e um sentimento forte de solidão, o que tem levado, cada vez mais, ao suicídio, sendo esta já a maior causa de morte nos jovens em Portugal.

JMJ pode ajudar jovens com problemas

Segundo a psicóloga, os jovens têm “a necessidade de uma espiritualidade mais presente e com mais prática, em grupo”.

“Há certos miúdos que eu acompanho em consulta que andam no Youtube à procura e sem grande orientação, de qualquer discurso espiritual a que se possam juntar”, afirmou em declarações à Renascença.

Rita Moreira defende que a realização da Jornada Mundial da Juventude será bastante positiva para os jovens portugueses que vivem estes problemas.


O impacto “parece-me muito positivo pela fé, por uma esperança, por valores de entreajuda, poderá dar uma coisa que nós não tínhamos recebido”. É que “todos os dias, entram pelas nossas casas conflitos complicadíssimos, desigualdades, falta de tudo, desde as coisas essenciais a guerras” e “umas jornadas realizadas cá em Portugal, por uma coisa boa, crenças positivas de esperança e amor ao próximo, acho que cada pessoa com a sua espiritualidade e religião vê com bons olhos”, concluiu Rita Moreira.

O voluntariado para se “sentir útil”

Mariana Silva tem 24 anos e vai ser voluntária na Jornada mundial da juventude no apoio ao peregrino.

Questionada pela Renascença relativamente às razões da inscrição, respondeu que foi “para me sentir útil”, ajudando o próximo.

A jovem nunca participou em qualquer edição da JMJ e diz esperar sair do evento “mais rica em todos os sentidos e que alguma coisa mude, nomeadamente a fé e a entreajuda”.


Maria Manuel Urbano, professora e voluntária diz que o voluntariado pode ser uma “ajuda fundamental” para todos os jovens, sobretudo os que vivem com problemas de solidão.

“Numa altura em que os jovens estão tão centrados nas redes sociais, o voluntariado traz as vivências que unem as pessoas e que fazem com que, além do sentimento de estarem a fazer coisas que dão sentido à vida, também tenham uma relação entre elas”, afirmou em entrevista à Renascença.

“O voluntariado é uma excelente maneira de dar sentido aos jovens, de os pôr em relação uns com os outros, em terem vivências comuns e tudo isto é o que dá estrutura à pessoa”, acrescentou a professora à margem da Jornada Nacional da Pastoral da Cultura.

Neste momento e até 5 de junho decorre a terceira fase de inscrições de voluntários para a JMJ.

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