D. Delfim Gomes abraça a missão “com total disponibilidade interior e confiança plena”

04 dez, 2022 - 17:35 • Olímpia Mairos

Novo bispo auxiliar de Braga foi ordenado este domingo, na Catedral de Bragança. É apresentado à arquidiocese bracarense na segunda-feira.

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“Estimados amigos, aqui nasci e cresci, convosco pensava prosseguir este caminho, nesta nossa diocese, era o espectável, mas os desígnios do Senhor são insondáveis” – foi assim que D. Delfim Gomes, o novo bispo auxiliar de Braga, se apresentou, no fim da cerimónia de ordenação, que decorreu este domingo, na Catedral de Bragança.

O novo bispo sinalizou que Deus “suscita, provoca e desinstala para refazer e criar” e que, “perante esta inquietação que toca e comove pela proximidade do Mistério”, a resposta só pode ser uma: “de braços abertos para agradecer e louvar, de coração cheio para O servir e testemunhar”.

“O Senhor deu-me esta missão, esta cruz. Agora, espero que me ajude a levá-la com a colaboração e apoio de todos vós”, disse.

D. Delfim Gomes lembrou o lema da sua ordenação presbiteral - “De boa vontade darei o que é meu e dar-me-ei a mim mesmo pelas vossas almas” - para fazer o paralelo com o lema episcopal “É dando que se recebe”, prometendo continuar a viver em atitude de oferta.

“O verbo dar, tem-me acompanhado ao longo da vida. Dei-me, continuarei a dar-me, porque ‘é dando que se recebe’”, afirmou.

O novo bispo aludiu ainda à simbologia das suas insígnias episcopais, assegurando que jamais se esquecerá da terra natal.

“O ramo de oliveira, plasmado em todas as insígnias, recordar-me-á de onde sou, a terra que me viu nascer, crescer, me nutriu e me mimou”, disse.

“Serviço vigilante e atento a todos”

Para o novo bispo auxiliar de Braga, o ministério do bispo “realiza-se em entrega crucificada”, mas também “no anúncio da Palavra de Deus, como necessidade vital, na fidelidade à Igreja, como promessa e união, no convite à santidade, como programa de vida, e na missão de pastor em nome de Deus, como serviço vigilante e atento a todos”.

Quase a terminar, D. Delfim Gomes pediu a todos que sejam testemunhas credíveis de Jesus Cristo e que não tenham medo de dar testemunho no concreto da vida.

“Não tenhamos medo, sejamos transparência do Evangelho de Jesus, testemunhas credíveis e audíveis do seu amor. Não estamos sós. Como nos diz o belo cântico do Cón. Ferreira dos Santos: ‘Porque Ele está connosco, tal como na manhã de Páscoa. Não faltemos ao banquete, ...busquemo-lo na vida sempre oculto...”, pediu.

“Proponho-me abraçar a missão que me é confiada, com total disponibilidade interior e confiança plena, não em mim que nada sou, mas na graça divina que tudo pode”, concluiu.

Ainda antes das breves palavras no fim da missa, D. Delfim Gomes percorreu a Catedral de Bragança, enquanto o coro cantava, saudando e abençoando os milhares de fiéis que participaram na celebração.

“Quem preside não se senta num trono nem retira a centralidade do altar”

D. Delfim Gomes foi nomeado pelo Papa Francisco no dia 7 de outubro, para bispo titular de Dume e auxiliar da Arquidiocese de Braga. A ordenação episcopal decorreu este domingo e foi presidida por D. José Cordeiro, arcebispo de Braga e Primaz das Espanhas, que na homilia evocou o exercício da sinodalidade, “caminho de escuta para a comunhão, participação e missão na vida eclesial”, como caminho de “proximidade na reciprocidade e na circularidade dinâmica entre os pastores, e entre os fiéis e os pastores”.

“Confiado à Palavra”, o arcebispo de Braga recordou que “o bispo é, sobretudo, um servidor do Evangelho da Esperança, pela palavra, pelo testemunho de vida, pelos sacramentos, pelo governo pastoral”.

Já sobre o múnus episcopal, D. José Cordeiro atenta que “quem preside não se senta num trono nem retira a centralidade do altar”, mas “conduz Povo de Deus” como um “serviço”, servindo “sem se servir”, com “pureza de intenção”, “conversação santa e irrepreensível” e “humildade interior e sincera”, como aconselha o santo arcebispo Bartolomeu dos Mártires.

“Antes de ser um fazedor de ordens”, alerta o prelado, o bispo “deve ser um fazedor de comunhão”, numa “entrega total” à Igreja, em “diálogo com o presente”, “com criatividade e profecia”.

Traçando, por fim, o perfil do bispo, D. José Cordeiro citou a síntese do serviço episcopal apresentada pelo cardeal Carlo Maria Martini, arcebispo emérito de Milão, em 2011: “integridade”, “lealdade”, “paciência”, “misericórdia”, “boa educação”, “ternura no trato”, “firmeza paterna”, “amor pela beleza”, “saber rir de si e das próprias fragilidades” e, por fim, “pôr-se em discussão e reconhecer os próprios erros”.

D. Delfim Gomes é o primeiro bispo nascido na cidade brigantina

Foram bispos co-ordenantes o cardeal patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente e o cardeal D. António Marto, bispo emérito de Leiria-Fátima. Na celebração marcaram também presença o núncio apostólico da Santa Sé em Portugal, D. Ivo Scapolo, vários arcebispos e bispos de Portugal e Espanha, e vários sacerdotes.

Os cânticos, que foram entoados por elementos de vários coros da diocese, foram escritos especialmente para esta ordenação pelos padres Sobrinho Alves e Joaquim Leite, com arranjos orquestrais do padre José Joaquim Ribeiro.

Na admonição inicial, o administrador diocesano, monsenhor Adelino Paes, referiu-se ao acontecimento como “memorável” e deu graças, felicitando D. Delfim pela “plenitude do sacramento da Ordem” e “Cume do Ministério Sagrado”, agora no episcopado, “dando-se a si mesmo para que seja continuada a obra da Salvação”.

Do presbitério da diocese transmontana, nas últimas décadas, chegaram ao episcopado: D. Manuel António Pires (bispo de Silva Porto), D. José Cordeiro (arcebispo metropolita de Braga e que foi bispo de Bragança-Miranda) e agora D. Delfim Gomes. D. Manuel Quintas, atual bispo da Diocese do Algarve também é da Diocese de Bragança-Miranda, mas pertence à Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos).

Na história da Diocese, fundada em 1545, D. Delfim Gomes é o primeiro bispo nascido e batizado na cidade brigantina, na Paróquia de Santa Maria. Foi também nesta cidade que foi ordenado sacerdote, no dia 3 de setembro de 1989. A escolha do Papa Francisco leva-o agora de Trás-os-Montes para o Minho.

A Diocese de Bragança-Miranda, atualmente em sede vacante, está estruturada em quatro arciprestados, 18 unidades pastorais, mais de 320 paróquias e mais de 600 comunidades. Conta com 74 padres, mas apenas com 56 no ativo, e 13 diáconos permanentes.

O novo bispo auxiliar de Braga será apresentado à arquidiocese, amanhã, dia 5 de dezembro, Festa de São Geraldo, às 17h30, na Sé.

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