26 ago, 2022 - 08:00 • Aura Miguel
O Papa convocou para este sábado os cardeais do mundo inteiro para um Consistório, com algumas novidades. O objectivo principal é reforçar o Colégio dos cardeais eleitores, como sempre acontece quando há novas nomeações.
Desta vez, o número dos novos cardeais não ultrapassa os 20, mas destes apenas 16 terão direito a voto porque os restantes quatro têm mais de 80 anos (inicialmente eram cinco, mas o arcebispo emérito de Gent pediu escusa por questões relacionadas com abusos na sua diocese).
Na lista dos purpurados com direito a voto, há quatro de língua portuguesa: D. Filipe Neri António Sebastião do Rosário Ferrão, arcebispo de Goa e Damão; D. Virgilio do Carmo da Silva, arcebispo de Dili, e dois brasileiros - D. Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus e D. Paulo Cezar Costa, arcebispo de Brasília.
Goa, Damão e a capital de Timor-leste têm grandes motivos para festejar. Pela primeira vez na história da Igreja há um cardeal timorense (a delegação oficial que assiste à celebração conta com a presença de Xanana Gusmão); e é também a primeira vez que um arcebispo goês de uma das dioceses mais antigas do Oriente, com quase 500 anos, com os títulos honorários de Primaz das índias e Patriarca do Oriente, recebe o barrete cardinalício.
Estas nomeações revelam a sensibilidade do Papa pela evangelização “no terreno”, sobretudo nas periferias e pequenas comunidades minoritárias. A prova disso é que, além dos três purpurados que exercem cargos na Cúria romana (o inglês Arthur Roche, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos; o sul-coreano Lazzaro You Heung sik, Prefeito da Congregação para o Clero; e o espanhol Fernando Vérgez Alzaga, governador do Estado do Vaticano), todos os outros novos cardeais são diocesanos e apenas dois são europeus: o arcebispo de Marselha (Mons. Jean-Marc Aveline) e o bispo de Como (Mons. Oscar Cantoni).
A maioria dos nomeados vem da Ásia: aos de Goa e de Dili, juntam-se os bispos de Hyderabad (Índia) de Ulaanbaatar (Mongolia) e Singapura. Do continente americano, além das duas dioceses brasileiras de Manaus e Brasília, há os purpurados das dioceses de Asunción no Paraguai, San Diego nos Estados Unidos. Na lista dos eleitores há também dois bispos africanos, um da Nigéria e o outro do Ghana.
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Com o Consistório deste sábado, 27 de agosto, o Colégio cardinalício passa a integrar um total de 227 cardeais, dos quais 132 são eleitores e 95 não-eleitores. Dos 132 cardeais eleitores, 83 (cerca de 68%) foram escolhidos pelo Papa Francisco, 38 pelo Papa Bento XVI e apenas 11 por João Paulo II.
Outra novidade é a reunião de dois dias convocada pelo Papa para o início deste semana (segunda e terça-feira, 29 e 30 de agosto). Os cardeais do mundo inteiro vão “refletir sobre a nova Constituição Apostólica “Praedicate Evangelium”, dedicada à reforma da Cúria romana. Será também uma ocasião privilegiada para os purpurados se conhecerem mutuamente e poderem trocar ideias.
No meio destes encontros cardinalícios, Francisco faz uma pausa para visitar, no domingo 28, a cidade de L’Aquila e celebrar missa na catedral onde está sepultado o Papa Celestino V que resignou em 1294, local também visitado por Bento XVI, quatro anos antes de resignar. A ocasião escolhida levantou várias especulações sobre uma eventual resignação do actual Papa, entretanto desmentida pelo próprio em posteriores entrevistas. Vários analistas, no entanto, consideram que no encontro de dois dias com os cardeais será debatido o futuro estatuto do Papa emérito.
Nestes encontros participam os três cardeais-eleitores portugueses, D. Manuel Clemente, D. António Marto e D. José Tolentino (há ainda dois eméritos, D. José Saraiva Martins e D. Manuel Monteiro de Castro).
Novidade desta semana foi também o telefonema que o Papa fez ao Cardeal Angelo Becciu. Depois de o suspender dos seus direitos cardinalícios em 24 de setembro de 2020, Francisco convidou-o agora a participar no Consistório.
Segundo o próprio Becciu revelou à imprensa italiana, o Santo Padre ter-lhe-á dito: ”Sou o Francisco. Você tem todo o direito de participar no Consistório. Também a si se deve aplicar o princípio da presunção de inocência. Lá o espero.”