Mosteiro de Palaçoulo. “Vir aqui é estar próximo de uma fonte límpida de esperança”

26 mai, 2022 - 08:00 • Olímpia Mairos

O prazo para a conclusão do mosteiro trapista, em Palaçoulo, orçado em seis milhões de euros, está previsto para agosto de 2023, no contexto da Jornada Mundial da Juventude. A Conferência Episcopal Portuguesa acompanha e colabora na construção deste mosteiro que está ao serviço de toda a Igreja e não apenas de Bragança-Miranda.

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Foto: Olímpia Mairos/RR
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É mais um passo na construção da “aldeia para Deus”, no Planalto Mirandês. À partida, pode soar a algo estranho, mas é assim que as monjas trapistas descrevem o projeto que estão a edificar no lugar do Alacão, em Palaçoulo, no concelho de Miranda.

É ali, no alto do monte, onde só se escuta o silêncio, agora interrompido pelo barulho das obras, que está a erguer-se o primeiro mosteiro trapista em Portugal, com capacidade para 40 monjas.

A colocação e bênção da primeira pedra da igreja abacial, pelo arcebispo de Braga, é apenas mais um marco, um sinal de que o “sonho de Deus” se está a tornar uma realidade.

No dizer da irmã Giusy Maffini, superiora da comunidade, é “mais um passo nesta construção. É mais um passo de pertença, um passo de fé e um passo de alegria, porque é uma forma de responder a Deus, ainda mais convencidas do que estamos a fazer”.

A pedra colocada sob o altar da futura igreja abacial veio de Vitorchiano, Itália. No seu interior foi escavado um pequeno buraco, onde foi colocado um pequeno pergaminho assinado pelas 80 monjas fundadoras.

“No sentido de que é o coração do mosteiro. A própria planta do mosteiro está a representar Cristo, que é o cerne da vida, do tempo e do espaço. A Ele nós entregamos tudo”, conta à Renascença.

O prazo para a conclusão do mosteiro, orçado em seis milhões de euros, está previsto para agosto de 2023. E a irmã Giusy diz que tudo vão fazer para que “este sonho se conclua aí, para começar o sonho verdadeiro que é aquele de acolher muita vida e dar vida a muita gente”.

O sonho contempla também o acolhimento de jovens que irão participar na JMJ de Lisboa. E se, por algum motivo, a obra não estiver concluída a tempo, as monjas propõem-se “disponibilizar, numa forma diferente, espaço para esta jornada e para dar um sinal também que a Igreja é viva”.

Até que o mosteiro se conclua, as dez monjas trapistas, todas elas italianas, que têm o “Ora et Labora” de São Bento como regra da sua vida, vivem na hospedaria, um espaço que, depois, ficará apenas para as pessoas que querem contactar com a vida monástica.

A hospedaria foi projetada para acolher um máximo de 40 pessoas e está equipada com quartos que se prestam à hospitalidade de grupos e famílias (sala de reuniões, sala de leitura, refeitório, capela).

D. José Cordeiro. O bispo fundador

A edificação de um mosteiro trapista em Portugal conta-se em poucas palavras e surge no contexto do centenário das aparições de Fátima.

O mosteiro de Vitorchiano (Itália) pensou fundar um mosteiro em Portugal. E queria também um sinal. E esse sinal era que um bispo fizesse a proposta. E ao ter conhecimento disto, através dos beneditinos, sendo a diocese de Bragança-Miranda dedicada a S. Bento e com um passado também de um mosteiro, neste território, D. José Cordeiro fez a proposta. E depois de muitos e difíceis encontros - como contou na altura à Renascença - foi possível encontrar o lugar que as monjas trapistas escolheram para a implementação do mosteiro trapista, da ordem cisterciense da estrita observância e no seguimento do espírito de S. Bento.

O atual arcebispo de Braga que presidiu à colocação e bênção da primeira pedra não escondeu, por isso, a sua alegria e felicidade.

“É a continuação do sonho de Deus que começou em 2016. Esta é uma história cujo protagonista é Deus, por ação do seu espírito, que suscitou no coração destas mulheres a sua consagração na Igreja e para o melhor bem de todos aqueles que procuram a verdade, a bondade, a beleza. E tivemos a graça de sermos nós a acolher aqui, no território de Bragança-Miranda, e de modo especial, aqui, em Palaçoulo, esta bênção de Deus e também podermos ver, tocar, acompanhar estes caminhos dos sonhos de Deus”, disse em declarações à Renascença.

Surpreendido ao ser apelidado pelas monjas como o bispo fundador do mosteiro, D. José Cordeiro mostrou-se “sem palavras”, porque “isto ultrapassa-nos”.

“Deus é maior do que nós e nada disso foi feito para que tal acontecesse. Simplesmente fui um servidor, um facilitador da realização do sonho de Deus. E continua a ser maior do que nós, porque aqui toca-se a beleza, a seriedade e a vitalidade da liturgia na vida da Igreja, como o seu coração pulsante”, observa.

O atual arcebispo de Braga sempre disse que o mosteiro, que nascia na igreja de Bragança-Miranda, era de toda a Igreja. Como expressão da universalidade da Igreja e da universalidade também deste Mosteiro Trapista de Santa Maria Mãe da Igreja, marcaram presença na cerimónia de bênção da primeira pedra os bispos da Província Eclesiástica de Braga.

“Um oásis de paz”

D. José Cordeiro aproveitou para assinalar que “é com imensa alegria, com profunda emoção e gratidão” que participam deste momento “tão belo, tão significativo neste oásis de paz. Vir aqui é como se aproximar de uma fonte límpida de esperança”.

“Deus orienta assim as coisas e a realidade e a nossa presença, hoje, quer significar o acolhimento da Igreja presente em Portugal; a Conferência Episcopal Portuguesa também acompanha e colabora na construção deste mosteiro, porque ele está ao serviço de toda a Igreja, não apenas de Bragança-Miranda, mas de todos quantos o procuram nesta sede infinita de Deus”, acrescenta.

Lembrando que o mosteiro é construído para 40 monjas, o arcebispo de Braga acredita que “a felicidade do testemunho destas irmãs contagiará outras jovens portuguesas e não só” à vida monástica.

“E esta coincidência da conclusão das obras em agosto 2023, no contexto da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023, que seja também, ainda mais, essa marca de esperança, de graça para todos nós”, conclui.

Uma prece especial

“Este é um dia muito feliz. É um passo muito importante e agora prepara-nos para uma alegria maior que será, de facto, a inauguração”, diz o padre António Pires, pároco de Palaçoulo, Unidade Pastoral da Santíssima Trindade, referindo-se à bênção da primeira pedra da igreja do mosteiro, assinalando que “a igreja abacial é integrante no edifício onde as irmãs vão viver, vão rezar e vão trabalhar”.

O sacerdote destaca “a presença tão significativa do episcopado da província eclesiástica, que é maior a nível do país”, observando que se está a dar “continuidade àquilo que já começou praticamente há seis anos” com “passos sólidos, consistentes”.

Recordando que o mosteiro terá capacidade para 40 monjas é desejo também do sacerdote que a celebração da bênção da primeira pedra “suscite vocações femininas à vida monástica e, em particular, trapistas”.

“É uma preocupação que eu tenho há já algum tempo. Mas guardei para hoje este pedido, na intimidade, para que Deus desperte vocações no coração das raparigas portuguesas, para que surjam monjas trapistas portuguesas”, segreda.

A “Casa de Nazaré” em terras mirandesas

Para Pedro Salinas Calado, arquiteto coordenador da equipa projetista, a primeira pedra “é um anseio de todos”. “Mas sabemos, de qualquer maneira, que é sempre um passo. Não é o fim, é só um passo”.

“Eu arriscava-me a dizer que é o pontapé de saída, porque há muito, muito mais que fazer; e depois de estar construído, ainda há muito mais para fazer, que é a ordem crescer e ter vocações e ser sinal de vida e de dedicação a Cristo”, acrescenta.

O arquiteto confidencia que o mosteiro pretende assemelhar-se à Casa de Nazaré, onde Jesus viveu com os pais.

“Foi uma sugestão das irmãs. Foi uma imagem que nos deram, quando estávamos em fase de conceção do mosteiro. Trabalhamos várias imagens, imagens no sentido conceptual do termo, quero eu dizer, até que, às tantas, elas falaram-nos do mosteiro como a casa de Nazaré. Isso foi motivo de reflexão e meditação sobre o tema. E, portanto, este mosteiro, o projeto que aqui aparece tem a ver com isso”, revela.

A construção do empreendimento continua a ser um grande desafio na carreira do arquiteto Pedro Salinas Calado.

“Sim, sim. Até ao último dia, em termos de trabalho, de projeto e de acompanhamento de obra, continua a ser. É certo que a parte mais empenhativa, ou seja, de maior intensidade de trabalho passou, agora é uma questão de acompanhamento da obra. Mas nos detalhes, um projeto pode-se perder. Até ao dia em que ele foi inaugurado, eu espero aqui estar para o acompanhar”, diz à Renascença.

“Stou chena de proua”

Movida pela emoção, a presidente da Câmara Municipal de Miranda do Douro precisou de palavras em mirandês para expressar sentimentos.

“Stou chena de proua”, disse, numa expressão que pode ser lida como “estou vaidosa” ou “estou orgulhosa”, mas que é muito mais aglutinadora.

“A proua é um termo nosso, que significa tanto, que vai para além daquele significado do gosto, do prazer, por isso é que é aglutinador de todos esses significados. É uma palavra que descreve aquilo que não conseguimos descrever. É emoção, é emoção mirandesa, revista numa só palavra e é muito bonita”, explica Helena Barril.

A autarca descreve as irmãs como “pessoas extraordinárias, extremamente humildes, generosas e agradecidas e pessoas felizes que transmitem todos estes valores, em cada contacto”.

E destaca a “importância enorme do projeto” que “vai trazer um valor acrescentado para o território de Miranda e vai tornar-se num polo de atração a nível do turismo religioso”.

“Já é com o pequeno empreendimento que está aqui construído, já é um polo de reflexão do próprio turismo, religião. Portanto, quando vemos a dimensão desta obra, só podemos acreditar que este mosteiro será uma obra verdadeiramente diferenciadora para o Planalto Mirandês”, conclui.

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