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Sé de Vila Real estreia “Missa Solene Salve Regina”

29 abr, 2022 - 07:00 • Olímpia Mairos

A obra de música sacra vai ser executada pelo Ensemble da Sé que se apresenta ao público pela primeira vez. O concerto, marcado para sábado, às 21h00, assinala os 100 anos da criação da diocese.

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Chama-se “Missa Solene Salve Regina” e vai ser apresentada pela primeira vez ao público, na Sé de Vila Real. A obra foi encomendada para a celebração do centenário da criação da diocese, foi composta por Daniel Sousa e vai ser executada pelo Ensemble da Sé que se estreia também nesse dia.

“Surge como um tributo deste povo a Nossa Senhora, que, ao longo dos tempos, a reconhece como verdadeira protetora e intercessora diante de Deus”, conta à Renascença o diretor do Secretariado Diocesano de Liturgia e Música Sacra.

Segundo o padre Hélder Libório, a obra vai beber a “toda a tradição litúrgica e musical da Igreja, assente nos pilares mais nobres da música sacra, pretendendo assinalar não só esta data histórica, como ser também um contributo para o enriquecimento do património artístico-musical da região transmontana”.

O sacerdote recorda que “o canto é uma expressão visível e nobre com que o povo peregrino louva a Deus” e que “as composições musicais, que ao longo da história da Igreja foram surgindo, são, sem dúvida alguma, manifestações de uma profunda simbiose entre Deus e o homem”.

Obra de grande magnitude com “andamentos difíceis”

A “Missa Solene Salve Regina” foi escrita por Daniel Sousa e constituiu-se com um grande desafio para o músico de 27 anos e diretor musical numa paróquia na Póvoa de Varzim.

“Nunca tinha feito uma obra desta magnitude. São 45 minutos de música e a nível coral tem alguns andamentos difíceis”, conta à Renascença o compositor da peça que se divide em seis andamentos: Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus, Benedictus e Agnus Dei.


Foi do amor pela música, da amizade do compositor da “Missa Solene” e do diretor do Ensemble da Sé, mas também da vontade do Secretariado da Liturgia em marcar o centenário, que brotou a obra de música sacra.

“Eu conhecia o Frederico, o diretor musical deste concerto. Fomos colegas numa escola da Diocese no Porto, fizemos um curso de música sacra, a amizade ficou daí, e assim nasceu a encomenda desta obra pelo secretariado da liturgia”, explica.

Daniel Sousa adianta que a “Missa Solene” abre com “o Kyrie, numa sonoridade semelhante à do compositor Francês Louis Vierne; depois tem umas partes muito mais meditativas, em que a melhor forma de as escutar será de olhos fechados, a imaginar algo transcendente; e depois terá alguns momentos bastante fortes, tendo em conta o grande órgão da Sé que vai fazer vibrar algumas pessoas. Também o coro tem momentos muito recolhidos, muito contidos e explosivos”.

A um dia da estreia da obra, inspirada no Salve Regina Gregoriano no Tom Solene, o compositor assume “algum nervosismo” até porque, além de ter escrito a peça musical, vai tocar órgão e fazer parte do grupo do concerto.

Ensemble da Sé apresenta-se ao público pela primeira vez

“É um sentimento de dupla responsabilidade. Estamos a estrear uma obra encomendada para o centenário, que tem bastante peso pela sua simbologia, e a estrear o ensemble que queremos que marque e nos dê força para continuar”, diz o diretor musical à Renascença.

O Ensemble da Sé teve a sua génese no dia 8 de dezembro de 2021, pelas mãos do Frederico Ferreira que sempre teve a vontade de reunir um conjunto de pessoas que partilhasse um amor comum pela música sacra. A formação base é de oito elementos, entre os 20 e os 50 anos, mas a geometria adapta-se às necessidades das obras apresentadas.

“Nós já nos conhecíamos uns aos outros de diversos projetos em que trabalhamos e surgiu a vontade de nos constituirmos como um grupo próprio, para dar à Sé um grupo de profissionais a nível do canto, para fazermos outras obras que não apenas o canto na liturgia”, destaca Frederico Ferreira.

Para o enfermeiro de 28 anos que, por vezes, é obrigado a fazer uma grande ginástica para conciliar o trabalho com os ensaios, o projeto está a ser bastante desafiador.

“O compositor da obra é contemporâneo e temos a sua ajuda para a construção, montagem do concerto e está a ser muito interessante, porque há um espírito de entrega, de companheirismo e de entreajuda muito grande”, assinala.

Alexandra Amaral é uma das coralistas do Ensemble da Sé e conta à Renascença que, para o concerto, “as expetativas são as maiores e as melhores”. Coralista há muitos anos, destaca a beleza do projeto e a importância da obra.

“É uma obra lindíssima, tem tudo para funcionar bem. Esperamos ter uma grande adesão e que as pessoas gostem tanto como nós gostamos de fazer esta obra”, diz.

Alexandra Amaral nota que, embora seja uma peça sacra, o importante é que as pessoas entendam que a música, sendo sacra ou não, é uma forma de arte e cultura.

“Não queremos que as pessoas entendam isto como sendo uma coisa da Igreja - é de facto, mas é cultura; e o concerto está aberto à comunidade, porque as pessoas também são a diocese”, sublinha, realçando que a “música é uma das formas de arte mais sublimes, é arte no seu esplendor”.

Daí o desejo de que o público veja e sinta a peça “como uma peça bonita” e se “sinta bem ao escutá-la”.

Duas grandes estreias num só dia

O concerto está marcado para as 21 horas de sábado, na Sé de Vila Real. A entrada é gratuita e vai estar disponível um ecrã e um sistema de som no exterior do templo.

No entender do diretor musical do Ensemble da Sé, o local não podia ser outro, porque se trata daIgreja-mãe da diocese, a sede do bispo e a sede do ensemble”.

Admite um certo nervosismo, que diz “acontece com todos”. “Acontece comigo, porque estou a dirigir a obra; e acontece certamente com cada elemento do ensemble, porque é a estreia e todos queremos que corra bem”, observa, por entre sorrisos.

Quem não encobre “o agrado e a muita alegria” pela estreia da missa solene e do ensemble é o diretor do Secretariado Diocesano de Liturgia e Música Sacra.

Trata-se de um marco importante na vida da diocese e, segundo o padre Hélder Libório, significa que “a caminhada diocesana, a nível a liturgia começa também a dar alguns passos”.

“É o caminhar de várias pessoas que se juntam, que dão, todos os dias, um pouco do seu trabalho, já com alguma formação musical, para dotar a nossa Igreja diocesana de uma outra beleza, através da música”, especifica.

O sacerdote destaca ainda que “toda a ação litúrgica tem sinais e sinais que nos ajudam a rezar e a transportar a nossa vida para Deus. E a música tem aqui um papel fundamental, ao ajudar-nos a elevar o nosso coração para Deus”.

“Quando nós sentimos que a música nos ajuda a construir, ou melhor, nos ajuda a louvar a Deus, é algo de sublime. Não nos esqueçamos que um dos grandes transcendentes da nossa vida é a beleza e a beleza em tudo, seja nos gestos, seja na música. Ou seja, a beleza é aquilo que nos ajuda a encontrar a Deus”, conclui.

Em festa até ao dia da Padroeira

O ano jubilar na Diocese de Vila Real arrancou a 8 de dezembro, dia da padroeira Imaculada Conceição, e vai prolongar-se até 8 de dezembro de 2022. Estão previstas diversas iniciativas como peregrinações à sé, exposições, colóquios, tertúlias e concertos pela Orquestra do Norte, Coro Câmara D’Ouro e pelo órgão sinfónico da Sé com 2.180 tubos.

Apesar de o programa comemorativo contemplar diversas iniciativas, o elemento mais forte é a componente espiritual, sobretudo tendo em conta que o momento mais simbólico é o da peregrinação.

Cada um dos oito arciprestados (Baixo Tâmega, Centro II, Centro, Douro I, Douro II, Barroso, Alto Tâmega e Terra Quente) tem um mês designado para a realização des peregrinações familiares ou comunitárias à Sé de Vila Real, a igreja-mãe desta diocese.

A Diocese de Vila Real foi criada pelo Papa Pio XI pela Bula ‘Apostolicae Praedecessorum Nostrorum’, de 20 de abril de 1922, com paróquias da Arquidiocese de Braga (166) e das Dioceses de Lamego (71) e de Bragança (19), ficando com os limites do distrito de Vila Real.

De acordo com o bispo da Diocese de Vila Real, ao longo destes anos, a Igreja “criou respostas e iniciativas relativamente a algumas áreas em que era necessário”, dando como exemplo a imprensa, com a criação de jornais regionais, bem como a educação, em que congregações, sacerdotes e leigos criaram escolas e colégios.

No campo da educação, a Igreja desenvolveu um papel muito importante, nomeadamente até à implementação de uma rede de cobertura universal de ensino público nos concelhos do distrito, por volta da década de 80 do século passado.

Também na área social, com a fundação de lares ou creches, é relevante a ação da Igreja que, ao longo dos tempos, tem proporcionado respostas às necessidades da região.

D. António Augusto Azevedo destaca “outro fenómeno que é muito típico desta região, e do interior em geral - no litoral não existe tanto - e que são as fundações, isto é, pessoas que legaram os seus bens para criar instituições de apoio, por exemplo, à infância mais problemática. Embora tendo surgido iniciativas particulares, confiaram isso à Igreja”.

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