Vila Real vai ter dois novos padres

30 jun, 2021 - 12:00 • Olímpia Mairos

Luís Coutinho e Marcelo Rodrigues vão ser ordenados no próximo domingo e querem ser “simples, próximos e disponíveis”.

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Luís Coutinho, 31 anos, natural de Moura Morta, concelho do Peso da Régua, e Marcelo Rodrigues, 29 anos, natural da Suíça, com raízes na freguesia de Carva, concelho de Murça, vão ser ordenados no próximo domingo, por D. António Augusto Azevedo, na Sé de Vila Real.

Luís pensava ser engenheiro e licenciou-se em bioengenharia na UTAD. Marcelo regressou da Suíça e tirou o curso de cozinha e pastelaria. Tudo parecia mais ou menos definido para os dois jovens, até sentirem “algo especial” que os levou a questionarem-se, primeiro, e, depois, ao seminário.

“Comecei a perceber que, de facto, até podia ter boas notas, até podia ser um aluno aplicado, até me conseguia ‘safar’ bem na engenharia, mas que faltava alguma coisa, não era aquilo que me realizava. Então foi surgindo esta possibilidade”, conta Luís Coutinho.

O jovem que passava várias vezes, de autocarro, em frente ao seminário, diz que sempre que ali passava, sentia “qualquer coisa a tocar dentro”, como que uma pergunta a ecoar forte “será que o teu caminho é por aqui? Será que aquilo que procuras não está aqui?”.

Quase a concluir a licenciatura, coloca-se, então, a questão: tirar o mestrado ou enveredar por outro caminho?

“Foi nessa bifurcação dos caminhos que eu decidi, de facto, arriscar e fui falar com o diretor espiritual do seminário e atual vice-reitor. Comecei a frequentar o seminário aos fins de semana e lá estava com os outros jovens seminaristas. E à semana tinha aulas no Liceu de latim e de grego, tendo já em vista a ida para o Porto, para fazer o curso de Teologia”, conta Luís.

A experiência no Seminário de Vila Real respondeu às questões do jovem que, depois, cimentou e aprofundou a vocação ao sacerdócio durante o curso de teologia, no Seminário Maior do Porto.

“Andei cerca de um ano a pensar nisso, sem dizer nada a ninguém”

No coração de Marcelo Rodrigues a questão vocacional surgiu já depois de ter concluído na Escola Profissional de Chaves o curso de cozinha e pastelaria e se encontrar no mercado do trabalho.

“Até os 18/19 anos nunca me passou pela cabeça ser padre. Só que, ao longo da minha vida, sempre estive ligado à Igreja. Desde cedo comecei a acolitar. Em minha casa era impensável passar-se um domingo sem ir à missa, E, se não houvesse missa portuguesa, íamos à missa italiana. Se não houvesse missa em italiano, íamos a missa em alemão, mesmo que a minha mãe não percebesse nada, nem meu pai. Mas a missa ao domingo era certinho”, conta.

No regresso a Portugal, Marcelo encontrou na paróquia um padre muito jovem que o convidou para ser acólito. Mais tarde teve a oportunidade de aprender a tocar órgão e, a partir daí, começou a questionar-se.

“Porque não servir ainda mais a Igreja? Andei cerca de um ano a pensar nisso, sem dizer nada a ninguém. Só que o bichinho não passava. Entretanto decidi avançar e falar com meu pároco e, depois, comecei também a vir ao seminário. Vim, conversei e passei a vir cá uma vez por semana. Não vinha ao fim de semana porque trabalhava. E pronto, lá deixei o trabalho para trás, para entrar no seminário. Comecei a frequentar aqui, em Vila Real, com 20 anos e depois fui para o Porto, com 21”, detalha.

“Houve tempos mais difíceis e tempos mais fáceis”

Os tempos de seminário foram para os dois jovens tempos de crescimento e amadurecimento, de aprofundamento e consolidação da vocação sacerdotal.

“Para mim pessoalmente, a caminhada do seminário foi bastante importante, porque fui sempre uma pessoa demasiado objetiva, demasiado tímida, demasiado distante. E todo este percurso do seminário, os seis anos que eu passei no Seminário Maior, e depois, também, os anos de estágio contribuíram bastante para que eu crescesse socialmente, crescesse na capacidade de relação com as pessoas, porque uma das características fundamentais do padre é ser capaz de estar em contacto, em relação, em diálogo com as pessoas”, observa Luís Coutinho.

“Não foi difícil”, diz Marcelo Rodrigues, explicando que “houve tempos mais difíceis e tempos mais fáceis, mas acima de tudo foi um tempo de crescimento a nível humano e espiritual”.

“Os padres de hoje não podem ser simplesmente padres de igreja, de sacristia”

Os dois diáconos conhecem bem a realidade da Diocese de Vila Real. Luís Coutinho estagiou em paróquias dos concelhos de Vila Pouca de Aguiar, Chaves, Montalegre e Boticas. Marcelo Rodrigues fez estágio no seminário e nos últimos dois anos trabalhou mais de perto com o bispo diocesano, no gabinete episcopal. Dizem-se preparados para a missão que os espera, embora não saibam ainda o serviço que lhes vai ser confiado.

“É sempre um desafio mergulhar numa nova etapa”, admite Marcelo que não espera “por grandes multidões, nem por grande juventude”, considerando que o importante é “procurar trabalhar com e para as pessoas na realidade concreta” da paróquia que lhe for confiada.

“É preciso sair da igreja. O acolhimento e o acompanhamento é cada vez mais importante. Além da celebração da eucaristia, a nossa missão passa também por ouvir as pessoas e tentar ajudá-las”, concretiza.

“Os padres de hoje não podem ser simplesmente padres de igreja, de sacristia, têm que ser padres do mundo, que estão junto das pessoas, junto do rebanho”, completa Luís, sintetizando que “a missão é levar as pessoas até Deus e trazer Deus até as pessoas”.

“E para isso é preciso esta dupla proximidade, uma proximidade com Deus e uma proximidade com as pessoas. Somos nós que estabelecemos essa ponte entre estas duas realidades, entre estes dois corações que não vivem um sem o outro”, explica o futuro sacerdote que não quer “ficar fechado nas estruturas”, mas quer “ir mais além, ir ao encontro das pessoas e das suas realidades, dos seus problemas e dificuldades, mas também dos seus sonhos”.

Desafios em tempos de pandemia

A crise sanitária que vivemos é mais um desafio que se junta aos muitos que os futuros sacerdotes vão encontrar pela frente, mas a estratégia já parece delineada e passa por recorrer a todos os meios, nomeadamente os tecnológicos, para “recuperar as pessoas que a pandemia afastou e trazê-las de volta para a comunidade”.

“Infelizmente esta pandemia veio trazer grandes dificuldades a pessoas que provavelmente também já não teriam muita saúde financeira. Será também um desafio prestar auxílio a essas famílias, a essas pessoas”, refere Luís Coutinho.

Marcelo Rodrigues está preparado para “encontrar pessoas com mais dificuldades financeiras, mas também com problemas psicológicos, pessoas que ficaram um bocado assustadas e até perturbadas com tudo isto” e a todas quer “estar atento e ajudar a encontrar formas de superação, na busca das melhores condições de vida”.

“Se é um desafio nós abraçamos esta nova vida, ainda é um desafio maior com uma pandemia, porque as próprias pessoas estão a viver uma realidade nova. Um colega nosso que foi ordenado no ano passado dizia, por exemplo, que não conhece as pessoas, conhece os olhos, conhece a pessoa com máscara, mas não reconhece o sorriso e isso, claro, que pode dificultar”, sublinha Marcelo.

Simples, próximos, disponíveis

Admiradores do Papa Francisco, Luís e Marcelo veem o sacerdócio com um serviço à Igreja e é na Igreja Diocesana de Vila Real que querem trabalhar em conjunto com todos os sacerdotes, pelo “bem de todas as ovelhas”.

“Quero ser o padre que vai à frente do rebanho, mas que também é capaz de vir atrás, para recolher a ovelha que está ferida ou deixar as 99 para ir à procura da que ser perdeu, um padre próximo com cheiro às ovelhas”, diz Luís Coutinho.

Marcelo Rodrigues tem consciência de que como “padre novo e fresquinho” não vai “trazer as últimas receitas”, mas ao “entrar nesta família, que é o presbitério de Vila Real”, quer trabalhar com todos e contribuir para a renovação e crescimento da Igreja.

Em comum, os dois futuros sacerdotes da Diocese de Vila Real têm também o desejo de serem vistos pelos seus futuros paroquianos como pessoas simples, próximas e disponíveis.

E aqui, Luís Coutinho acalenta o sonho de transformar em vida o leu lema sacerdotal: “Não há maior prova de amor do que dar a vida pelos seus amigos”.

“Portanto, eu gostaria que os meus paroquianos me vissem como um amigo, e um amigo próximo, ou um amigo em quem possam ver o rosto de Jesus e possam confiar e sentir a minha presença amiga”, concretiza.

Também Marcelo Rodrigues, que tem como lema sacerdotal “Cantarei ao Senhor pelo bem que Ele me fez”, quer ser olhado com uma pessoa simples, disponível e que sabe acolher. E para isso observa que “hoje em dia, com os telemóveis é sempre mais fácil contactar as pessoas e estar presente, quando alguém está em baixo ou no hospital, por motivos de doença”.

“É também nestas situações que me quero fazer próximo e ser presença”, completa.

Os diáconos Luís Miguel Figueiredo Coutinho e Marcelo Garganta Rodrigues, vão ser ordenados padres no próximo domingo, dia 4 de julho.

Na mesma celebração serão ordenados três novos diáconos: Miguel Ângelo dos Santos, de Alijó; Daniel Pinto Coelho, do concelho de Chaves, e João Paulo Cunha, de Boticas.

“Este é um grande dia para o seminário e para a diocese que enriquece e revitaliza o presbitério diocesano”, refere uma nota enviada à Renascença.

No contexto da situação pandémica e com as dimensões da Sé, “não é possível estar todo o presbitério e comunidades presentes na celebração, mas o dia é de todos e, por isso, vai haver transmissão nos meios digitais para que todos possam viver este dia”, conclui a nota.

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