13 dez, 2024 - 17:02 • Cristina Nascimento
O antigo presidente da Câmara de Loures, Bernardino Soares, sugere que o PS está a tentar tirar votos ao Chega em Loures. Em causa o despejo de várias famílias carenciadas que habitam em construções clandestinas.
Em entrevista à Renascença, à margem do congresso do PCP que se realiza em Almada, Bernardino Soares defende que há “quem intervenha, procurando retirar dividendos eleitorais independentemente de princípios”.
Nestas declarações feitas logo a seguir a uma intervenção no congresso sobre saúde. Bernardino Soares explicou ainda porque não é recandidato a Loures.
XXII Congresso do PCP
Secretário-geral do partido, Paulo Raimundo, no di(...)
Tomou a palavra no congresso para falar sobre saúde. Quais é que são os aspetos que lhe parecem mais gritantes neste setor, nesta altura?
O que temos é o Serviço Nacional de Saúde com dificuldades que são evidentes, consequência de políticas que têm vindo a ser seguidas pelos governos anteriores e pelo governo anterior em particular e também por este governo com grande força e uma opção claríssima de privilegiar e fomentar o negócio privado à custa de recursos públicos em vez de reforçar o Serviço Nacional de Saúde.
Quando se pega em utentes que não têm médico de família e se vai contratar o privado em vez de contratar médicos para os ter no Serviço Nacional de Saúde, é claramente isso que está a acontecer.
Nós teremos que ter uma grande força para combater esse caminho de destruição de uma conquista que é importantíssima e que é essencial para toda a população. É [o Serviço Nacional de Saúde} é o que garante a saúde, independentemente de condições económicas ou de condições sociais.
Na abertura deste congresso, o secretário-geral Paulo Raimundo fez vários apelos internos para a necessidade de se fazer mais para atrair pessoas para o projeto do PCP. O que é que o Partido pode fazer de diferente daquilo que tem feito até agora?
Nós não alienamos as nossas próprias responsabilidades em coisas que não teremos feito completamente bem, como o próprio secretário-geral disse, em relação aos resultados eleitorais, mas é evidente que houve um contexto muito adverso às posições do PCP e até à forma como elas eram entendidas pelas pessoas.
Qual é a nossa reação? É disso também que se está a falar neste congresso. É ir cada vez mais para próximo das pessoas, para o concreto, para os problemas que têm na sua vida do dia-a-dia, como os salários de que temos vindo a falar muito ou este problema da saúde. Indo para o concreto, mais próximo das pessoas, vamos vencer essas barreiras que por vezes existem e essa é a chave para termos um reforço do PCP, quer no plano político, quer no plano eleitoral.
Congresso do PCP
Autárquicas de 2025 são o desafio que se segue par(...)
O próximo combate eleitoral são as autárquicas, no próximo ano. Acha que essa estratégia vai conseguir trazer proveito já nestas eleições?
As autárquicas são uma batalha eleitoral em que a proximidade dos problemas e das pessoas é particularmente importante nos resultados finais. Portanto, julgo que temos boas condições para avançar nas eleições autárquicas, mantendo as autarquias que temos e eventualmente vindo a conquistar novas autarquias.
Sobre Loures, pondera recandidatar-se a esse município que lhe é particularmente caro?
É-me muito caro. O candidato foi anunciado esta semana, é o meu camarada Gonçalo Caroço, excelente candidato, muito preparado, com um grande conhecimento da realidade do concelho e uma enorme capacidade para falar com as pessoas.
Portanto, também por isso e pelo resto do trabalho que temos vindo a fazer, tenho muita expectativa em relação à batalha eleitoral em Louros.
Não quis voltar a ser candidato a Loures porque para si é um chão que já deu uvas ou porque o partido entendeu que era necessário refrescar?
Fechou-se um ciclo, quer em termos partidários, quer em termos pessoais, e é preciso virar a página, partir para outros protagonistas e, no meu caso em particular, para outras intervenções como tenho vindo a fazer, mas 100% solidário com os meus camaradas de Loures e, certamente, lá darei um pezinho de apoio na campanha eleitoral.
Relativamente ainda a Loures onde se está a viver uma situação sensível relativamente ao despejo iminente de famílias carenciadas. Conhecendo a realidade do Concelho, como é que vê esta que está a ser a atuação do autarca socialista Ricardo Leão?
Eu não tenho comentado muito as questões de Loures porque não sou candidato e devem ser os candidatos a fazer. Acho que é preciso nestas questões complexas da habitação ter como prioridade sempre a forma humana de tratar os problemas.
É evidente que nenhuma Câmara pode permitir que se construam casas em qualquer sítio, de qualquer maneira, isso é uma evidência. Mas, da minha parte, enquanto estive em funções, sempre que havia situações onde não havia solução para as pessoas visadas por eventuais demolições elas tinham de ser asseguradas à partida e eu penso que esse ponto é importante.
Agora, nenhuma câmara vai conseguir resolver o problema da habitação que nós temos no país. Isso é preciso de uma política pública nacional que não está a aparecer e eu gostaria muito que houvesse mais disponibilidade do poder central para intervir nessa área.
Mas acha que o PS está a fazer uma tentativa de aproximação a um eleitorado do Chega, por exemplo?
Bom, eu acho que há quem intervenha procurando retirar dividendos eleitorais independentemente de princípios. Acho que isso é muito negativo e gostaria muito que o Partido Socialista não entrasse por esse caminho.
Mas acha que é o caminho que o PS está a trilhar?
Acho que é essa a motivação de alguns que fazem algumas intervenções que até foram criticadas pelos seus companheiros de partido, ou pelo menos por alguns, muito orientadas para um certo pragmatismo eleitoral que deixa um bocadinho de fora princípios fundamentais de direitos humanos, de humanidade e de justiça social que têm que presidir a uma atuação pública, seja onde for.