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Congresso PSD

António Capucho diz que Albuquerque tem de sair da presidência do congresso do PSD e sugere Beleza

16 out, 2024 - 07:00 • Manuela Pires

Em entrevista à Renascença, Capucho defende que o caso de corrupção que envolve o político madeirense é “pernicioso” para o PSD e que devia haver uma renovação na Mesa do Congresso. O antigo ministro e deputado do PSD que foi apoiante de Jorge Moreira da Silva para presidente do PSD, considera que o atual líder superou todas as expectativas.

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Entrevista a António Capucho
Ouça aqui a entrevista a António Capucho

António Capucho, antigo conselheiro de Estado e fundador do PSD, considera que Miguel Albuquerque não devia ocupar o cargo de presidente do governo regional da Madeira.

Em entrevista à Renascença, Capucho defende que o caso de corrupção que envolve o político madeirense é “pernicioso” para o PSD e que devia haver uma renovação na Mesa do Congresso e sugere até um nome: Leonor Beleza.

António Capucho diz que Miguel Albuquerque devia dar esse passo de saída, caso contrário Luís Montenegro “tem uma palavra decisiva”.

Capucho, que foi apoiante de Jorge Moreira da Silva para presidente do PSD, considera que o atual líder superou todas as expectativas e que o partido está “numa fase absolutamente ímpar de grande unidade em torno de Luís Montenegro e do primeiro-ministro”.

Nesta entrevista à Renascença, antes do Congresso do PSD do fim de semana, em Braga, António Capucho diz acreditar que o Partido Socialista vai acabar por viabilizar o Orçamento do Estado para 2025, caso contrário “é um verdadeiro haraquíri do líder do PS, quer internamente quer a nível nacional”.

O antigo autarca de Cascais considera ainda que, em caso de chumbo do Orçamento do Estado, a solução é a convocação de eleições antecipadas.


O PSD está de regresso ao Governo, sem maioria, o primeiro grande teste é o Orçamento do Estado. Acredita que o Partido Socialista vai acabar por viabilizar o Orçamento?

Acredito que vai acabar por se abster, porque se não o fizer é um verdadeiro haraquíri do líder do Partido Socialista, quer internamente, quer a nível nacional.

Mas tarda em anunciar a decisão?

O Partido Socialista está a confrontar-se com um problema interno grave, ou seja, há manifestamente uma cisão entre a parte mais moderada, que não pode deixar de pensar aquilo que é óbvio, é que seria desastroso para a sua imagem interna e não consegue ter uma explicação lógica para o eleitorado se não viabilizar este Orçamento, depois do que já acordou com o PSD.

Admito que se o PSD fosse resistente a qualquer alteração ao Orçamento, isso pudesse justificar a não viabilização, mas por 1% no IRC não faz qualquer sentido.

"Acredito que vai acabar por se abster, porque se não o fizer é um verdadeiro haraquíri do líder do Partido Socialista"

Mas o Governo podia também ter cedido no 1% do IRC ou isto faz parte do jogo da negociação?

Podia ter cedido, mas era um disparate. Em primeiro lugar, não há nenhuma justificação para ceder, depois de tudo o que já cedeu, e quando há duas partes não pode ser uma a ceder tudo e a outra a não ceder absolutamente nada. Considero que, neste momento, estão criadas as condições para o Partido Socialista viabilizar, mesmo depois da última reunião interna do partido, em que, segundo um dirigente socialista, a maioria dos intervenientes considerou que de facto o caminho era a viabilização.

E tudo tem a ver com aquilo que é razoável e aquilo que é útil ao PS, útil perante o seu eleitorado interno, perante os seus militantes, que não compreenderiam outra situação que não fosse a viabilização do Orçamento pelo Partido Socialista.

Mas que leitura é que faz deste pequeno tabu de Pedro Nuno Santos, que adiou a decisão para depois do congresso do PSD?

Eu não faço nenhuma leitura, nem consigo ter uma explicação, a não ser a teimosia do Pedro Nuno Santos e a sua costela esquerdista.

Nesta altura, está em causa é o Orçamento do Estado, mas também qual o partido que garante governabilidade. É quase como se se tratasse de uma moção de confiança?

Eu sou insuspeito nesta matéria, já fiz parte de um governo do "Bloco Central" e tenho uma posição que não é muito popular dentro do PSD, mas considero que este país só tem futuro, se adotar reformas estruturais absolutamente indispensáveis e urgentíssimas, a começar pela justiça, passando pela educação, pela saúde, reforma da lei eleitoral, e isso só é possível mediante entendimentos entre o PS e o PSD, sem que qualquer deles perca a sua autonomia e a sua identidade própria.

E voltando ao Orçamento do Estado, não basta o PS abster-se na generalidade, terá que, em relação à discussão na especialidade, ter uma postura que não vá ferir de morte o próprio Orçamento e levar o PSD a considerar que no final o orçamento não é aceitável.

Se o Orçamento for chumbado, deve haver eleições?

Sim, eu não tenho medo de eleições no sentido abstrato do termo, não estou a referir-me a ter medo que o PSD ganhe ou perca, porque estou convencido que, se chumbarem o Orçamento, o PSD só tem a ganhar com isso. Mas é uma pena estar a repetir um ato eleitoral que, porventura, não vai alterar significativamente, embora possa reforçar a maioria do PSD muito dificilmente, acontecerá o que aconteceu com o Cavaco Silva, que passou de 32% para uma maioria absoluta de 52%. A situação agora é completamente diferente e eu não acredito que novas eleições possam permitir ao PSD mais do que reforçar uma maioria relativa.

Por outro lado, acho que era indesejável o PSD estar a governar em duodécimos, porque não saímos da cepa torta.

"Montenegro ficou muito acima das expectativas na sua capacidade política de intervir internamente no partido e na sua capacidade política enquanto governante"

É um dos fundadores do PSD, o partido está a fazer, precisamente neste ano, 50 anos. É com certeza muito diferente do PPD de 1974. Mas é um partido que está fortalecido e unido?

Luís Montenegro, no qual eu não votei [nas diretas de 2022], conseguiu uma coisa verdadeiramente espetacular porque ficou muito acima das expectativas na sua capacidade política de intervir internamente no partido e na sua capacidade política enquanto governante. Ele consegue ter um consenso generalizado dentro do partido e mesmo junto à opinião pública, entre aqueles que apoiam o PSD. E isso vai ser visível no congresso de Braga.

Mas não há falta de debate interno no PSD?

A informação que eu tenho, mesmo de pessoas que comigo apoiaram o Jorge Moreira da Silva, e que podem pontualmente discordar desta ou daquela atuação do Sr. Primeiro-Ministro, vão usar da palavra no congresso e vão livremente usar da palavra, como irá ver.

Mas isso não invalida que neste momento o partido esteja, tanto quanto eu me lembro, numa fase absolutamente ímpar de grande unidade em torno do Governo e do primeiro-ministro.

"Miguel Albuquerque? Devia haver uma renovação na presidência da Mesa do Congresso"

O congresso é presidido por Miguel Albuquerque, que é arguido por corrupção. Considera que ele se deve manter como presidente do congresso do PSD?

É muito doloroso para mim falar nesse tema, mas eu defendi que Miguel Albuquerque não devia sequer ter sido empossado como presidente do governo regional.

Sem prejuízo da admiração pessoal e da simpatia que tenho por ele, penso que no plano político isso foi pernicioso para o PSD e, portanto, acho que neste momento devia haver uma renovação na presidência da Mesa do Congresso.

A escolha numa figura carismática do partido, enfim, um grande senhor ou uma grande senhora, por exemplo, julgo que seria a primeira vez que uma militante do partido, e temos várias que podiam exercer essa função.

Está a lembrar-se de alguém em particular?

De Leonor Beleza, por exemplo para a presidência da Mesa do congresso que é também presidente do Conselho Nacional por inerência.

Ainda bem que me lembrou o assunto, porque eu não tinha pensado nisso, era interessante o presidente do partido lembrar-se de uma mulher que pudesse ocupar esse cargo.

Considera que Miguel Albuquerque, nesta altura, é mais um ativo tóxico para o partido?

Não gosto da palavra ativo tóxico, acho que tendo em conta a situação que conhecemos, era interessante, da parte dele, querer mesmo afastar-se do cargo de presidente da Mesa do Congresso, mas se não for essa a vontade dele, o presidente do partido tem uma palavra decisiva.

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