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Academia Socialista

Lavar de mãos. PS quer negociar OE, mas avisa que ónus está em Montenegro

01 set, 2024 - 22:25 • Tomás Anjinho Chagas

Socialistas juntaram tropas nos últimos cinco dias, em Tomar, e deram pistas sobre como vão agir nas negociações do Orçamento do Estado. Rejeitando “culpas”, asseguram que não embarcam num “OE de direita”, mas devem “melhorar” o documento.

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Um pé fora e um pé dentro. O sentido de voto do PS no Orçamento do Estado para 2025 (OE2025) é a maior incógnita e aquele que pesa mais. Os socialistas têm a tarefa complicada e sabem que o Governo da AD tem a faca e o queijo na mão, mas não se colocam de fora à partida porque também não querem precipitar eleições antecipadas num momento em que o primeiro-ministro, Luís Montenegro, atravessa um bom momento de popularidade.

Nos últimos dias, o PS promoveu a terceira edição da Academia Socialista em Tomar, e de figura importante em figura importante, foi deixando recados sobre as negociações do Orçamento do Estado, que recomeçam já neste mês de setembro.

Carlos César, Alexandra Leitão, António Costa e Pedro Nuno Santos colocaram os pontos nos "is". O que disseram?

Pedro Nuno Santos impõe condições, mas quer "melhorar" o OE

Na sua intervenção, que marca a rentrée política do Partido Socialista, Pedro Nuno Santos desfez o tabu e deu a entender que se forem cumpridas as condições, o PS pode mesmo vir a viabilizar o OE2025.

Apesar de criticar a "agressividade com que um Governo absolutamente minoritário tem atacado o PS", o líder dos socialistas reitera a "atitude de abertura e disponibilidade para encontrar soluções", e vinca que o partido já demonstrou "abertura para viabilizar o Orçamento para 2025".

Mesmo com todas as críticas que faz à AD, Pedro Nuno Santos assinala que só o PS pode retirar o Governo do beco sem saída em que se encontra e impõe condições para os socialistas entrarem nas contas e possam "melhorar" o Orçamento do Estado.

O rol de exigências? O Governo da AD tem de dar mais informações, não pode incluir as propostas de redução do IRS e IRC "profundamente injustas" que quer implementar neste OE, e terá de incluir propostas do PS.

Se tudo falhar, e o Orçamento do Estado for chumbado, Pedro Nuno Santos joga uma nova carta: está disponível para um Orçamento retificativo, para evitar que os aumentos salariais das várias classes profissionais anunciados pelo governo não caiam por terra.

César: tornar o OE menos mau

O primeiro a guiar o partido foi Carlos César. Presidente do PS e ex-presidente do Governo Regional dos Açores, o socialista raramente fala em público, e quando o faz é sempre ouvido.

Com fortes críticas à postura de Luís Montenegro, acusando o atual primeiro-ministro de "irresponsabilidade" e "aventureirismo" com aquilo que considera ser a falta de disponibilidade real de diálogo, Carlos César virou-se também para dentro e deixou pistas para os socialistas abordarem o tema.

"Este OE nunca será o nosso, nem o governo terá o nosso apoio para a sua política geral. Mas o nosso sentido de Estado obriga-nos a que ponderemos medidas e soluções, fiscais ou sociais, que tornem o Orçamento menos mau, e o governo menos perigoso", apontou o presidente do PS.

Desta forma, o senador socialista está a dizer que apesar de não ser o principal responsável, o PS não se pode colocar fora da equação.

António Costa iliba Pedro Nuno

A presença mais aguardada era a de António Costa, ex-líder do partido e antigo primeiro-ministro, que estava afastado de eventos partidários há quase seis meses. De regresso ao PS, o presidente do Conselho Europeu eleito prometeu, em resposta aos jornalistas, que não iria comentar temas nacionais e rejeitou dar conselhos a Pedro Nuno Santos.

Ainda assim, depois da insistência de um dos alunos da Academia Socialista, António Costa acabou por ceder e pronunciou-se sobre o Orçamento do Estado, mas não sobre o papel de Luís Montenegro.

O antigo primeiro-ministro assinalou que Pedro Nuno Santos conseguiu negociar quatro orçamentos nos tempos da geringonça, lembrando o período em que Pedro Nuno Santos era secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, António Costa considera que tendo em conta essa experiência, se o Orçamento do Estado não for aprovado "não será seguramente por culpa" de Pedro Nuno Santos.

Ou seja, apesar de não se ter alongado muito sobre o tema, António Costa desresponsabiliza o atual líder do PS no processo de negociação.

Alexandra Leitão garante que PS não aprova "OE de direita"

A líder parlamentar do PS veio também a Tomar esclarecer o que os socialistas vão e o que não vão fazer. Lembrando que a AD venceu nas legislativas por uma margem mínima, e que Montenegro lidera um governo "ultraminoritário", Alexandra Leitão desafiou o atual primeiro-ministro a largar a "vitimização" e alcançar consensos ao centro.

"Um OE de direita só pode ser aprovado pelas forças políticas de direita na Assembleia da República. Não contem com o PS para isso", avisou a ex-ministra.

O Governo vai dizendo que está disposto a negociar, mas Alexandra Leitão considera que o executivo “finge que quer negociar” e acredita que as reuniões com a oposição sobre vários temas têm sido “uma espécie de speed dating para inglês ver”.

E por isso, quanto à bancada do PS, a mensagem é clara: há disponibilidade para negociar o OE, mas terá de ser num meio termo, e a AD terá de fazer cedências para contar com a viabilização dos socialistas.

Cordeiro avisa AD, Drago avisa PS

A Academia Socialista marcou ainda o regresso de Duarte Cordeiro, ex-ministro do Ambiente - que se autoafastou da política depois de ser implicado em casos judiciais - que também avisou o governo de Luís Montenegro que não será através da "submissão do PS" que vai aprovar o Orçamento do Estado.

Pelo meio, concedeu uma entrevista à Renascença onde voltou a colocar-se fora da corrida à Câmara de Lisboa, apesar de não garantir que não muda de ideias até às eleições autárquicas do próximo ano.

A este evento do PS, vieram também figuras de fora do partido. Foi o caso de Ana Drago, antiga deputada do Bloco de Esquerda, que deixou um aviso aos socialistas: se o PS viabilizar o Orçamento do Estado do governo da AD, dificilmente vai conseguir formar coligações para as eleições autárquicas com os partidos à sua esquerda.

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