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Entrevista

Mayan atira para "nova liderança" da IL decisão sobre coligações autárquicas à direita

06 jul, 2024 - 20:00 • Filipa Ribeiro

Em entrevista à Renascença, Tiago Mayan Gonçalves diz que há tempo para pensar se se candidata ou não à liderança da Iniciativa Liberal. Para já, pede mais transparência no partido e mais autonomia para os núcleos e que sejam eles a ter a primeira palavras nas eleições autárquicas.

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Depois de em abril ter sido a voz de uma moção que criticava a atual direção da Iniciativa Liberal (IL), Tiago Mayan Gonçalves participa na VIII Convenção Nacional do partido, que decorre em Santa Maria da Feira. Em entrevista à Renascença, fala sobre a proposta "Estatutos+Liberais" que defende alterações nos estatutos do partido para que haja mais transparência.

O ex-candidato presidencial e crítico da linha oficial do partido diz que as contas de 2023 não foram apresentadas e que esse é um erro que deve ser corrigido. Tiago Mayan Gonçalves diz ainda que tem sete meses para pensar na possibilidade de uma candidatura à liderança da Iniciativa Liberal e a defesa de mais autonomia para os núcleos.

Para já, mantém a hesitação em dizer se é candidato à liderança da IL quando houver eleições internas, em janeiro de 2025. "Logo veremos", diz Mayan, que considera haver "muito tempo até lá".

Tiago Mayan Gonçalves tem liderado um papel de opositor interno. Há a discussão de duas propostas estatutárias e um programa político. Com o que é que não concorda na proposta apresentada pelo Conselho Nacional?

Estamos numa Convenção onde vamos estar a discutir propostas estatutárias e depois também um programa político. É isso que eu estou aqui a fazer. Eu e mais de 200 membros temos uma proposta que se chama “Estatutos + Liberais”, que é uma proposta alternativa de uma visão e de incorporação de valores e princípios liberais.

Eu recordo que mudar os estatutos foi uma afirmação unânime no partido na última convenção. Todas as listas falavam nessa necessidade e havia pelo menos três aspetos para a necessidade de revisão. O voto do órgão executivo dentro do órgão deliberativo, ou seja, da Comissão Executiva dentro do Conselho Nacional, a questão de transparência e partilha de informação dentro do partido e a questão da descentralização dos núcleos efetiva de capacidade de intervenção. É isso que quisemos trazer. A proposta apresentada pelo grupo de trabalho estatutário não cumpre o que precisamos para o partido.

Defendem mais transparência, o que é que está a falhar no partido?

Recordo uma moção de transparência que falava da necessidade de reporte muito mais detalhado ao Conselho de Fiscalização e ao Conselho Nacional, que são órgãos por definição escrutinadores e que têm que ter acesso à informação, por exemplo, dos relatórios e das contas. Hoje, ela não está cumprida.

O relatório de contas não é apresentado?

É apresentado mas sem possibilidade de verificar o detalhe mínimo. Pelo que percebi ainda não apresentamos as contas relativas a 2023 e isso é um problema que temos de corrigir do efetivo cumprimento atempado e responsável. Mas vai muito para além disso, porque tem a ver com a capacidade de gerar valor com a informação que temos. Na partilha de informação para os núcleos e entre os membros.

Na questão das incompatibilidades defendem que um deputado e eurodeputado não podem participar em certos órgãos internos do partido. Porquê?

Todos os eleitos do partido para Parlamento Europeu, Parlamento nacional, para os regionais, têm assento no Conselho Nacional sem direito de voto. Trata-se é só de reconhecimento, que papel representativo deve caber a membros eleitos que não estejam vinculados a outros deveres que no limite podem ser incompatíveis ou impedir de ter um envolvimento e um trabalho mais dedicado ao Conselho Nacional. Naturalmente, que um deputado nacional e europeu tem muito mais que fazer e nós queremos garantir-lhes que há essa distribuição saudável de cargos e competências. Há uma proposta dos unidos pelo Liberalismo para simplificar.

Sobre a descentralização de poderes. A situação atual no partido impede a autonomia dos núcleos?

É evidente que os núcleos têm pouco ou nenhuma autonomia para a política local, para a escolha dos candidatos, pouca ou nenhuma autonomia financeira e coisas como formações prometidas, capacidade de transmitir recursos para que eles possam fazer o seu trabalho tem falhado em grande escala.

Acredita que alguma das propostas consegue os dois terços de votos necessários?

Não posso antecipar. Por parte dos Estatutos + Liberais teríamos gostado de outro processo que conseguisse gerar discussão e consensos. Processos que já usamos anteriormente em revisões estatutárias, em que podemos estar nesta sala a discutir ponto a ponto os estatutos e perceber se chegávamos ou não a consensos alargados sobre a matéria. O sistema que criaram para esta Convenção ao arrepio dos que sempre fizemos no partido, não vai permitir essa discussão e, portanto isso, isso de facto, torna tudo muito mais difícil de termos um resultado util nesta convenção.

Se nada for aprovado, qual é a conclusão que o partido deve tirar?

Teremos que sair daqui todos bastante frustrados de não termos conseguido cumprir o que, de forma quase unânime, dizíamos que era necessário há uma convenção atrás.

Se de facto não conseguirmos essa mudança para os estatutos de futuro e que reparem valores liberais, vamos ter que fazer mais tarde, porque esse clamor e essa necessidade foi afirmada. Espero que algo de útil saia da Convenção.

Mantém a intenção de se candidatar à liderança do partido?

Eu, de facto, fui o porta-voz do manifesto Unidos pelo Liberalismo que também apresenta hoje propostas na especialidade e que afirma uma outra visão estratégica para o partido e isso ocorrerá no devido tempo. Quando houver eleições internas no partido logo veremos. Será em janeiro de 2025 e há muito tempo até lá.

Que conselho deixaria ao atual líder, Rui Rocha?

Conselho que vote nos "Estatutos + Liberais". Nesta convenção ele é um mero membro de base e pode analisar as propostas e se o fizesse votaria "Estatutos + Liberais".

No próximo ano há eleições autárquicas. Qual a estratégia que o partido deve adotar? Defende coligações como o que está a ser pensado à esquerda?

Acho que temos de parar para pensar. Vamos acabar aqui um ciclo interno relativo com esta Convenção estatutária programática e os próximos 6/7 meses que vão ser muito importantes para definirmos o que queremos e acho que temos de estar focados nisso e a partir daí, quando houver então uma nova liderança, qualquer que ela seja, cabe a ela pensar nisso em articulação direta com os núcleos territoriais que tem que acontecer.

Pensar nas autárquicas só depois de janeiro?

Eu diria que sim, sendo certo que os núcleos territoriais têm uma responsabilidade primeira sobre esse assunto das autárquicas. Eu acredito nisso e cada núcleo territorial também definirá o seu ritmo para essas definições. Portanto, aí é total liberdade e autonomia dos núcleos de fazerem o seu trabalho, nomeadamente para a preparação das autárquicas.

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