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Legislativas 2024

"Não há necessidade de hostilizar o PR". PS vai a Belém assumir a liderança da oposição

19 mar, 2024 - 00:56 • Susana Madureira Martins

No PS já ninguém espera que os votos da emigração alterem o resultado das eleições e Pedro Nuno Santos deverá repetir ao Presidente da República aquilo que disse na noite de 10 de Março, ou seja, que é o líder da oposição. Os socialistas vão continuar a arrumar a casa, com a reunião da comissão política esta semana e já se começa a pensar em resolver "rapidamente" as europeias de junho.

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A derrota eleitoral do PS está absolutamente assumida e assim deverá continuar, mesmo depois de conhecidos os resultados das eleições na emigração, na quarta-feira. A cúpula socialista considera "pouco provável" que haja alterações de monta que façam mudar o vencedor das eleições de 10 de março.

É esta posição que a delegação socialista, encabeçada por Pedro Nuno Santos, vai levar esta terça-feira à audiência com o Presidente da República, em Belém. É dito à Renascença por um membro da direção socialista que não há "nada a acrescentar" ao que foi dito "na noite eleitoral", ou seja, que o PS é oposição daqui para a frente.

Isto, mesmo depois de Alexandra Leitão, dirigente do Secretariado Nacional do PS, ter defendido este domingo no programa "O princípio da incerteza" da CNN Portugal que os socialistas devem ser chamados a governar, caso consigam superar a Aliança Democrática (AD) no final da contagem dos votos da emigração.

"Se o PS, depois da contagem dos votos das comunidades portuguesas, tiver mais mandatos ou, em caso de empate, mais votos do que a AD, então deverá governar. Se no fim desse escrutínio tiver menos mandatos do que a AD ou, empatando, houver mais votos na AD, deve governar a AD", afirmou a dirigente socialista, reconhecendo, no entanto, que será improvável que o PS venha a ultrapassar a coligação.

"Alguém espera que os resultados se alterem?", questiona um dirigente do PS em conversa com a Renascença. "Era preciso uma vitória de mais de 15% na emigração", o que é considerado pelos socialistas como altamente improvável. "Se as vacas voarem voam, mas até lá não voam", ironiza a mesma fonte socialista.

O PS tem, de resto, delegados nas mesas onde se está a proceder à contagem dos votos da emigração que irá durar até quarta-feira e mesmo esses já assumem publicamente a tendência de perda.

João Pina, dirigente da distrital socialista de Portalegre, é um desses delegados e numa publicação na rede social Facebook assume que o PS deverá perder, pelo menos, um mandato para o Chega.

No círculo da Europa, "a tendência é que o CHEGA ganhe o círculo e eleja 1 deputado. O PS deverá eleger o 2º deputado", escreve João Pina. Já no círculo eleitoral fora da Europa, "a tendência é que a AD ganhe o círculo, eleja 1 deputado. O 2º deputado está a ser disputado entre o PS e o CHEGA (too close to call)", conclui o socialista.

A confirmarem-se estes resultados, e se a AD e o Chega ficarem cada um com um mandato no círculo fora da Europa, significa que Augusto Santos Silva, atual presidente do Parlamento, corre sério risco de não ser eleito.

À Renascença, um antigo governante e ex-dirigente socialista admite que esta perda eleitoral na emigração "é sempre normal quando o PS perde as eleições", ou seja, "o PS não elege no círculo fora da Europa e elege um na Europa".

A mesma fonte salienta que o cabeça de lista da AD no círculo fora da Europa, José Cesário "não foi eleito em 2022 e agora foi" e tem uma ligação com os emigrantes. "Continuou a ser a pessoa em que as pessoas acreditam", ao passo que Santos Silva "nunca granjeou" de popularidade.

Um dirigente socialista já aqui citado assume à Renascença que "adorava que o PS pudesse governar", mas assume que é preciso "ter consciência do que aconteceu" e assim sendo, "bola para a frente". Mas, também, avisa: "Somos oposição, mas não temos que estar aqui a garantir a estabilidade" a um governo liderado pela Aliança Democrática (AD).

"Não há necessidade de hostilizar o Presidente"

Esta segunda-feira, o PS reuniu o Secretariado Nacional, o órgão de direção restrita de Pedro Nuno Santos e assume-se na cúpula socialista que a audiência em Belém acontece numa altura em que as relações com o Presidente da República não são as melhores.

Os socialistas andam especialmente irritados com Marcelo Rebelo de Sousa na sequência dos diversos cenários pós-eleitorais que surgiram na edição do jornal Expresso dias antes das eleições e que foram vistos como uma maneira de "condicionar" o voto a 10 de março.

Pelo meio, o presidente do PS, Carlos César, escreveu uma mensagem ao Presidente da República, a que a Renascença teve acesso, com avisos sobre eventuais "condicionamentos" e "bloqueios institucionais" na declaração ao país no dia de reflexão. Uma posição do presidente socialista com a qual Pedro Nuno Santos, na noite eleitoral, disse que está em "total sintonia".

Os socialistas também ainda não perdoaram que Marcelo tivesse optado pela convocação de eleições antecipadas em vez de aceitar a substituição de António Costa por Mário Centeno na liderança do Governo.

Tal como a Renascença já escreveu, um alto dirigente socialista define mesmo o atual momento entre o PS e o Presidente da República como uma relação em "camas separadas".

Porém, na reunião desta terça-feira em Belém, os socialistas também não esperam propriamente grandes tensões com Marcelo. "Não há necessidade de hostilizar o Presidente, mas não temos nenhuma gratidão, depois de tudo", assume um dirigente socialista à Renascença que conclui: "Vamos ver, se quiser favorecer a AD, favorecerá".

Um ex-governante do PS vê a relação do partido com o Presidente da República como "quebrada desde novembro", mantendo-se a relação institucional, registando que "há muitos socialistas arrependidos do voto em Marcelo".

Sibilino este antigo dirigente e ex-governante do PS conclui que "neste momento, a adesão ao PR deve ser equivalente à percentagem de votantes da AD", ou seja, perto dos 30%.

Ao mesmo tempo, a mesma fonte admite que o que Pedro Nuno Santos "podia fazer era dizer que não ia a Belém antes de os resultados da emigração estarem apurados" e o presidente do PS, Carlos César, iria "em representação do partido", até porque, "para todos os efeitos é o PS que é convidado a ir" à audiência, conclui.

"Uma passagem pela oposição mais prolongada"

A posição de Pedro Nuno Santos na noite eleitoral de 10 de março, acantonando-se na oposição desde as primeiras horas e sem resultados finais, é vista com normalidade pelos socialistas ouvidos pela Renascença.

Um membro do Secretariado Nacional considera que foi "melhor dizer que perdemos e depois ganharmos do que dizermos que ganhamos e depois perdermos duas vezes". A mesma fonte reconhece que o PS "não podia estar aqui em lume brando" à espera dos resultados da emigração.

Do ponto de vista da alternância de poder, os socialistas veem com normalidade o facto de estarem agora do outro lado da barricada, depois de oito anos no Governo, dois deles em maioria absoluta.

Para um ex-governante do PS, em conversa com a Renascença, "tudo isto é normal, só que desta vez pode ser uma passagem pela oposição mais prolongada, porque há novidades no sistema político".

Essas novidades, no entender deste socialista, passam pelo facto de "ao fim de várias décadas, as pessoas cansaram-se mesmo" dos governos do PS. "O pessoal político não mudou com três primeiros ministros, António Costa esteve sempre na ribalta política, mesmo quando foi presidente de câmara", conclui.

Há também uma questão geracional diagnosticada por esta fonte em relação a este PS que se assume como oposição daqui para a frente. A nova direção socialista "não assistiu às transformações do 25 de abril, é uma classe média alta", diz a mesma fonte socialista, que acrescenta: "isso é muito diferente".

"Arrumar" as legislativas e avançar "rapidamente" para as europeias

A partir desta terça-feira, o PS prossegue a sua caminhada interna como novo partido da oposição. Na quinta-feira, dois dias depois da audiência em Belém, Pedro Nuno Santos reúne pela primeira vez a Comissão Política do partido, o órgão alargado de direção e no sábado é a vez da reunião da Comissão Nacional, em Viseu. Ambas têm a "análise da situação política" na ordem de trabalhos.

À Renascença, um dirigente socialista admite que é preciso por o partido a começar a pensar nas eleições europeias. "São daqui a dois meses" e depois do desaire das legislativas "temos de fechar a lista [de candidatos] rapidamente, nas próximas semanas", adianta esta fonte, que admite que o PS até "pode ganhar" as eleições de junho.

O órgão de direção nacional no PS que aprova listas de candidatos a eleições é a comissão política que, necessariamente, terá de ser novamente convocada mais à frente. "A partir do momento em que arrumarmos esta questão das legislativas, temos de resolver isso rapidamente", conclui o mesmo dirigente.

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