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Lacerda Machado, o amigo de Costa sem negócios à parte

07 nov, 2023 - 15:29 • Fábio Monteiro

Amigo de António Costa desde os tempos da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Diogo Lacerda Machado foi constituído arguido no âmbito de uma investigação sobre tráfico de influências nos negócios do hidrogénio e do lítio.

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O título de “melhor amigo” do primeiro-ministro de Portugal não é algo de somenos. E também não é segredo.

Diogo Lacerda Machado acompanha e aconselha António Costa há décadas: por vezes, de forma documentada e a título oficial de serviços para o Governo – como no processo de reprivatização da TAP em curso; noutras, apenas a título pessoal.

O advogado foi constituído arguido, esta terça-feira, no âmbito de uma investigação sobre tráfico de influência nos negócios do hidrogénio e do lítio, um caso que já levou à demissão do primeiro-ministro, António Costa.

Remonta a 1981 a amizade entre o primeiro-ministro e o atual diretor da holding MysticInvest (cujo chairman é o empresário Mário Ferreira), presidente do Banco da África Ocidental (na Guiné-Bissau) e vice-presidente da Caixa Económica de Cabo Verde.

Os dois amigos conheceram-se numa aula de História das Instituições, na Faculdade de Direito de Lisboa, e desde então nunca mais deixaram de conversar.

Lacerda Machado foi, inclusive, padrinho de casamento de Costa.

O advogado e empresário português fez parte do chamado grupo dos “meninos de Macau”: em 1988, Eduardo Cabrita, Pedro Siza Vieira e Lacerda Machado acompanharam Magalhães e Silva, quando este foi nomeado secretário-adjunto para a Administração e Justiça de Macau.

Anos mais tarde, quando regressou a Portugal, já António Costa era ministro da Justiça no Governo de António Guterres.

Na época, Lacerda Machado entrou no segundo Governo de Guterres. Entre 1999 e 2002, Lacerda Machado foi secretário de Estado no Ministério tutelado por Costa. Segundo vários relatos, o agora empresário foi responsável por lançar as sementes do Cartão de Cidadão e da informatização dos registos.

Na última década, Lacerda Machado foi consultor da Pioneer Point Partners — uma das empresas do consórcio que pretende investir 3,5 mil milhões de euros num megacentro de dados em Sines.

O negociador

Desde que Costa chegou a primeiro-ministro, em 2015, Lacerda Machado desempenhou várias funções oficiais para o Governo – mas nunca integrou o executivo. De acordo com o “Observador”, Costa ainda chegou a convidar o amigo, mas o empresário recusou.

Em 2016, Lacerda Machado tanto esteve sentado à mesa com os lesados do papel comercial do BES, como desempenhou o papel de “negociador” na reversão da privatização da TAP. (Agora, em 2023, integra a equipa que procura interessados para a venda da companhia aérea.)

Em 2017, foi nomeado administrador não-executivo da TAP, mas acabou por sair mais tarde, em desentendimento com o então ministro Pedro Nuno Santos.

Este ano, na comissão parlamentar de inquérito à TAP, Lacerda Machado foi questionado sobre a sua relação com António Costa. Aí, garantiu que nunca foi alvo de pressões. A relação era de “respeito e consideração” e “não de subordinação”, garantiu.

“Acho que vai ser assim até sempre, especialmente quando deixar de ser primeiro-ministro e pudermos beneficiar da companhia que prezamos muito”, disse, antes de acrescentar:

“O António [Costa] é um extraordinário advogado. Sempre lhe disse que, se fosse advogado, ficaria rico, mas ele escolheu ficar pobre.”

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