20 set, 2023 - 22:49 • Manuela Pires
O candidato do Chega às eleições regionais na Madeira, Miguel Castro, está confiante que o partido vai conseguir eleger um grupo parlamentar e desafia Miguel Albuquerque a respeitar o voto dos madeirenses e governar mesmo sem maioria absoluta.
Em entrevista à Renascença, Miguel Castro garante que o Chega está disponível para viabilizar propostas do PSD.
O candidato do Chega diz que a primeira medida do seu partido é fazer uma avaliação do que diz ser o despesismo do atual governo regional e, para resolver o problema da habitação, o Chega propõe aumentar salários.
Miguel Castro é candidato do Chega às eleições regionais do próximo domingo. As sondagens reveladas esta semana indicam que o partido vai entrar pela primeira vez na Assembleia regional. A sondagem da RTP coloca mesmo o Chega como terceira força política na Madeira e pode eleger quatro deputados. Se o PSD perder no próximo domingo a maioria absoluta, pode contar com o apoio do Chega?
Antes demais, estamos satisfeitos com o resultado da última sondagem. Porém, nada está ganho, nada está garantido. Temos de continuar com o pé no acelerador até ao último dia de campanha. E faço um apelo para todos irem votar no domingo, porque só assim é que se farão representar na Assembleia Legislativa Regional.
Para responder à sua questão, o Chega já marcou a sua posição e Miguel Albuquerque também já disse que não faz acordos com o Chega. Nós também já dissemos que com o PSD não. Mas faço aqui um desafio a Miguel Albuquerque: se o PSD for o partido mais votado, deve governar com os votos que o eleitorado lhe confiar.
Considera que o PSD deve governar mesmo em minoria?
Eu considero que sim. Acho que é um desafio. Em democracia, deve-se governar com outros partidos. É assim que se desenvolve o processo democrático.
Se o PSD não conseguir a maioria, estaria disponível para acordos de incidência parlamentar, por exemplo, no Orçamento.
Se o Governo não tiver maioria e se precisar dos partidos da oposição para aprovar leis que sejam em prol dos madeirenses e portosantenses, eu acho que não só o Chega, mas também os outros partidos com assento parlamentar irão aprovar essas mesmas propostas de lei.
Nós sabemos que as maiorias absolutas são muitas vezes inimigas da democracia, porque esse partido ignora por completo as propostas da oposição.
O Chega tem marcado esta campanha pelas críticas ao atual governo, fala mesmo em insensibilidade social e avareza política. Quer concretizar?
O governo pavoneia-se nas ruas e atravessa a cidade em carros de luxo e não há contacto com os cidadãos, só na campanha eleitoral. A verdade é que nós vivemos numa Madeira cada vez mais díspar, ou seja, há uma classe rica que é classe política, do amiguismo político. E depois há uma população madeirense que está a empobrecer cada vez mais e o governo vem para as televisões e para as rádios dizer que a Madeira é o paraíso.
Por exemplo, dizem que a saúde regional é um exemplo europeu e é um modelo europeu a seguir, quando nós sabemos que não é. Há mais de 80 mil madeirenses em listas de espera para consultas e cirurgias no hospital. Isto não é exemplo para ninguém.
O que é que propõe para resolver este problema e para melhorar a vida aos madeirenses?
Em primeiro lugar, um escrutínio muito sério à governação do PSD, temos de ver onde há mais despesismo. Não se trata de reduzir a despesa, mas de a reajustar, porque há pessoas que precisam de ajuda social. Temos de cortar nas gorduras do governo regional.
Não podemos vir para a comunicação social dizer que somos autonomistas e que a Madeira é exemplar, mas escondem da população a dívida da região. Os madeirenses que nascerem daqui a 15 anos já estão endividados.
A habitação é também um dos problemas que está a afetar muito não só os jovens aqui na Madeira. Que propostas é que o Chega apresenta para resolver esta questão?
Aqui na Madeira é, de facto, um problema que não pode ser resolvido apenas com habitação social. Não cabe ao governo fazer casas para dar às pessoas. Cabe ao governo criar condições nas empresas, nos privados para serem mais competitivos, e criar condições para aumentar os salários para os madeirenses terem a capacidade de comprar a casa que escolhem e não a que o governo dá.
Em entrevista à Renascença, o candidato do PSD, Miguel Albuquerque, acusou Chega de não ser um partido que defende as autonomias e diz que o eleitorado da Madeira não se identifica com essas ideias. Como é que responde?
Miguel Albuquerque, que se diz tão autonomista, tem de explicar aos madeirenses porque é que não utiliza a ferramenta que o distancia logo da República. Que é aplicar o diferencial fiscal nos impostos, nomeadamente no IVA, no IRC. Se isso fosse feito, tal como já existe nos Açores, o IVA passava dos 22% para 16% e os escalões mais abaixo baixariam todos em 30%, que é o máximo do diferencial fiscal.
Não está nada nos estatutos do partido que diga que nós não somos autonomistas. Isso é uma falácia, é mera distração.