Marcelo, a "melhor companhia" de Costa "até no avião"

26 mar, 2023 - 21:57 • Susana Madureira Martins

O Presidente da República nega "atropelos" aos poderes constitucionais do primeiro-ministro, ao mesmo tempo que garante que das "divergências" com António Costa não se pode tirar a conclusão que a relação pessoal vai mal. Isso é viver na "espuma dos dias" e na "superfície das coisas". Quanto ao parceiro desta relação, Costa, diz que "o Presidente da República é, seguramente, uma das melhores companhias que se pode ter, até de avião"

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A deslocação conjunta do Presidente da República e do primeiro-ministro ao Luxemburgo foi o segundo take de explicações de ambos para assumir que há "divergências" entre os dois, mas as relações pessoais estão intactas. O primeiro momento tinha sido em plena conferência de imprensa, também conjunta, na República Dominicana no final da cimeira Ibero-americana.

Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa viajaram juntos das Caraíbas para Madrid e daí para o Luxemburgo, para o encontro com a comunidade portuguesa e para assistir, em conjunto ao jogo da seleção nacional de futebol, que Portugal venceu por 6-0.

Surgiram ambos sorridentes no hotel onde se encontraram com o histriónico primeiro-ministro luxemburguês, Xavier Bettel, que ao ver Marcelo gritou um "Presidenteeee", assim mesmo em português. A amena cavaqueira começou logo aí, onde a comunidade portuguesa se preparava para ouvir os três atores políticos.

A deslocação ao Luxemburgo de Marcelo e Costa tinha como objetivo o apelo ao recenseamento da comunidade portuguesa a tempo das eleições autárquicas de junho. Trata-se da maior comunidade estrangeira no país e há vários candidatos lusos na corrida.

"Como é possível?" que em janeiro estivessem recenseados pouco mais de 4 mil portugueses, questionou-se Marcelo. "Somos o dobro dos franceses, quatro vezes os belgas", atirou o Presidente perante os membros da comunidade lusa.

Marcelo prometeu mesmo que depois do jogo da seleção de futebol na fria noite de domingo iria pelas ruas fora da capital do Luxemburgo convencer os que ainda precisavam de ser convencidos, tendo em conta que os presentes na sala "já estavam".

Risadas na sala do hotel, que foi, de resto, o mote de todo o discurso de Marcelo, dizer frases inteiras misturando o português e o francês, com piadas a Xavier Bettel. "Se um dia se apresentar como candidato em Portugal será um problema para si, senhor primeiro-ministro", olhando para Costa que se desmanchou a rir.

O primeiro-ministro português já tinha também feito o apelo ao recenseamento e ao voto da comunidade portuguesa, bem mais comedido e dizendo que votando nas locais do Luxemburgo "em nada diminui a portugalidade" de cada um.

Marcelo e os (não) "atropelos" a Costa

Arrumado o apelo ao voto, Costa e Marcelo lançaram-se numa já habitual sessão de selfies com a comunidade portuguesa, dividiram-se entre respostas a jornalistas do Luxemburgo e depois foi a vez dos jornalistas portugueses, que voltaram à questão da relação entre ambos. Como está?

Marcelo garante que "nunca houve nenhuma zanga pessoal" e que "quem observa a realidade política observa a espuma dos dias, a superficie das coisas e não percebe que o papel de cada um de nós é diferente ". A culpa está em quem vê de fora, não na sucessiva troca de galhardetes entre os dois protagonistas.

Então, "é nessa diferença que reside a riqueza do sistema português" diz Marcelo, porque "nem o Presidente da República é presidencialista, nem o Governo é um sistema parlamentarista que não atende à importância do voto direto dos portugueses no Presidente da República, é um equilíbrio, por isso se chama semi-presidencial".

Questionado pelos jornalistas se considera que os poderes constitucionais atribuidos ao primeiro-ministro têm sido atropelados, o Presidente da República garante que "não" e acrescenta que "nem vice versa", também não tem "pensado que a Assembleia da República ou o primeiro-ministro tenham atropelado os poderes de outros órgãos de soberania ou qualquer um de nós tenha atropelado os poderes dos tribunais".

Ninguém atropela ninguém, mesmo quando a troca de galhardetes aquece. "É este equilíbrio que é muito importante", acrescenta o chefe de Estado. "Há divergências, as divergências são naturais no sistema são naturais em democracia e não tem nada a ver com problemas pessoais", garante mais uma vez.

Marcelo volta à conversa de que conhece Costa "pessoalmente" há 40 anos, semelhante à relação que criou com "muitos alunos muito próximo, relacionamento afetivo que é maior com antigos alunos". É o caso do primeiro-ministro, que foi aluno do Presidente na Faculdade de Direito de Lisboa.

Questionado ainda se acha que vai ter de lidar com outro primeiro-ministro antes de acabar o mandato presidencial em 2026, Marcelo chuta para canto e responde algo equívoco: "sei lá, é tão jovem, com futuro político, eu é que tenho a idade que tenho e estou no fim do segundo mandato, o que tinha a fazer em termos de concorrer a eleições está feito".

À margem do encontro com a comunidade portuguesa, também António Costa falou com os jornalistas. Confrontado sobre o estado da relação com o Presidente da República, o líder do executivo responde lacónico: "as relações entre mim e o Presidente da República foram sempre amigáveis e as amizades têm esta coisa, a cada dia são mais fortes".

Questionado como é que foi a viagem em conjunto da República Dominicana para Madrid e depois daí para o Luxemburgo, Costa respondeu divertido que "o Presidente da República é, seguramente, uma das melhores companhias que se pode ter, até de avião".

Esta semana será feita uma nova prova de algodão à relação entre os dois protagonistas, primeiro no Conselho de Estado, na quarta-feira, com a presença da co issária europeia Elisa Ferreira e depois na sexta feira. Será o dia em que Marcelo vai ao terreno com Costa visitar projetos do Programa de Recuperação e Resiliência, um dia a seguir à aprovação final do programa da Habitação.

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