Tempo
|

Comissão Nacional do PS

PS faz de Pedro Nuno Santos tabu e dá polémicas no Governo como "assunto bem resolvido"

14 jan, 2023 - 22:35 • Susana Madureira Martins

Ninguém falou diretamente de Pedro Nuno Santos e da demissão de um peso pesado do Governo na Comissão Nacional do PS com a cúpula socialista a assumir que houve "cuidado de apreciar todos os casos e aprender com eles". António Costa saiu de Coimbra com a confiança dos dirigentes nacionais, mas alguns pedem-lhe que a maioria absoluta comunique melhor

A+ / A-

Carlos César assumiu no final da Comissão Nacional do PS, que decorreu este sábado em Coimbra, que "seria indesculpável" os dirigentes nacionais não falarem dos casos que têm marcado a governação socialista. E assim foi.

Publicamente o presidente do PS admitiu que o partido "não podia virar a página dos acontecimentos sem ler a página anterior". E houve "cuidado de apreciar todos os casos e aprender com eles", assumiu César.

Apreciaram-se "todos os casos", mas não se falou de Pedro Nuno Santos e da demissão do Governo de um peso pesado do Governo. O ex-ministro das infraestruturas, segundo relatam dirigentes nacionais do PS à Renascença, foi como que um tabu na reunião.

Pedro Nuno foi, assim um dos grandes ausentes da discussão da Comissão Nacional. Em todos os sentidos. Ao ter abandonado todos os cargos de direção no partido, o ex-ministro também já não tem assento no órgão máximo do partido entre congressos.

Aliás, foi isso mesmo que Carlos César respondeu aos jornalistas quando questionado sobre a ausência do ex-ministro na reunião. "Não é membro da Comissão Nacional, não notamos a ausência das pessoas que não fazem parte da Comissão Nacional". E de forma seca, concluiu: "Apenas notamos a ausência de quem faz parte da Comissão Nacional".

De registar que, ausente da reunião dos dirigentes nacionais, em Coimbra, esteve também o ministro das Finanças, Fernando Medina, um dos protagonistas da polémica em torno da demissão da secretária de Estado do Tesouro, na sequência da rescisão da TAP.

Segundo relatos feitos à Renascença por dirigentes nacionais presentes na reunião, os alvos preferenciais da discussão foram as ex-secretárias de Estado Alexandra Reis e Rita Marques, a quem foram lançadas críticas pelos efeitos negativos que provocaram no Governo.

Segundo um dirigente nacional "o ambiente geral" da reunião é que "o assunto" das demissões no Governo "ficou bem resolvido" e que não vale a pena estar a reabrir esse dossiê".

O próprio secretário-geral do PS fez questão de dizer logo no arranque dos trabalhos da Comissão Nacional de falar do assunto para lhe colocar um ponto final e fazer o pedido ao partido. "Da escolha de presidente de junta de freguesia à escolha de membros de Governo, nós temos de ser mesmo muito exigentes, muito mais exigentes", disse.

Na sala onde decorreu a Comissão Nacional estava, por exemplo, a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, envolvida na polémica escolha da secretária de Estado Carla Alves que acabou demitida ao cabo de um dia.

Costa tem de "melhorar a comunicação"

Não basta anunciar, é preciso fazer. E comunicar bem. Foi esta uma das mensagens de José Abraão, com o secretário geral da Federação de Sindicatos da Administração Pública (FESAP) a pedir que o Governo olhe para as tabelas de retenção do IRS, pedindo um "ajustamento" ou "alteração" das tabelas de retenção dando vários exemplos durante a reunião.

Ao líder do PS e primeiro-ministro, Abraão pediu ainda que os ministros negoceiem mesmo, que dialoguem com os sindicatos, pedindo que exista essa abertura da ministra da Segurança Social. Abraão alertou ainda para "a enorme" carga fiscal dos rendimentos do trabalho.

Relatos feitos à Renascença referem que o tom de Abraão foi de "pega" com o líder socialista e a meio da reunião foi visível para os jornalistas que o dirigente sindical esteve breves minutos a conversar fora da sala da reunião com António Costa e com António Mendes, o secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro. Segundo dirigentes nacionais tudo "ficou esclarecido".

Entre os dirigentes nacionais houve ainda "alguma conversa sobre educação", mas segundo um membro da Comissão Nacional presente na reunião "muito na lógica de que a palavra de António Costa pode resolver isto".

De resto, a intervenção de abertura do líder socialista foi em boa parte dedicada a garantir que esta área é uma prioridade, num dia marcado pela manifestação de professores em Lisboa.

Houve dirigentes nacionais que pediram ação ao Governo sobre a Habitação, com o líder da Juventude Socialista (JS) a pedir a Costa uma penalização para a especulação imobiliária e "mais atenção" à habitação devoluta.

Outra ideia manifestada pelo líder da JS terá sido ainda a de "valorizar e tornar efetivo" o acordo de rendimentos, fazendo com que os 50% de aumentos salariais que são deduzidos do IRC não seja só para quem tenha contratação coletiva.

A todas as intervenções dos dirigentes nacionais não houve depois nenhuma resposta do líder do partido. António Costa, ao contrário do que é habitual, não fez uma intervenção final. Essa tarefa coube ao líder parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias e ao secretário-geral adjunto do partido, João Torres.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+