25 dez, 2022 - 21:00 • Susana Madureira Martins
Quase um ano depois de conquistada a maioria absoluta pelo PS, após as eleições legislativas de janeiro, o primeiro-ministro faz uma espécie de balanço da governação e puxa pelo brilharete das contas. "A trajetória sustentada de redução do défice e da dívida coloca-nos ao abrigo das turbulências do passado", afirma António Costa na tradicional mensagem de Natal.
De uma assentada, António Costa afasta o país do fantasma da troika, da crise dos juros e da crise da dívida soberana, que marcaram a governação de José Sócrates e depois o consulado de Pedro Passos Coelho.
Na mensagem de Natal de 2022, o primeiro-ministro ignora todos os casos e polémicas que marcaram os últimos meses do executivo - as duas remodelações ou a crise com o ministro Pedro Nuno Santos - com Costa a preferir centrar-se nos resultados. "Temos, por isso, razões para ter confiança", acredita.
Praticamente de fora fica também a pandemia de Covid-19, o tema que marcou as duas últimas mensagens de Natal do primeiro-ministro. Há um ano, António Costa carregava nas tintas em relação a uma "guerra" contra o vírus que não estava ganha. Também não são mencionados os problemas na saúde, agora que há um novo ministro e um diretor-executivo para o SNS.
"Trajetória sustentada de redução do défice e da dívida coloca-nos ao abrigo das turbulências do passado"
A guerra agora é outra. No meio do caos internacional provocado pelo conflito na Ucrânia, Portugal é apresentado pelo primeiro-ministro como uma espécie de pequeno oásis. "Confiança é o que o nosso País nos garante hoje, quando tanta incerteza nos rodeia no cenário internacional. Confiança no futuro, pelo que estamos a fazer no presente".
António Costa exemplifica com "o investimento que temos feito nas qualificações, na ciência, na inovação, e na transição energética e climática garante-nos que estamos no pelotão da frente para vencer os desafios do futuro".
Na mensagem gravada na residência oficial, em São Bento, e divulgada este domingo à noite, o primeiro-ministro destaca o "sentido de comunidade, de partilha, de solidariedade" dos portugueses, que têm permitido ao país "continuar" a aproximar-se "das economias mais desenvolvidas da Europa, com o investimento das empresas, as exportações e o emprego a crescerem".
Uma frase que serve como resposta implícita às oposições que têm puxado pelas previsões da Comissão Europeia para 2024 e que dão o crescimento económico de Portugal atrás de países como a Roménia.
"Paz", "confiança" e "solidariedade". "As palavras ganham um valor próprio em cada momento da vida", resume Costa. São estas as três palavras-chave usadas na mensagem, com o primeiro-ministro a fazer o apelo: "solidariedade é, mais do que nunca, o valor que nos deve guiar para enfrentar as consequências desta guerra".
"Estamos no pelotão da frente para vencer os desafios do futuro"
É reconhecido que, "este ano, a inflação atingiu níveis que não vivíamos há três décadas; as taxas de juro subiram para valores que os mais novos não conheciam; e a fatura da energia cresceu, tanto para as famílias como para as empresas". E o país precisa de continuar a remar "solidário" para o mesmo lado.
"Solidariamente, temos enfrentado estas dificuldades. Famílias, empresas, instituições do setor social, autarquias, Estado, estamos a lutar, lado a lado, para não deixar ninguém para trás, para proteger o emprego, para continuar a recuperar das feridas da pandemia, na economia, nas aprendizagens, na saúde, tanto física, como mental", diz António Costa. A responsabilidade pelas respostas à crise, no fundo, é de todos.
É, segundo o primeiro-ministro, essa "solidariedade" que tem permitido, "lado a lado, enfrentar os desafios que os tempos exigentes" colocam e que dá "confiança na mobilização de todos em torno dos desafios estratégicos" que se colocam ao país: "reduzir as desigualdades, acudir à emergência climática, assegurar a transição digital e vencer o desafio demográfico".
Entrevista Renascença/Ecclesia
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa v(...)
Nos cerca de cinco minutos de mensagem, o primeiro-ministro começa por falar da "paz" que "todos ansiamos desde que o horror da guerra regressou à Europa, com a invasão da Ucrânia pela Rússia".
António Costa deixa "uma palavra de carinho especial à comunidade ucraniana que vive em Portugal. Aos que há vários anos contribuem dedicadamente para o nosso desenvolvimento e aos que vieram nestes últimos meses à procura de segurança". A todos esses, o primeiro-ministro deseja que "em Portugal encontrem o maior conforto possível neste momento de angústia e saudade".
O final da mensagem é dedicado a "todos os que vivem e trabalham em Portugal e com os portugueses que nos seguem de cada ponto da nossa diáspora", ficando ainda "uma palavra de sincera gratidão aos profissionais, civis e militares, que, nesta quadra, asseguram o funcionamento de serviços essenciais" e "uma palavra especial de afeto e conforto a todos aqueles que, por vicissitudes da vida, se encontram sozinhos nesta quadra".