29 jun, 2022 - 18:49 • Lusa
Todos os partidos de oposição ao Governo criticaram a opção de adotar a solução Montijo-Alcochete para o novo aeroporto de Lisboa.
A solução final para o novo aeroporto de Lisboa vai demorar mais tempo e deverá juntar Montijo e Alcochete, disse à Renascença fonte governamental. O atual aeroporto Humberto Delgado, na Portela, é para desmantelar.
Segundo fonte do Ministério das Infraestruturas, a solução passa agora por daqui a um ano começar a construir o aeroporto no Montijo, para estar pronto daqui a quatro anos e, "na próxima década", começar a construir de raiz um aeroporto em Alcochete, quando Montijo estiver esgotado.
Da esquerda à direita, com argumentos distintos, só se ouviu contestação à medida anunciada pelo Executivo.
Rui Rio acusou o Governo de "andar aos ziguezagues" sobre o novo aeroporto e questionou como vai o executivo avançar para o Montijo quando existe o poder de um município vetar a sua construção.
Questionado pelos jornalistas no parlamento, o ainda presidente do PSD disse que apenas iria falar sobre o processo que se passou no seu mandato (que termina no domingo), deixando o futuro sobre o aeroporto para o seu sucessor, Luís Montenegro.
O presidente do PSD alertou que se mantém em vigor a legislação que dá poder de veto a um único município para impedir a construção do aeroporto no Montijo.
"Disponibilizei-me ao longo do tempo para alterar essa lei, que reconheço ser exagerada, mas não estive disponível para mudar uma lei para permitir uma dada solução, apenas para que o Governo tomasse a iniciativa de fazer a avaliação de impacto ambiental e levar o dossier a zero", recordou.
Rui Rio referiu que, até ao dia de hoje, não viu "qualquer iniciativa da parte do Governo para alterar a lei", questionado de que forma o irá fazer.
"A não ser que o PSD queira mudar a lei ou a não ser que ele conte com outra ideia: "como tenho maioria absoluta, passo por cima de qualquer maneira, e anulo as leis todas e mais algumas". Não é bonito", criticou.
"Só posso dizer que o Governo anda nuns ziguezagues de todo o tamanho, não quero acrescentar mais nada, isso deve ser assumido pelo meu sucessor a partir de domingo", afirmou, dizendo que seria "mais sensato" aguardar pelo Congresso do PSD, que se realiza entre sexta-feira e domingo, no Porto.
Fonte próxima do presidente eleito do PSD disse à Lusa que Luís Montenegro "não foi informado de nada" sobre os planos do Governo para o novo aeroporto.
Executivo deixa cair o concurso para avaliação amb(...)
O deputado único do Livre, Rui Tavares, considerou hoje que a nova solução aeroportuária para Lisboa do Governo revela "uma certa desorientação", defendendo que deve ser feita uma avaliação ambiental estratégica "sem localizações definidas".
"Parece-me que revela uma certa desorientação, é um voltar atrás em algumas garantias que tinham sido dadas da fidedignidade do processo", afirmou Rui Tavares, em declarações aos jornalistas, na Assembleia da República.
Para o Livre, deve ser feita "uma avaliação ambiental estratégica, sem localizações definidas, para fazer o que deveria ter sido feito em meio século de debate" e "que pode ser feito até 2023" de forma a manter "o prazo que tinha sido fixado".
Para o deputado único do Livre, o Governo está "a trocar o certo pelo incerto" e a "avançar já com aquilo que do ponto de vista ambiental é negativo em troca de eventualmente, mais à frente, haver um aeroporto ambientalmente mais seguro".
"Ou seja, danificar já o ambiente para talvez no futuro fazer o aeroporto que seria a escolha ambiental mais certa", disse.
O BE pediu a audição no parlamento do ministro das Infraestruturas sobre as "notícias incompreensíveis" da construção de dois aeroportos a médio prazo, considerando que o Governo está "a brincar" com o país, o parlamento e o clima.
"São muitas questões de notícias incompreensíveis que, a confirmarem-se, só nos levam a suspeitar de que o Governo está - e passo a expressão - a brincar com o país, a brincar com o parlamento com os compromissos que assumiu e a brincar com o clima", disse, aos jornalistas, a deputada do BE Joana Mortágua.
"Se é aquilo que se confirma, construir dois aeroportos a médio prazo é uma decisão que o país não pode compreender sobretudo quando estava em curso um estudo alargado sobre essa construção", criticou, referindo-se à decisão de abandonar com a avaliação ambiental estratégica.
"As notícias dizem que a decisão seria começar de imediato a construção do aeroporto no Montijo, decisão em relação à qual o BE sempre se opôs por considerar que ela é um crime ambiental e também reconhecer que a futura localização do aeroporto da Portela, a longo prazo, é Alcochete. O Governo admitiria neste momento que a única solução para a estratégia aeroportuária do país a médio e longo prazo é Alcochete e ainda assim avançaria com o negócio da ANA no Montijo", condenou.
Francisco Calheiros reage à notícia de que o Gover(...)
O PCP considerou que a solução Montijo-Alcochete proposta pelo Governo para resolver a situação do aeroporto de Lisboa "não é credível" e insistiu na transferência faseada para o Campo de Tiro de Alcochete.
"A confirmaram-se as notícias de que o Governo avançará com a construção do aeroporto no Montijo e posteriormente em Alcochete, gostaríamos de dizer, desde já, que não é credível e não é aquela que é a resposta necessária para o país", sustentou a líder parlamentar comunista, Paula Santos, nos Passos Perdidos do parlamento.
A deputada comunista acrescentou que o investimento que vai ser feito para construir o aeroporto no Montijo implica a manutenção do da Portela durante mais tempo, o que significa "estar a perder mais tempo e a penalizar o país".
Na ótica do PCP, a única opção viável é a transferência faseada do Aeroporto Humberto Delgado para o Campo de Tiro de Alcochete e Paula Santos argumentou que esta ideia "ficou comprava nas audições realizadas na semana passada".
O presidente do partido Chega acusou o Governo de um "desrespeito muito grande" para com o parlamento ao anunciar a nova estratégia aeroportuária e lamentou que os partidos não tenham sido informados da decisão.
Em declarações aos jornalistas na Assembleia da República, em Lisboa, André Ventura afirmou que "havia um consenso com o parlamento" porque estava "um processo de avaliação ambiental em curso" que "foi acordado com o parlamento".
"É um desrespeito muito grande ao parlamento que o Governo unilateralmente decida quebrar uma avaliação ambiental e decida simplesmente pelas suas próprias palavras e pelas suas próprias ações fazer o que acaba de acontecer", criticou.
Na ótica do líder do Chega, "a questão aqui não é qual a melhor localização, não é se podia ser o Montijo, se podia ser Alcochete, se podia ser Beja ou uma outra qualquer, a questão aqui é o desrespeito brutal que houve hoje pelo parlamento".
O presidente da Iniciativa Liberal alertou que a utilização de dinheiros públicos na nova solução aeroportuária do Governo tem que ser "muitíssimo escrutinada", prometendo usar todos os instrumentos à sua disposição para obter esclarecimentos sobre o tema.
"Se fizemos o esforço político que fizemos relativamente à intervenção na TAP - que foram cerca de 3.500 milhões de euros - estes dois aeroportos juntos são mais do dobro desse montante. É uma utilização de dinheiros públicos que tem que ser muitíssimo escrutinada", defendeu.
João Cotrim Figueiredo falava aos jornalistas na Assembleia da República depois de o Governo ter decidido uma nova solução aeroportuária para Lisboa, que passa por avançar com o Montijo para estar em atividade no final de 2026 e Alcochete e, quando este estiver operacional, fechar o aeroporto Humberto Delgado.
Questionado sobre se ponderava chamar ao parlamento o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, o líder dos liberais respondeu que o partido utilizará "todos os instrumentos à disposição a nível parlamentar e não só".