Legislativas 2022

Repetição das eleições. Partidos admitem que a “abstenção vai aumentar”

11 mar, 2022 - 18:50 • Tomás Anjinho Chagas

Ouvidos pela Renascença, os partidos antecipam um provável aumento da abstenção, projetam os objetivos e falam da influência da guerra neste ato eleitoral.

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Este fim-de-semana voltam a abrir as mesas de voto para os eleitores do círculo da Europa. Depois da polémica do anulamento de 80% dos votos que culminou na repetição do ato eleitoral, os emigrantes que estão recenseados na Europa são chamados a votar, outra vez.

Em causa estão dois lugares na Assembleia da Repúbllica, os últimos dois que faltam eleger para o hemiciclo ficar completo com os 230 deputados eleitos.

Os partidos tiveram até hoje para fazer campanha junto dos emigrantes. A maioria deles apostou em duas ou três cidades para tentar convencer os eleitores. França e Inglaterra foram os destinos preferidos. As estratégias diferiram, mas à Renascença, a maioria dos partidos admite que a repetição das eleições vai provocar um aumento da abstenção.

Paulo Pisco, deputado e cabeça de lista do PS pelo círculo da Europa, revela que ao longo das últimas semanas esteve em Estugarda, Luxemburgo, Londres e Paris em campanha. O socialista afirma que uma das prioridades foi “explicar às pessoas” o problema que obrigou à repetição do ato eleitoral, no entanto, acredita que a participação deve cair. “Creio que possa haver alguma tendência para haver alguma abstenção”.

A mesma opinião tem Maria Ester Vargas, cabeça de lista do PSD por este círculo. A social-democrata apostou em Londres, no Reino Unido, onde a caravana europeia do PSD foi “muito bem recebida”, em Paris e em Lyon. Maria Ester Vargas tem alguma esperança de que as pessoas vão votar.

É natural que possa subir a abstenção, mas isso pode não acontecer. Nós contactámos pessoas que não tinham votado da primeira vez, e que agora manifestaram vontade de o fazer”, revela a candidata pelo PSD.

O objetivo de Maria Ester Vargas foi também o contacto com as pessoas para “esclarecer as pessoas relativamente ao que se passou e o motivo pela qual estas eleições vão ser repetidas”.

O Chega esteve em França, Suíça e Inglaterra em campanha. À Renascença, Diogo Pacheco Amorim, vogal da direção do Chega e deputado recém-eleito, revela que o partido esteve perto das comunidades portuguesas, com André Ventura, para as auscultar. E explica que não foi “agradável” o que ouviu, referindo-se à anulação do ato eleitoral.

Sem ilusões, o dirigente do Chega prevê que “a abstenção vai necessariamente aumentar”, e revela ainda que tem “esperança” em eleger um deputado “caso os níveis de abstenção voltem aos de 2019”.

A Iniciativa Liberal esteve na Alemanha e na Bélgica em campanha para “falar com as comunidades portuguesas, apelar ao voto e pedir para que não desistam da democracia em Portugal”.

A candidata Carolina Diniz faz um retrato à Renascença do estado de espírito em que estavam as pessoas com quem se cruzou. “Essencialmente desiludidas porque isto vem confirmar um sentimento de abandono dos portugueses que estão fora”.

Em relação à participação, Carolina Diniz diz que espera que a abstenção “não aumente” e aproveita a deixa para criticar os partidos ditos “tradicionais”.

“Já sendo conhecidos os resultados em Portugal, espero que os portugueses percebam quem é que os colocou nesta situação”, diz a candidata liberal.

O Bloco de Esquerda apostou nas redes sociais durante estas semanas. À Renascença, Teresa Soares, cabeça de lista pelo círculo da Europa revela que não houve nenhum país onde o partido tentasse chegar “com mais incidência”.

A candidata bloquista revela que encontrou pessoas “que ficaram realmente muito magoadas e desiludidas” com a anulação de 80% dos votos. Por isso, não tem dúvidas sobre o impacto que isso terá na participação. “A abstenção vai aumentar certamente”, atira Teresa Soares.

Menos pessimista está o PCP. Joana Carvalho, candidata pelo círculo da Europa, defende que “não é inevitável que a abstenção suba”. À Renascença, a comunista sublinha que nestas eleições a participação aumentou em relação a 2019.

A caravana europeia da CDU esteve nas “ruas de Londres, no Little Portugal”, onde conversou com os eleitores “em restaurantes e cafés”. Apesar do otimismo, Joana Carvalho admite que sentiu que os emigrantes na europa se sentem “negligenciados”.

O PAN esteve nos Países Baixos. Rogério Castro, cabeça de lista do PAN ao círculo da Europa, contou com o apoio da porta-voz do partido, Inês Sousa Real, para se deslocar a Amesterdão e Haia. Foi nesta segunda cidade, sede do Tribunal Penal Internacional, que o PAN se juntou a uma manifestação “contra a invasão da Ucrânia por parte da Rússia”.

À Renascença, Rogério Castro, candidato do PAN, explica que está confiante que o intensificar das campanhas por parte de todos os partidos, faça com que os portugueses “continuem a votar”. Ainda assim, admite que o facto de a configuração parlamentar já estar definida e o problema da contagem dos votos do círculo eleitoral da Europa possa prejudicar a participação.

O CDS vê estas eleições como uma última oportunidade de não perder a representação parlamentar. Francisca Sampaio, candidata pelo círculo da Europa, revela que encontrou eleitores “muito irritados, e com razão, por ver que os seus votos não são valorizados”.

A candidata centrista “saúda” a CNE por permitir o voto por correspondência e afirma que essa é a maior esperança que tem para que a abstenção não suba em relação ao ato eleitoral anterior.

Guerra

Entre o período de eleições e esta repetição, a Rússia invadiu a Ucrânia e a guerra instalou-se na zona leste da Europa. Este é um tema que domina a atualidade desde o final de fevereiro e que influenciou este período eleitoral.

Paulo Pisco, candidato do PS, revela que o tema “é uma preocupação constante e permanente porque nesses países está-se muito mais próximo do conflito”. O socialista atira ainda uma farpa ao PSD, culpando os social-democratas por não haver um novo governo e uma nova Assembleia da República numa altura destas, por ter sido o PSD a contestar o voto da emigração.

Do lado do PSD, a candidata Maria Ester Vargas acredita que a guerra na Ucrânia não influenciou “diretamente” a campanha, mas todos os emigrantes demonstraram “repúdio” em relação ao comportamento das tropas russas. “Sentimos uma grande vontade de ajudar o povo ucraniano”, relata a social-democrata.

O Chega tem uma visão mais objetiva da questão. Diogo Pacheco Amorim considera que “as atenções começaram a concentrar-se mais na possibilidade desta guerra” e que isso “veio retirar bastante protagonismo deste ato eleitoral, e não sabemos como é que isso se vai repercutir nos níveis de abstenção”, acrescenta o vogal da direção do Chega.

Numa situação de guerra, qualquer campanha eleitoral parece uma coisa fútil”, atira Carolina Diniz, candidata da Iniciativa Liberal, que reforça a posição do partido neste conflito. “Defendemos que Portugal deve receber todos os ucranianos que escolham o nosso país para viver”, refere à Renascença.

O Bloco de esquerda defende que este é um conflito que “não deveria estar a acontecer”. A candidata Teresa Soares reitera o apoio aos ucranianos, vítimas deste conflito.

O PCP, que tem estado no centro das atenções por não criticar diretamente a invasão, tentou esclarecer a posição à Renascença. “A posição do PCP é clara: condena a invasão da Rússia à Ucrânia”, explica Joana Carvalho, candidata comunista. No entanto ressalva que o “contexto é complexo” e não é “preto no branco”, para justificar as posições do PCP nas últimas semanas sobre o conflito.

A candidata do círculo da Europa pelo CDS tem uma maior proximidade com a guerra. Francisca Sampaio trabalha na NATO, na divisão Operações e considera que a invasão russa à Ucrânia prejudicou a campanha.

“Houve outro candidato que pôde tirar férias. Eu não pude fazer isso porque não me pude ausentar da NATO”, mas essa “tinha de ser a prioridade”, remata a candidata.

Objetivo

Todos os partidos querem eleger, mas só sobram dois lugares na Assembleia da República. Habitualmente, o PS e o PSD conseguem eleger um deputado cada um. Os partidos dividem-se quanto aos objetivos.

O PS ambiciona conquistar o outro lugar ao PSD. “Gostaria muito de eleger os dois deputados. Temos razões para acreditar que isso é possível. A confiança no Partido Socialista é muito importante”, afirma Paulo Pisco.

O PSD quer exatamente o mesmo. Maria Ester Vargas acredita que “quem tem um, gosta de ter dois”, mas a candidata social-democata admite que num cenário “realista”, o principal objetivo é “manter o deputado já eleito”.

O Chega coloca a eleição de um deputado na mira. Diogo Pacheco Amorim admite ter uma “vaga esperança” de tentar tirar um deputado ao PSD, que habitualmente elege um deputado pelo círculo da Europa. A Iniciativa Liberal tem o mesmo objetivo. Carolina Diniz reconhece que é ambicioso, mas acredita nele.

O CDS vê neste fim-de-semana a última chance de reverter o resultado das eleições de janeiro. “São eleições especialmente importantes para o CDS. Perdemos a representação parlamentar e temos aqui a oportunidade de modificar esse resultado.”

Francisca Sampaio acredita que os eleitores do círculo da emigração europeia têm “uma vantagem”, porque “já sabem como é que esta história acaba”, referindo-se à maioria absoluta do PS. A centrista considera por isso que “fará todo o sentido votar no CDS”.

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