18 fev, 2022 - 07:00 • Manuela Pires , Sofia Freitas Moreira (vídeo)
O presidente da Câmara de Cascais coloca Luís Marques Mendes na rota da sucessão a Rui Rio. "Há um conjunto de senadores que têm uma oportunidade de ajudar o partido esse é um dos nomes que vem logo à cabeça", diz Carlos Carreiras em entrevista à Renascença.
Dois meses e meio depois da eleição de Rui Rio, o PSD vai ter de escolher novo líder. Quem é que deve ser o novo presidente do partido?
Considero que neste momento o mais aconselhável era encontrar para líder do partido uma figura de referência, para a maioria dos militantes, e neste cenário os vice-presidentes da direção seriam os presidentes executivos.
E que perfil deve ter essa figura de referência?
Alguém com muita experiência, com uma idade mais avançada e que se mantenha ativo na política.
Pode ser o senhor?
Não, de todo. O meu partido é Cascais e não estou nada virado para isso, até por razões de saúde.
Mas pensou em alguém?
Tenho feito essa reflexão e há um que me parece evidente, que está sempre atual e bem informado que é Marques Mendes. Seria um senador com condições para agregar os vice-presidentes, que seriam os presidentes executivos por regiões, onde somos relevantes. Por exemplo nas autarquias, Cascais, Lisboa e Braga que são as maiores câmaras, eu e Carlos Moedas não podemos, mas Ricardo Rio podia estar disponível para ser um desses autarcas e até chamar os líderes regionais. A ideia é apanhar o que ainda resta dentro do partido, as pessoas quem tem experiência e competência. Essa seria uma solução ideal.
Falou com Marques Mendes sobre esta ideia?
Não. Mas considero que há um conjunto de senadores que têm uma oportunidade de ajudar o partido e também têm alguma responsabilidade porque são o que são por via do partido. Esse é um dos nomes que vem logo à cabeça, mas não quero excluir ninguém.
Nas conversas que tem com militantes parece-lhe que esta é uma solução viável?
Não tenho tido conversas, aliás até as tenho evitado porque as poucas que tive era para me empurrarem a mim para a liderança.
Este líder seria para quatro anos para levar a cabo uma espécie de refundação do partido, e depois o líder seguinte seria o candidato a primeiro-ministro?
Nunca aconteceu no PSD, mas segundo os estatutos do partido o candidato a primeiro-ministro não tem de ser necessariamente o líder do partido. A solução viável era depois termos um candidato a primeiro-ministro diferente do presidente do partido.
Rui Rio vai abandonar a liderança do partido na sequência da derrota nas eleições legislativas. Ficou surpreendido com o resultado?
Não fiquei surpreendido com o resultado e mesmo quando as sondagens davam o PSD muito próximo nunca acreditei, apontando para uma diferença entre 8 a 10 por cento. Fiquei triste e preocupado.
O que é que falhou? A estratégia de campanha foi um erro?
Acho que é mais profundo, é um problema estrutural do PSD mas que foi muito acentuado pela chefia do partido. Nós não tivémos uma liderança, mas antes um mau chefe de facção. Não vale a pena dizer, como ouvi uma vice-presidente do partido (Isabel Meireles) na noite das eleições afirmar que a culpa é do povo. Ninguém está a pensar que mandamos o povo embora e depois arranjamos outro para votar no PSD.
Houve um conjunto de erros e estamos a falar da liderança com as derrotas mais pesadas depois das maiorias absolutas de Cavaco Silva.
Tem criticado a liderança de Rui Rio …. Aliás está agora a fazer um ano que o líder do PSD disse que era um incompetente … ao que o senhor respondeu que “Ataques vindos de Rui Rio não são cadastro, são enriquecimento de curriculum”. Estes quatro anos de Rio no PSD deixam marcas no partido, o desinteresse e o afastamento de muitos militantes .. vai demorar tempo a reconstruir o PSD?
Esse episódio é curioso, porque eu era candidato e tinha o líder do meu partido a fazer esse comentário. Na altura tive algum recato, mas agora não. Ele dizia que eu era incompetente, mas agora Rui Rio ganhou menos concelhos do que nessas eleições autárquicas e por isso imagino como é que Rui Rio deve estar martirizado por ainda ter conseguido ser mais incompetente do que aquilo que ele dizia que eu tinha sido.
E como é que Rui Rio deixa o partido?
Eu não quero dramatizar, mas acho que o PSD está numa situação muito difícil. Primeiro é um partido que se tornou irrelevante na política nacional e pode pôr em causa a própria sobrevivência do partido.
Acredita que o PSD está à beira do fim?
Se não tiver cuidado corre esse risco. Tem de ser uma responsabilidade assumida colectivamente e não do líder que sair das próximas directas. Os portugueses não têm paciência para ver um partido cometer sempre os mesmos erros e a não aprender nada com eles.
Na sua opinião, qual é a principal tarefa do próximo líder?
O PSD tem de fazer um movimento refundador porque senão arrisca a acontecer o mesmo que em Lisboa. António Costa venceu as eleições intercalares para a câmara municipal e ficou lá 15 anos e eu temo que Costa tenha a possibilidade de fazer os mesmos 15 anos no governo. Nesta altura o PSD tem tempo, e por isso vamos ser ponderados e responsáveis e encontrar uma solução sólida para o país.
Desta vez vai apoiar algum candidato?
Tenho deveres de lealdade e tenho de aguardar pelos candidatos.
Dos nomes que sem se fala, Paulo Rangel, Luis Montenegro, Miguel Pinto Luz, Jorge Moreira da Silva. Qual destes é, na sua opinião, o mais indicado para liderar o PSD nesta altura?
São todos bons quadros, andam na casa dos 40 anos de idade, já que estamos a fazer uma corrida de fundo é importante ter alguém que possa perspetivar a quatro e a oito anos. Tenho uma relação de amizade com eles e sinto que tenho um dever de lealdade. Há um que sou totalmente suspeito: Miguel Pinto Luz, que é um quadro excecional que o partido tem. Mas tenho de aguardar porque depende da vontade de cada um.
Considera que o Conselho Nacional deste fim de semana devia marcar já a data das diretas?
Deve ser o mais rápido possível.
O Tribunal Constitucional decidiu que os emigrantes vão ter de repetir o voto no círculo da Europa. O PSD protestou, mas inicialmente esteve a favor da validade dos votos.
É uma vergonha nacional, um atestado de incompetência passado a todos os partidos, mas o PSD ainda agravou essa trapalhada porque chegou a um acordo, de como é que se pode violar a lei e depois recuou. Isto mostra mais uma vez uma falta de liderança destes partidos.