Legislativas 2022

Dos autógrafos à promessa da “lei de João Semedo”: o dia do Bloco de Esquerda

22 jan, 2022 - 00:47 • Tomás Anjinho Chagas

Catarina Martins teve dia de campanha preenchido, com passagem por três cidades: Lisboa, Leiria e Coimbra. Para o final do dia, guardou uma promessa: no primeiro dia da próxima legislatura, o BE irá apresentar um novo projeto de lei da eutanásia, a “lei de João Semedo”

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“Eu acho que ela é uma política muito boa, e uma pessoa muito simpática”, diz à Renascença um rapaz com um autógrafo de Catarina Martins nas mãos. No Agrupamento de Escolas de Marrazes, em Leiria, a coordenadora do Bloco de Esquerda foi recebida em festa.

Os gritos dos jovens ecoaram nas paredes da escola. “Ela é uma deputada, presidente do partido. E está a candidatar-se a primeiro-ministro”, diz Madalena (nome fictício) de 13 anos. A aluna está entusiasmada com a visita de Catarina Martins. “É bom conhecermos os políticos e termos uma boa educação”. ´

Mas o mesmo não acontece com o Nuno (nome fictício), também de 13 anos: não sabia quem era a pessoa que estava de visita. “Não, não, não”, responde quando questionado sobre se lhe interessa a política. Prefere outros temas, “o futebol, o futsal, o desporto”.

“É a Marta Temido!”, exclama outro aluno mais novo.

Durante a visita guiada pela escola, Catarina Martins foi perseguida por largas dezenas de alunos onde quer que fosse. E o responsável foi contando à líder partidária os problemas que afetam o estabelecimento: desde a degradação das salas de aula até à sobrelotação da escola.

“As escolas estão a funcionar, sem capacidade de receber mais alunos. Os que recebemos já são em caráter extraordinário”, explica Edgar Brites, diretor do agrupamento.

A ocasião deu à coordenadora do Bloco de Esquerda as propostas da direita para a educação. “Não há nenhum serviço como a escola pública como instrumento de igualdade. Eu ouço a direita falar de cheques-ensino e coisas do género. O que propõe é um desconto para os pais que já têm os filhos na escola privada, mas que para a generalidade das famílias portuguesas, não serve para absolutamente nada”, disse Catarina Martins, numa crítica implícita a uma ideia do CDS.

Em Lisboa, sobre saúde

A caravana liderada por Catarina Martins passou a manhã na Unidade de Saúde da Baixa, em Lisboa.

A líder bloquista aproveitou o contexto para apontar o dedo à revisão constitucional prevista no programa do PSD, em matéria de saúde. Não faz sentido atribuir um médico assistente aos utentes que ainda não têm médico de família através do SNS, defendeu.

No mesmo périplo, Catarina Martins escusou-se a comentar as mais recentes sondagens, que apontam para uma subida da direita. “Há sondagens para todos os gostos.” Mas destacou a quantidade de indecisos nas projeções e disse que é” fundamental nesta campanha falar sobre soluções”.

Eutanásia de volta

No comício com que encerrou o dia, o Bloco de Esquerda fez subir ao púlpito várias figuras do partido. Depois de Miguel Cardina, segundo nome na lista de candidatos a deputados por Coimbra, e Marisa Matias, eurodeputada e mandatária das listas do Bloco, foi a vez de José Manuel Pureza, que dedicou o discurso quase exclusivamente ao tema da corrupção.

O atual deputado e cabeça de lista por Coimbra elencou os maiores escândalos que tiveram palco em governos de maioria absoluta. Pureza falou dos crimes de colarinho branco como “a corrupção a sério, que tem gravata e que surripia milhões”. O deputado lembrou ainda os casos que envolvem Manuel Pinho e sublinhou que aconteceram em momentos de maioria absoluta.

Num discurso que arrancou uma grande salva de palmas dos presentes comício, o bloquista terminou lançando um apelo: “No momento de votar, lembremo-nos de Manuel Pinho, ministro de um governo de maioria absoluta.”

Por sua vez, Catarina Martins reafirmou aquilo que sublinhou durante o dia, saindo em defesa dos serviços públicos. E críticas à direita por propostas como o cheque-ensino ou a ideia de atribuir provisoriamente um médico assistente às pessoas que ainda não têm um médico de família do SNS.

E deixou uma promessa: o Bloco irá apresentar um novo projeto de lei para a nova legislatura.

"A garantia que vos quero dar é que no primeiro dia da próxima legislatura, o Bloco de Esquerda apresentará o projeto de lei para despenalizar a morte assistida com uma formulação que vai ao encontro do que foram os reparos do Tribunal Constitucional, desfazendo todas as dúvidas de eventuais ambiguidades que alguém tenha sentido", disse.

Segundo a líder do BE, "com uma lei muito ponderada", "com o respeito profundo por quem sofre" e "com a humildade de saber" que é preciso "ouvir e respeitar o desejo último de cada um e de cada uma, a morte assistida será despenalizada em Portugal" e haverá "a lei de João Semedo".

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