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Legislatura em análise

PS votou mais vezes ao lado do PSD do que do BE e PCP

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PS votou mais vezes ao lado do PSD do que do BE e PCP

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29 nov, 2021 - 06:59 • Joana Gonçalves

Das 3.941 iniciativas parlamentares votadas na presente legislatura, os socialistas votaram ao lado do partido de Rui Rio em quase 60% do total. O PS votou mais vezes em concordância com os sociais-democratas do que com qualquer outro partido, incluindo BE e PCP.

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Em 2019 três partidos conquistaram, pela primeira vez, assento parlamentar. A estreia no hemiciclo fez renascer a questão da proximidade política entre bancadas, por um lado, e do posicionamento absoluto no espectro, por outro. O CDS contestou o lugar do deputado único do Chega e Cotrim Figueiredo, da Iniciativa Liberal, pediu publicamente que lhe fosse atribuído um lugar "o mais longe dos extremos possível".

O debate em torno da distribuição de assentos foi motivação para o trabalho de Frederico Munõz, que analisou o resultado das votações de mais de 10 mil iniciativas parlamentares, desde o início da “Geringonça”.

A intenção seria estabelecer entre os vários partidos um nível de proximidade que permitisse agrupá-los, “tendo em conta não o seu programa, não as suas afirmações públicas, mas o seu comportamento concreto naquilo que define a sua actividade parlamentar - as votações”.

A análise final não põe fim ao jogo de cadeiras, mas revela antes que, a seguir-se esta lógica, os lugares não seriam fixos. Nos últimos seis anos, entre outubro de 2015 e o mesmo mês de 2021, são notórias aproximações e distanciamentos entre bancadas.

O Partido Socialita, que começa a preparar terreno para novas e antigas alianças, parece afastar-se dos parceiros de esquerda, que viabilizaram a solução governativa em 2015. A clivagem torna-se significativa a partir de 2018, altura em que a bancada liderada por Ana Catarina Mendes apresenta, pela primeira vez, maior distância face a alguns dos partidos à sua esquerda do que em relação ao PSD.

Na presenta legislatura, o PS votou mais vezes ao lado dos sociais-democratas do que de qualquer outro partido, incluindo BE e PCP. Ao contrário do que se verificou em 2015, por exemplo, ano em que o PS ficou atrás do PSD nas legislativas.

À análise de Frederico Munõz, que contabilizou as votações até 27 de oubtubro de 2021, acrescem os resultados das votações de todo o mês de novembro, analisadas pela Renascença e disponíveis para consulta no site da AR.

Das 3.941 iniciativas parlamentares votadas entre 25 de outubro de 2019 e 26 de novembro de 2021, os socialistas votaram ao lado do partido de Rui Rio 2.321 vezes, ou seja, quase 60% do total de votações. Já comunistas e bloquistas somam votações idênticas à do PS em menos de metade das iniciativas, com 40% e 42%, respetivamente.

A quebra é especialmente notória depois de observados os resultados da XIII legislatura, com os três parceiros bem mais alinhados. No conjunto dos quatro anos, tanto BE como PCP registam 65% dos votos em concordância com o PS.

Mas mais relevante do que a soma de votos em conformidade, defende Frederico Munõz, autor desta análise, é o indicador que faz uma distinção entre voto contra e abstenção e que considera, também, a proximidade de cada partido em relação aos restantes, no momento de definir afinidades.

“[O gráfico anterior] não faz nenhuma distinção entre votações diferentes serem abstenções ou votos contra. Se um partido vota a favor e outro se abstém ou um terceiro vota contra é, nesse contexto, exatamente o mesmo. Eu não creio que seja rigorosamente verdade, no sentido em que uma abstenção não é o mesmo que um voto contra, do ponto de vista daquilo que é a sua distância programática”, explica o especialista em ciência e arquitetura de dados, em entrevista à Renascença.

Foi com base nestas considerações adicionais que Frederico Munõz desenvolveu as matrizes de distância para todos os anos das últimas duas legislaturas. A aproximação do PS ao PSD é igualmente visível.

Evolução do alinhamento dos partidos, nas votações da AR, desde o início da "Geringonça"

O analista, atualmente no SAS Institute, aponta, ainda, o que diz ser uma limitação. “Eu utilizei as votações no parlamento. Se o parlamento vota 99% das vezes sobre questões de política económica, é isso que fica plasmado naquilo que é o posicionamento dos partidos”, explica.

Assim, Munõz não nega que “existam partidos que até possam parecer relativamente próximos do ponto de vista das votações, que tenham posições muito diferentes noutras áreas, que simplesmente não são sujeitas a tantos votos”.

Com mais ou menos votações idênticas, Rui Rio abriu esta semana a porta a António Costa e manifestou disponibilidade para viabilizar um Governo do PS. Frederico coloca a questão - foi o PS que se deslocou para a direita, ou o PSD para o centro?

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