"Triângulos amorosos" e "negócios da China" em tempo de crise. O debate do estado da nação em 20 frases

24 jul, 2020 - 16:22 • Ricardo Vieira

A pandemia de Covid-19, que empurrou o país e o mundo para a incerteza e uma das piores crises da História, atravessou todo o debate do estado da Nação, que fica também marcado pelo convite em direto de António Costa para uma reedição da "geringonça", com PCP e Bloco de Esquerda. O primeiro-ministro piscou o olho à esquerda, para evitar uma crise politica, ao mesmo tempo que hostilizou o PSD, de Rui Rio, que apelidou de partido "fossilizado" e de "velhos do Restelo".

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Um vírus “demolidor” para a saúde e para o emprego num país de luto e em luta contra uma crise que está para durar, marcou o debate do estado da Nação, na Assembleia da República.

Ao longo de quatro horas, também houve “triângulos amorosos”, com um António Costa “bonzinho”, a querer dar uma nova chance à “geringonça” de esquerda, e “feroz” com um PSD “fossilizado”. Rui Rio chamou o Ministério Público por causa do contrato do Novo Banco e fez "explodir" politicamente o primeiro-ministro com alertas sobre a aposta no hidrogénio tornar-se numa bomba de rendas excessivas, qual "negócio da China".

Também houve conselhos oftalmológicos, “fanáticos” liberais a citar Eça de Queiroz, um primeiro-ministro a recuperar os "velhos do Restelo", de Camões, e helicópteros a despejar dinheiro europeu. Foi assim o debate do estado da Nação, aqui resumido em 20 frases.

“Somos hoje uma nação consternada no luto, mas mobilizada para a luta. Vivemos um momento único de sentimentos mistos, de choque pela perda de vidas humanas, de angústia com o estado de saúde com os que estão doentes, de incerteza sobre o futuro de empresas, empregos e rendimentos, de admiração por todos os que estão na primeira linha da prevenção e tratamento da Covid-19. De determinação em travar combate férreo à pandemia e à crise económica e social que desencadeou. De confiança na capacidade dos portugueses se superarem nos momentos de exceção, como aquele que vivemos”. António Costa, primeiro-ministro

“Não podemos deixar ninguém para trás. A destruição do emprego é um também vírus demolidor que tem de ser travado e a pobreza é a nossa linha vermelha. Temos de assumir esta ocasião de exceção como oportunidade de mudança estrutural”. António Costa, primeiro-ministro

"Nada substitui o ensino presencial e a escola pública. A partir de setembro, a escola voltará para todos em regime presencial, mas com as devidas cautelas e regras de segurança, tendo de estar preparada para, em função das circunstâncias sanitárias, evoluir para regime misto ou mesmo não presencial". António Costa, primeiro-ministro

“Temos de assumir esta ocasião de exceção como oportunidade de mudança estrutural. O esforço de reconstrução tem que ter efeitos económicos e sociais imediatos e estar ancorado numa ambição de futuro, de acelerar o combate às alterações climáticas, concretizar transição digital, reforçar autonomia estratégica da economia, aproveitar melhor os recursos e combater as desigualdades. São muitos os desafios em várias frentes”. António Costa, primeiro-ministro

“Ninguém espere deste Governo qualquer contributo para uma crise política que ponha em causa a estabilidade desta legislatura. Pelo contrário. A resposta a esta crise não passa pela austeridade ou qualquer retrocesso nos progressos alcançados nos últimos cinco anos. Por isso, é com os partidos que connosco viraram a página da austeridade que queremos continuar o caminho iniciado em 2015. Para esse efeito, precisamos de um quadro de estabilidade para o horizonte da legislatura. Precisamos de um entendimento sólido e duradouro”. António Costa, primeiro-ministro

"Talvez agora António Costa reconheça o erro que fez no início desta legislatura ao recusar um acordo com o Bloco de Esquerda para recuperar direitos do trabalho. Afinal, o BE nunca colocou pré-condições inaceitáveis, mas apontou a um caminho imprescindível de defesa de quem trabalha. Senhor primeiro-ministro, o nosso horizonte sempre foi o da legislatura, nunca colocamos é o nosso mandato na gaveta". Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda (BE)

“O Governo anunciou um projeto que considero extremamente perigoso. Pode assegurar que, para a produção de hidrogénio, não vamos assistir a rendas garantidas, leia-se excessivas, que aconteceram no governo Sócrates, pode garantir que não vai repetir os mesmos erros? Que não haverá mais negócios da China? Não temos condições para aventuras nem para ideias megalómanas”. Rui Rio, presidente do PSD


"O que fica deste estado da Nação é o pedido de namoro ou renamoro do PS ao Bloco de Esquerda e ao PCP. Mas com os olhinhos que tem feito ao PSD, tenha cuidado, os triângulos amorosos não costumam funcionar muito bem". André Ventura, deputado do Chega

“O esforço de recuperação não deve ser olhado como um helicóptero que distribui dinheiro para satisfazer as necessidades de hoje, mas com uma ambiciosa visão de futuro. É chocante ver como o PSD nada aprendeu com a história. O PSD tornou-se num partido do conservadorismo atávico. Foi contra as renováveis e chegou tarde à história para defender as renováveis. Agora é contra o hidrogénio. Está fossilizado na defesa das energias fósseis e está desligado dos setores mais dinâmicos e inovadores da sociedade portuguesa, portanto, infelizmente não podemos contar com o PSD para construir um país do futuro. O PSD é hoje o partido dos velhos do Restelo”. António Costa, primeiro-ministro

“O senhor primeiro-ministro descreveu um país quase das maravilhas. Afetado pela pandemia, mas quase das maravilhas. A maioria das soluções para os pequenos negócios são moratórias, não acabaram os impostos, mas vamos adiar os pagamentos. De concreto, tem alguma coisa a dizer a estas pessoas e tem alguma medida para lhes apresentar”, além de “grandes declarações e grandes pacotes”. Cecília Meireles, deputada do CDS

“Não é justo nem pode acontecer que continue a haver portugueses sem o devido e atempado tratamento de todas as demais patologias. Se no início da pandemia tais falhas eram compreensíveis com o decorrer do tempo essas falhas são inaceitáveis. É preciso recuperar os atrasos no próximo ano letivo. Se o Governo não o fizer estamos a penhorar o futuro do país e dos jovens estudantes”. Rui Rio, presidente do PSD

“Com a nossa dívida pública e endividamento externo, qualquer erro que o Governo cometa terá efeitos decisivos para o nosso futuro. Desta vez não há margem para falhar nem para adiar". Rui Rio, presidente do PSD

"Tudo o que temos visto e ouvido é já suficiente para o Ministério Público se possa debruçar sobre a forma como este contrato de venda do Novo Banco à Lonestar tem vindo a ser executado". Rui Rio, presidente do PSD

"Se o estado da nação é preocupante, o estado da democracia é pior. O fim dos debates quinzenais é um golpe fatal no papel do Parlamento tal como o conhecemos, levado a cabo por uma maioria PS/PSD. Nunca como hoje fez tanto sentido - e é uma ironia que seja eu a recordá-lo - o célebre discurso da asfixia democrática do doutor Paulo Rangel [PSD]”. Telmo Correia, líder parlamentar do CDS

“Senhor deputado André Ventura, estou muito feliz com a diretora-geral da Saúde e com o primeiro-ministro. Por favor, leia as notas de rodapé. Eu sei que elas são pequeninas, mas temos consultas de oftalmologia. Está cá escrito porque é que os dados dos concelhos não coincidem com o todo nacional, porque essa importação é feita à posteriori”. Marta Temido, ministra da Saúde

“Estamos a trabalhar com a Ordem dos Médicos para duplicar o número de vagas para a especialidade em Saúde Pública, excecional e imediatamente”. Marta Temido, ministro da Saúde

"A crise não é passado, é presente e futuro. O Governo não pode garantir que não vamos viver tempos difíceis, em que o emprego e os rendimentos das famílias sejam afetados, as exportações se ressintam, em que algumas empresas não resiste. O que podemos garantir é que responderemos à crise com medidas que contrariam a crise e não que a agravam". Mariana Vieira da Silva, ministra da Presidência

"É uma chatice quando há pessoas a quem chamam de fanáticos que não se resignam perante a decisão de enterrar 1.200 milhões de euros na TAP, quando pagamos impostos recorde e falta dinheiro para tudo o resto. "É uma seca, como diria o Eça, quando há pessoas que não acham normal que o ministro das Finanças passe diretamente para o Banco de Portugal". João Cotrim Figueiredo, deputada da Iniciativa Liberal

"O que há muito estava mal, encontra-se hoje pior. Tal como no passado noutras circunstâncias, mais uma vez, uns e outros, esperam por uma solução milagrosa que há de vir de fora. A crise pandémica permite retirar lições que apontam para a necessidade de assegurar uma política alternativa, patriótica e de esquerda”. Jerónimo de Sousa, líder do PCP

"Eu não estava cá, mas ouvi o que disse [André Silva, do PAN], e bem, aquilo que foi o massacre chocante dos animais em Santo Tirso. É absolutamente intolerável o que aconteceu". António Costa, primeiro-ministro

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