13 dez, 2024 - 18:20 • André Rodrigues
Risoleta Monteiro vive na Pasteleira, paredes-meias com o ringue junto à Rua de Bartolomeu Velho, mesmo ao lado da igreja do bairro.
“Encontrei o projeto aqui neste campo. Estava com os meus primos que, um dia, vieram jogar futebol e tinha aqui formadores a dançar break”, conta à Renascença.
Foi em 2020. Risoleta tinha, então, 16 anos. "Eu reparei, mas não me juntei muito”, reconhece.
Mas o convite de Roman Bedusenko, um russo-ucraniano de Luhansk há 13 anos em Portugal, despertou a curiosidade e o gosto pelo movimento de uma arte que nasceu nos bairros de Brooklyn, em Nova Iorque. “Ele veio ter comigo e disse: sabes, as meninas também dançam”. E Risoleta ficou desde o início.
“Nós estamos aqui no bairro e vemos as pessoas a consumir droga e a roubar perto de nós, mas nós temos de continuar a nossa missão”, sublinha Roman, mais conhecido como ‘Professor XXL’.
Do contacto frequente com as crianças e jovens do Bairro da Pasteleira, um dos oito envolvidos neste projeto da Ágora - Empresa Municipal de Cultura e Desporto, este instrutor de break-dance tem a certeza de que, para quem anda no desporto, “a realidade pesada não afeta”.
Volta e meia, a Pasteleira é notícia pelas piores razões. Sobretudo, por causa da toxicodependência que se arrasta a reboque do tráfico em constante movimento no emaranhado de blocos de prédios.
“Estas crianças mostram que são normais. Aliás, são mais puros do que outras crianças de outras partes da cidade que não têm facilidade em obter as coisas que querem. Quando eles conseguem, dão muito mais valor”, assegura o russo-ucraniano.
Porto
Num relato à Renascença, uma moradora dos arredore(...)
Max Oliveira, curador do Desporto no Bairro, concorda e desconstrói a ideia de que um bairro social é uma soma de problemas: “é a carência que, muitas vezes, leva a comportamentos negativos”. Carência a vários níveis, que vão desde a falta de oportunidades à ausência de afeto nas famílias.
"Basta mudar a vida de um jovem para um caminho digno e positivo, que já vale a pena”, acrescenta Max, que assegura que são muitos os que fazem esse caminho de reconversão social.
Viver na Pasteleira, no Lagarteiro, na Fonte da Moura, no Viso ou em Miragaia não tem de ser sinónimo de condenação social. O bairro constrói vidas que reclamam por um futuro.
“Aqui há jovens e crianças a crescer, que têm sonhos e têm objetivos”, lembra Risoleta. Ela própria os tem e está a fazer pela vida. Esta jovem de 20 anos, moradora na Pasteleira está a tirar o mestrado em Matemática Aplicada, o que lhe abrirá as portas “para trabalhar em muita coisa”.
“Não é por estar aqui que eu quero este estilo de vida para mim”, assegura.
Este domingo, dia 15, os miúdos do break-dance levam o bairro ao centro da cidade. A partir das 18h00, a Avenida dos Aliados vai ser o palco onde mostrarão aquilo que aprenderam durante os últimos nove meses desta quinta edição do Desporto no Bairro.
“Para quem acha que vai assistir um espetáculo dos meninos do bairro amadores, é bom que tire os seus chapéus da chuva”, avisa Max Oliveira.
“Vai ser um espetáculo excelente, com jovens que estão num projeto social digno e que vão performar ao mais alto nível”, acrescenta o coordenador do projeto.
Já Risoleta não esconde algum nervoso miudinho, mas o olhar brilha quando fala da experiência de ir ao centro da vida do Porto para atuar aos olhos das centenas de pessoas que irão passar pela sala de visitas da cidade.
"Quero fazê-lo, para dar o melhor de mim... Para minha mãe ficar orgulhosa, para os meus amigos gostarem”.
Para que, enfim, percebam que a alegria da arte do break-dance “é o sentimento mais leve de todos”.
Reportagem Renascença
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