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Reportagem

Despejos em Loures. "Estamos à espera da decisão, mas não temos para onde ir"

12 dez, 2024 - 12:35 • João Cunha

Em Loures, ainda não avançou o prometido despejo e demolição por parte da Câmara Municipal de habitações precárias junto à fábrica da Sidul, em Santa Iria da Azóia, onde vivem cerca de 70 pessoas, entre as quais 21 crianças.

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A autarquia terá apenas informado os moradores da decisão com uma antecedência de 48 horas, sem garantir uma alternativa viável. O carácter precário e clandestino das construções levou a autarquia a decisão de desocupar as construções, sem que alegadamente tenha levado em conta a situação de quem nelas vive.

E os moradores lá estavam esta quinta-feira de manhã, á espera da polícia e das máquinas da autarquia, para assistir à destruição das barracas e de anexos construídos ao lado de dois edifícios que, há já algumas décadas, ocupam aqueles terrenos, frente á Sidul, em Santa Iria de Azóia.

João Trindade sabe que ele e os seus compatriotas - alguns com meias grossas nas mãos, por falta de luvas para suportar o frio - não deviam ali estar. Mas só ali estão por falta de alternativas.

"A Câmara tem razão por que estamos numa propriedade de forma ilegal. Mas viemos porque não temos para onde ir", tenta explicar este são-tomense, à Renascença.

Parte de um dos agregados a desalojar  Foto: João Cunha/RR
Parte de um dos agregados a desalojar Foto: João Cunha/RR
Uma das barracas a demolir  Foto: João Cunha/RR
Uma das barracas a demolir Foto: João Cunha/RR
Pertences dos moradores, retirados das habitações precárias  Foto: João Cunha/RR
Pertences dos moradores, retirados das habitações precárias Foto: João Cunha/RR

"A renda é um preço muito alto, e em Lisboa não há casas", adianta, lembrando que são imigrantes, “mas estamos a dar uma mão ao país e também pagamos impostos". Por isso, não hesita em pedir à Câmara " que procure uma forma, um jeito de nos dar um tempo para arranjar outro lugar onde poder ficar".

Até que consigam encontrar uma alternativa, vão tirando de dentro das barracas, a maioria com pouco mais de dez metros quadrados, o que é necessário.

"Está tempo frio e por isso, temos de ter mantas e algumas roupas, casacos, se isto vier abaixo".

Noutra zona do terreno, pontuado por plantações de milho, couve, alhos e pés de malagueta, um edifício de dois andares que demonstra o passar de anos e, ao lado do qual foram construídos anexos onde vivem outras pessoas.

Junto ao acesso às casas está uma mulher que traz algo às costas.

"É o Laurent, tem dois meses. Nasceu a 24 de setembro", diz Jacinta Ferreira, orgulhosa do seu recém-nascido, à Renascença. Também admite que sim, que invadiram o espaço por falta de alternativa. Mas agora pergunta "onde procurar casa, de um dia para o outro".

"Estou parida. Assim que o meu bebé fizer quatro meses e eu conseguir uma escola, eu vou trabalhar e procurar a minha vida. Não vamos estar mais em casa alheia", garante, enquanto deixa um apelo ao autarca de Loures.

"Tenham misericórdia das crianças nesse tempo de frio. Peço ao presidente da Câmara para intervir nesta situação, porque é muita, muita dor".

A assistir ao transporte de bens dos que temem as demolições para debaixo do viaduto do IC-2, ali a meia dúzia de metros, está Alberto Varela, que vive num dos tais barracos com pouco mais de dez metros quadrados.

Do lado esquerdo, depois de passar a porta de entrada, um lavatório e uma sanita, esta devidamente isolada com um gradeamento de plástico para permitir alguma privacidade. A meio do espaço, uma televisão e um frigorífico, que trabalham com eletricidade proveniente de uma puxada. E do lado direito, no chão, uma cama. Alberto já só pede um apoio para garantir a renda de um quarto para ele, a mulher e o filho.

"Que eu possa alugar e pagar a minha renda mensal. Até quatrocentos euros por mês. Isso é que é o mais fundamental para mim".

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  • Passagem
    12 dez, 2024 Portugal 15:34
    Como não conseguem nada aqui, e viver do Estado Social vai ser cada vez mais difícil sem a esquerdalha no Poder, já pensaram em voltar aos vossos Países? Até pagamos a passagem, com a condição de só voltarem com casa e contrato de trabalho certo.

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