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Reportagem

Manifestação CGTP. O desejo de ter "um país para os netos" e a "zanga" com a esquerda

09 nov, 2024 - 23:12 • Alexandre Abrantes Neves

Mais de mil pessoas desfilaram este sábado entre o Cais do Sodré e a Praça dos Restauradores em Lisboa. Queixam-se de viver a mais de cem quilómetros do local de trabalho, pedem um aumento geral dos salários e não só a "ilusão" do acerto do IRS - e deixam muitas críticas ao Governo, mas também ao PS.

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Reportagem Alexandre Abrantes Neves CGTP Lisboa 9 novembro 2024
Ouça aqui a reportagem da Renascença. Foto: António Pedro Santos/Lusa

“Está difícil”. Amélia Galvão é uma das dezenas de trabalhadoras da grande distribuição em greve este sábado. A participar na manifestação nacional da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP), Amélia carrega uma longa faixa a pedir melhores salários. No seu caso, não é só isso que está em jogo.

“Queria um aumento já em setembro para fazer face ao Orçamento do Estado [risos]. Mas, no meu caso, é mais do que dinheiro. São as condições de trabalho. Há falta de pessoal e saio prejudicada”, assinala.

Em casa, não é a única com queixas. A filha recém-licenciada tem cada vez mais dificuldade em encontrar emprego na área e em suportar a renda de uma casa. São preocupações de muitos jovens, que vamos encontrando aqui e ali na longa mancha vermelha, pintada por bandeiras da CGTP e, de quando em vez, pela de Portugal também.

Rodrigo Azevedo, de 28 anos, acusa o Governo de pensar apenas em alguns – “não há um aumento geral de salários e o IRS Jovem só chega a 30%, deixa uma larga maioria de fora”. Na habitação, as medidas anunciadas para janeiro também não são melhores – “mas quem é o jovem que consegue suportar a prestação de uma casa?” –, e, por isso, a sentença de Rodrigo está feita: “nas nossas vidas, não tem impacto nenhum”.

A cada esquina, a cada metro entre o Cais do Sodré e a Praça dos Restauradores, ouvem-se queixas de muitas das profissões que andaram nas bocas do mundo – desde professores a oficiais de justiça, aqui o acordo com o governo não faz esquecer o “aperto nos bolsos provocado pela pandemia e inflação”.

Os megafones – mais potentes do que o coro de vozes (cerca de mil, segundo a organização) que os segue – vão rodando entre vários gritos de ordem e trazendo à vez o que está na cabeça dos manifestantes. “Para os patrões são milhões, para os salários são tostões” ou “35 horas para todos” são frases que trazem curiosos à janela, que motivam perguntas por turistas e que até fazem empregados de cafés e restaurantes juntarem-se ao protesto por momentos nas esplanadas.

Mas, para Marta Saavedra, nada disto é novidade. As críticas, afinal, não são só para o governo – neste caso, foi a desilusão com “o partido de sempre” a principal causa para sair à rua.

“É a vontade dos políticos portugueses e não só os da direita. Devemos todos marcar uma posição como é preciso defender todos os grupos mais frágeis da população. (…) Estou muito zangada com o meu partido. Não tem sido um partido de esquerda”, lamenta à Renascença.

Marta prefere não dizer nomes, mas o do PS e de Pedro Nuno Santos paira no ar. E também é responsável pelo que se vê – e sente – quando se abre um site de arrendamento e venda de casas em Portugal.

[Para] trabalhar em Lisboa quase que é preciso ir viver para Leiria. Isto nem é uma piada, é verdade. E o Orçamento do Estado é uma pouca vergonha. Não ajuda nisto e só fragiliza mais os serviços públicos”, critica.

A cabeça do amigo Luís Dias vai anuindo à medida que a ouve. No almanaque para 2025, só vê “perspetivas negativas” e também na saúde, nomeadamente na emergência médica. Mas o pior é mesmo os salários – e a ilusão dos últimos meses.

“No mês de outubro e novembro, as coisas podem ter melhorado um pouco com o acerto do IRS. Agora em dezembro ainda há o subsídio de Natal. Mas em janeiro do ano que vem, vamos ser confrontados com a dura realidade – e os problemas que aí estão”, alerta.

Também o dinheiro no bolso – ou aquele que lhe falta – foi o que fez João Santos ver o pôr do sol frente ao Palácio Foz. É reformado, “ainda não fez as pazes” com a direita desde a Troika e, por isso, não tem “grandes expectativas” para os próximos anos. E se a falta de estabilidade para as filhas o preocupa, ainda mais para os netos.

Espero que este o meu seja um país para os meus netos também. Ainda são muito novinhos, tenho esperança que seja possível alterar as coisas”.

E se não for? “É continuar a luta”.

Comentários
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  • Anastácio Lopes
    11 nov, 2024 Lisboa 14:28
    Lamentavelmente, vão-nos entretendo e usando apenas e só em proveito dos que assim fingem dirigir a CGTP, o que nunca souberam fazer, pois se o tivessem sabido fazer, há muito que: 1- Tinham parado com as propostas de aumento na base da percentagem, como sempre o fizeram, as quais, só por si, são responsáveis da pobreza em que os trabalhadores mergulharam ao longo dos anos. 2 - Em 11 anos nunca souberam, nem quiseram exigir do Governo a devolução a quem trabalha dos Subsídios de Férias e de Natal por inteiro, sem desconto algum, como o faziam antes da Troika entrar no país, e 11 anos após a saída da Troika, continuam a serem cúmplices e coniventes, com estas vergonhas sindicais e nacionais que só nos provam nunca defenderem quem trabalha. 3 - Sendo do conhecimento de todos a existência na Administração Pública portuguesa de trabalhadores DEFICIENTES e LICENCIADOS a serem vítimas de reais homicídios profissionais por serem diariamente impedidos de ingressarem na carreira de Técnico Superior, ilegalidades estas às quais a CGTP nunca fez nada para que fossem corrigidas, sendo por isso cúmplices das mesmas e das suas consequências. 4 - Para quando a exigência de uma revisão de carreiras global, para que os portugueses deixem de ter a necessidade de terem 2 e 3 empregos para sobreviverem, apenas e só porque o Estado nunca lhes pagou ordenados para que não caíssem na pobreza como muitos caíram. É assim que se defende quem trabalha nada fazendo até hoje para corrigirem VERGONHAS?

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