06 nov, 2024 - 20:29 • Alexandre Abrantes Neves
Oito anos depois, o despertador voltou a tocar da mesma forma: “desapontado” com uma vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais nos Estados Unidos.
Dana Redford vive há mais de duas décadas em Lisboa. Veio de Nova Iorque “à aventura”, mas acabou por ficar em Portugal: primeiro foi o “bom tempo”, a seguir as aulas de empreendedorismo, educação e políticas públicas em várias universidades e depois o amor, o casamento e os filhos. Nunca pensou regressar “e agora com Trump muito menos”, confessa à Renascença, entre risos.
Surpreendido por haver resultados tão rapidamente, este norte-americano lamenta que em tantos anos de democracia ainda não tenha sido desta que uma mulher tenha assumido a presidência dos Estados Unidos da América (EUA) – “espero ver isso até ao final da minha vida”.
Apesar da desilusão, consegue realizar logo às primeiras horas do dia um raio x aos resultados: “houve menos gente a votar nos democratas apenas por querer votar contra Trump”. As razões são as do costume – a inflação e a imigração –, mas juntam-se agora outras: a aproximação do eleitorado latino a Trump e a força das zonas rurais.
Renascença nos EUA
O presidente do Clube Português de Bethlehem, Arna(...)
“Tradicionalmente, os negros e os hispânicos vão para os democratas, mas isso está a mudar. A mensagem mais conservadora do Trump chama muitos dos latinos que são religiosos. Além disso, a mensagem dos democratas é muito cosmopolita e o eleitorado é mais conservador do que Los Angeles ou São Francisco”, acredita.
Quanto às ameaças de deportação de imigrantes ilegais, Dana Redford assinala que o sistema dos EUA “não tem uma só pessoa que decide tudo” e Trump não terá “poder para mudar tudo”, mas alerta que mensagens como esta vão afastar quem procura uma vida melhor em solo norte-americano: “sabem que não são bem-vindos”.
Caso diferente é o de Viktor Órban, Benjamin Netanyahu e Vladimir Putin que, mais do que bem-vindos, devem “sentir-se felizes” com os novos destinos dos Estados Unidos. A dança de cadeiras na Sala Oval vai fazer mexer o xadrez político internacional – principalmente na Ucrânia.
“Trump é uma ameaça. Acho que ele não vai entregar a Ucrânia a Putin, mas com ele os ucranianos vão ter de aceitar alguns aspetos que não precisavam de aceitar se a presidente fosse Harris. Por isso, a Europa tem de ajudar mais a Ucrânia, ser mais independente em termos de defesa”, apela.
248 anos de democracia e nós não podemos sequer ter uma mulher como presidente. Espero que isto ainda mude durante a minha vida.
Mas nem só de riscos viverá o mundo nos próximos quatros anos – e Trump pode ser um trunfo para lidar com a China e o Irão.
“Temos de dizer que ele dá forte no Irão e nas políticas contra a China. A China é uma grande ameaça para o ocidente, com os seus espaços tecnológicos. É uma ameaça tanto para os EUA como para a Europa e temos de ter políticas diferentes e foi o Trump que deu essa visão”, aponta.
Mas que “não haja dúvidas” de que o balanço é “maioritariamente negativo”. E que o digam os amigos que mantém em Nova Iorque.
“Dizem que são refugiados de Trump. Talvez seja verdade”, e termina a rir-se, “porque a vida não pára porque o Trump ganha eleições”.