16 set, 2024 - 00:10 • Diogo Camilo
A corrupção é vista como um crime que está um pouco por todos os setores da sociedade, afeta diariamente a vida de metade dos portugueses e tem um combate “ineficaz”.
No Barómetro da Corrupção, nove em cada dez pessoas consideram a corrupção um “problema grave” em Portugal, com maior incidência na política, onde os portugueses acreditam que mais de 60% dos intervenientes são corruptos (ou seja, dois em cada três).
Os autores do inquérito da Fundação Francisco Manuel dos Santos apontam para uma “perceção generalizada” de que o fenómeno da corrupção é bastante difuso entre as elites políticas e económicas, tendo uma maior incidência em clubes de futebol, partidos políticos e autarquias e menor incidência em forças de segurança e no setor social, como ONG, Misericórdias ou IPSS.
No entanto, apresentados a vários casos de corrupção, situações como a cunha, com o uso de relações pessoais ou profissionais para obter vantagens ou benefícios, tiveram uma média de pontuação de 5,1 na escala de 0 a 10, significando que cerca de metade dos portugueses não considera o exemplo um caso de corrupção.
No inquérito, os portugueses apontam que, para subir na vida, é preciso conhecer as pessoas certas. Numa escala de 0 a 10, a afirmação teve uma pontuação média de 7,9.
A maioria também concordou com a afirmação de que “só se fazem bons negócios se houver ligações políticas” — com a pontuação média a ser de 6,7.
E se metade diz sentir que a corrupção afeta diariamente a sua vida, e que o combate à corrupção em Portugal é “nada eficaz”, em contrapartida, 13% considera que esse combate é “totalmente eficaz”.
Sobre as responsabilidades pela ineficácia no combate à corrupção, uma em cada quatro pessoas coloca a culpa no Governo, enquanto 26% diz que “todos” são responsáveis. Entre as potenciais razões para a demora no combate à corrupção, metade dos portugueses culpa a complexidade dos megaprocessos.
A orientação ideológica em primeiro, com 24,2%, seguido da integridade (20%), da capacidade de compromisso, experiência, empatia, capacidade de resolução de problemas, são os atributos mais importantes na hora de votar num candidato político.
Mas para 9% dos inquiridos, o fator mais importante é se o líder do partido é um homem ou uma mulher, dando a mesma importância ao género que à capacidade de resolução de problemas ou a empatia.
Sobre as definições da corrupção, se, por um lado, os portugueses concordam que um comportamento tem de ser ilegal para ser considerado corrupto (com um resultado de 6,1 de 0 a 10), por outro, discordam da ideia de que, se o resultado de uma ação for benéfico para a população em geral, não se trata de corrupção. A diferença, consideram os autores do barómetro, é “estatisticamente significativa”.
Apresentados a vários cenários hipotéticos, os inquiridos consideraram todas as situações como corrupção mas o cenário de “cunhas” (5,1 de 0 a 10) e o de “portas giratórias” (6,7) tiveram uma pontuação muito inferior ao de abuso de informação privilegiada de terceiro (8,7), o de tráfico de influência (8,2) ou ao de “puxar de cordelinhos” (8,3).
Em média, os resultados indicam também que os participantes concordam que a política só atrai pessoas que procuram obter benefícios particulares à custa do bem comum (6,7 de 0 a 10) e que até as pessoas honestas se deixam corromper quando ocupam um cargo de poder (6,2 de 0 a 10).
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