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Apoio a professores deslocados "não é cativante". "Gostava imenso de voltar", mas pagar casa em Bragança e Lisboa…

12 set, 2024 - 00:55 • Fátima Casanova , com redação

“Para poder ter um horário, teria de ir para longe e isso não fazia parte dos meus planos", afirma Isabel Louro. "Sempre gostei muito do ensino”, diz Ana Martins, que vai continuar a trabalhar numa instituição bancária perto de casa.

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Apoio a professores deslocados “não é cativante”
Apoio a professores deslocados “não é cativante”. Ouça a reportagem de Fátima Casanova

Para colocar mais professores nas escolas, o Governo aprovou o decreto-lei que lança o concurso extraordinário de recrutamento e também o apoio para os docentes darem aulas em escolas longe de casa.

Beneficiam do apoio os docentes que se disponibilizem para ficar numa escola numa das regiões com maior dificuldade em contratar professores: na grande Lisboa, Alentejo e Algarve.

Uma medida que não convence quem desistiu de ensinar. A Renascença falou com duas antigas professoras, que lecionavam duas das disciplinas com maior carência de docentes.

Regressar ao ensino está fora de questão para Isabel Louro, cuja vida profissional e familiar está agora em Viana do Castelo.

Dois anos depois da Renascença ter falado com Isabel Louro, esta antiga professora de Informática, de 47 anos, mantém que não quer ficar longe de casa, nem dos dois filhos. Esse foi, de resto, um dos motivos pelos quais deixou de dar aulas, há 12 anos.

“Para poder ter um horário, teria de ir para longe e isso não fazia parte dos meus planos. Tive que organizar a minha vida longe do ensino. Agora há necessidade de professores, mas não é cativante”, afirma Isabel Louro.

Esta antiga professora tem acompanhado os anúncios de mais apoios para os professores que fiquem colocados longe de casa, mas nem assim muda de posição. Diz que o apoio anunciado pelo ministro da Educação não compensa. O subsídio para deslocações superiores a 70 quilómetros varia entre os 150 e os 450 euros mensais, conforme a distância.

“É muito longe 300 quilómetros, é ter vida em dois lados. No início de carreira ainda é suportável, mas com alguns anos de carreira torna-se insuportável.”

Isabel Louro já se mentalizou que a sua vida profissional passa pela gestão informática numa empresa em Viana do Castelo, porque a estabilidade familiar fala mais alto.

O mesmo diz Ana Martins. Durante mais de 20 anos deu aulas de Português ao 3.º ciclo e ensino secundário. Sabe que faz falta à escola, mas os apoios agora aprovados pelo Governo não são suficientes para mudar de ideias e deixar Bragança.

Fez as contas e vai continuar longe da escola: “Eu era recuperável, mas não me podem dizer para ir para Lisboa. Os empréstimos subiram muito. Pagar um empréstimo aqui em Bragança e ter que pagar uma casa em Lisboa com um valor superior… é muito difícil. Nem chegava o vencimento”.

A antiga professora de Português diz à Renascença que o subsídio aos professores deslocados deveria ser alargado a todas as zonas do território.

“A maior parte dos professores continua a fazer imensos quilómetros. Há muita gente que vai daqui de Bragança para Amarante, que é bastante longe, 150 quilómetros. Vão e vêm diariamente”, relata.

Ana Martins admite que tem saudades de ensinar. O desejo de voltar é tão grande que, mais de oito anos depois de ter trocado a escola por um Banco, continua a concorrer.

“Só concorro para a minha zona. Sempre gostei muito do ensino. Corri tantas escolas para isso, sinto uma nostalgia, gostava imenso de voltar”, confessa.

Ana Martins e Isabel Louro, testemunhos de quem abandonou o ensino e, mesmo sabendo que ensinam duas das disciplinas com maior carência de professores, não estão disponíveis para abandonar a estabilidade de um emprego perto de casa.

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