10 set, 2024 - 06:28 • Liliana Monteiro
Procura de disciplina e de novos desafios, estabilidade e tradição familiar levam muitos jovens a ingressar nos cursos dos três ramos das Forças Armadas, mas a ausência de telemóvel está na origem de muitas desistências.
"Nota-se falta de resiliência, falta de espírito de sacrifício e há uma dependência grande dos sistemas tecnológicos. Há muitos jovens que à primeira dificuldade desistem e não aguentam, a taxa de desistência é acentuada”, conta à Renascença o cabo fuzileiro Jesus, há quatro anos na formação do batalhão de instrução da Escola de Fuzileiros.
Encontramos o capitão de fragata Mendes Afonso no gabinete desta unidade da Marinha no concelho do Barreiro, é o segundo-comandante da escola e traça-nos o perfil dos candidatos.
“Nota-se valor, muito valor, menor capacidade de resiliência e nas adversidades, o simples facto de não terem acessos ao telemóvel é um choque mas que prepara os alunos para situação de missão e embarque no futuro. Já surgem alguns jovens muito sedentários. Temos taxas de desistência acentuadas”, sublinha.
No Exército a procura pelos cursos aumentou 18%, de 2023 para 2024, e o mais recente curso para o Quadro Permanente de Praças (QPP) teve 450 candidatos para 112 vagas.
A Renascença solicitou dados relativamente à frequência de cursos a cada um dos ramos das Forças Armadas, ao Estado Maior (EMGFA) e ao Ministério da Defesa, mas não obteve informações.
Todos os anos várias centenas de jovens mostram interesse em concorrer e formalizam candidatura nas Forças Armadas, são depois menos os que aparecem nas provas onde muitos acabam eliminados: a média dos que resistem ronda os 50%.
Os jovens são submetidos sensivelmente a cinco semanas de formação básica, onde adquirem as principais competências para depois ingressarem na especialidade.
Os recrutas têm direito ao salário mínimo nacional, alojamento, alimentação e a uma rede médica militar (ADM).
Quantos militares têm ingressado nos vários cursos das Forças Aramadas? Qual tem sido a realidade ao longo dos últimos anos? São perguntas que ficaram sem resposta do Ministério da Defesa que, contactado pela Renascença, prometeu uma resposta que nunca chegou, apesar de ter em sua posse dados atualizados enviados por alguns ramos.