17 ago, 2024 - 14:04 • Fábio Monteiro , João Mira Godinho
Zach Dereniowski, influencer canadiano conhecido nas redes sociais como MD Motivator, está a promover uma campanha de crowdfunding para ajudar Francisco, criança de 13 anos que perdeu a família numa explosão de gás, em Vila Nova de Milfontes.
A Renascença falou com o influencer – de férias no Algarve, onde moram os pais reformados - antes de lançar a campanha de angariação de fundos que, este sábado, já ultrapassou a meta dos 100 mil dólares (91 mil euros).
Foi por mero acaso que Zach, conhecido nas redes sociais por fazer vídeos de apoio emocional e criar campanhas de crowdfunding, que se cruzou a história de Francisco.
"Disseram-me: ‘Há uma vila, há uma hora e meia daqui [Quarteira], onde um jovem rapaz chamado Francisco, de 12 ou 13 anos perdeu toda a família numa explosão de gás’", lembra.
Francisco foi o único sobrevivente da explosão que destruiu a casa da família em Vila Nova de Milfontes, no final de junho. Mãe, pai e irmã, de 9 anos, morreram.
Na localidade alentejana foi criada uma recolha de fundos para ajudar o jovem, que, neste momento, está a viver com uma tia. Mas teve pouco sucesso. “É uma vila pequena. Disseram-me que só mil ou dois mil euros tinham sido angariados.”
Zack, que tem cerca de 35 milhões de seguidores em redes sociais como Instagram e TikTok, decidiu ir ter com Francisco. E fazer um vídeo.
Publicado na quarta-feira, o vídeo mostra Zach a oferecer uma bola de futebol a Francisco, a perguntar qual o clube de futebol favorito (“Benfica”) e a prometer-lhe bilhetes para ir ao estádio com a família, numa data futura.
Nem sempre Zach Dereniowski foi um caso de sucesso. Ou a pessoa mais feliz do mundo. Aliás, for por estar deprimido que começou a fazer vídeos motivacionais para as redes sociais.
"Não tinha ninguém a quem pedir ajuda, nunca tinha tido problemas de saúde mental. Então, comecei a fazer vídeos para encontrar amigos", conta à Renascença.
Em 2020, em plena pandemia, Zach era ainda um desconhecido. Estudava medicina em Sidney, na Austrália.
Uma noite, deu por si sozinho e a chorar na rua, até duas mulheres que não conhecia o terem abordado e perguntado: "Estás bem?"
"O que fizeram foi mudar o rumo da minha vida. Sentaram-se ao meu lado, no chão, enquanto chovia, e ouviram-me. Durante 30 minutos. Até então, nunca percebera o quanto um desconhecido ouvir-te pode ser tão importante. Liguei aos meus pais no dia seguinte, contei aos meus amigos. E percebi: eu quero ser aquela pessoa para os outros", lembra.
A medo, Zach contou aos pais como sentia e voltou para casa, no Canadá.
Com a ajuda de um amigo do liceu, começou a filmar vídeos com desconhecidos – a oferecer abraços, a ouvi-los. E o sucesso foi instantâneo.
O primeiro vídeo de Zach conseguiu logo 20 milhões de visualizações. “Foi numa época em que toda a gente no mundo sentia falta de contacto e ligações, não apenas eu."
Em pouco mais de quatro anos, Zach Dereniowski ganhou milhões de seguidores. E milhões de dólares. “Não comecei a fazer por causa do dinheiro. Ainda não o faço para fazer dinheiro”, garante.
Os dólares do influencer, conta, proveem de duas origens. “Trabalho com marcas e parcerias [conteúdos patrocinados] e uma associação sem fins lucrativos chamada Kindness is Cool.”
“Nos últimos 18 meses, conseguimos angariar 5.5 milhões de dólares. E o que é fantástico é que esse valor foi totalmente para as pessoas.”
Zach diz à Renascença que não tira “uma percentagem ou parcela. Todo dinheiro das doações vai diretamente para as pessoas”.
“As pessoas adoram a transparência. É uma nova forma de filantropia por via das redes sociais. A prova quantitativa que as pessoas querem fazer o bem, se lhes derem um ponto de partida”, explica.
A campanha de Francisco é a última prova da teoria do influencer. Lançada apenas na quarta-feira, conseguiu atingir a meta de 100 mil dólares em pouco mais 72 horas.