18 jul, 2024 - 06:22 • Anabela Góis
Os Jogos Olímpicos de Paris podem provocar um aumento dos casos de dengue na Europa nos próximos meses, Portugal incluído, alerta a Organização Mundial de Saúde (OMS).
A OMS receia proliferação de casos de dengue na Europa, devido ao calor e à circulação de pessoas nas Olimpíadas, que se realizam entre 26 de julho e 11 de agosto, na capital francesa.
A organização avisa que as altas temperaturas, associadas à movimentação global de pessoas durante os Jogos Olímpicos, são condições ideais para a proliferação do mosquito responsável pela transmissão da doença que existe em várias regiões de França.
A OMS está atenta e em contacto com especialistas de vários países - em Portugal falou com o Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) - para reforçar as estratégias de vigilância e resposta a nível europeu, especialmente importantes em épocas de grande movimentação de pessoas como vai acontecer durante os Jogos Olímpicos.
Informação foi avançada pela Direção-Geral da Saúd(...)
Em declarações à Renascença, Carla Sousa, professora auxiliar do IHMT, diz que há motivos para preocupação porque estão reunidas várias condições.
“Primeiro, tem de haver o mosquito, e já existe. Segundo, em regra, o agente patogénico é transportado pelas pessoas que foram picadas em regiões endémicas e que têm o vírus em quantidade suficiente na sua circulação periférica, de forma que, se forem picadas pelos mosquitos vetores, eles passam a ser portadores e podem dar origem a um surto, sendo que a potencialidade da magnitude do surto é tanto maior quanto maior for a densidade da população humana.”
Carla Sousa sublinha que todas estas condições existem, porque “muitas das provas estão agendadas para a região de Paris, onde o mosquito existe numa densidade que até já deu origem a um caso autóctone”.
Também “há um maior fluxo de pessoas que vão assistir aos Jogos Olímpicos, algumas oriundas de regiões onde há surtos de dengue”, e “tudo isto acontecendo num centro populacional de elevada densidade”.
São muitos fatores de risco que justificam as preocupações da OMS. Sabendo-se que os mosquitos que transmitem o vírus da dengue picam, sobretudo, durante o dia, não vale a pena pensar em ficar em casa com ar-condicionado.
O conhecido paraquedista e instrutor de queda de l(...)
A única forma de proteção, diz Carla Sousa, é evitar a picada e isso passa por “usar roupas claras, largas e compridas”.
“Nada de alcinhas, calções ou calças de justas porque estes mosquitos conseguem picar através de calças de ganga, desde que estejam suficientemente justas, e aplicar repelente quer nas roupas, quer nas zonas expostas. Para além disso, sapatos fechados e meias”, aconselha a investigadora.
Sobre a possibilidade de os casos de dengue aumentarem em Portugal, a professora diz que o risco é real. E a prova é que, durante o surto da doença no Carnaval Rio de Janeiro, o nosso país registou vários casos importados.
A hipótese de casos autóctones também existe. “ Desde que temos o vetor, o risco existe. Portanto, existe sempre a possibilidade de chegar alguém em período de viremia infetante para o mosquito”, explica Carla Sousa.
A especialista lembra que o vetor existente na ilha da Madeira é mais “competente” do que o Aedes albopictus ou mosquito-tigre-asiático que existe em Paris.
O que explica “o surto que tivemos na Madeira em 2012. O risco só é zero quando nós não temos o vetor. A partir daí pode ser maior ou menor consoante uma série de circunstâncias que, obviamente, têm todas de conjugar-se para ocorrerem casos autóctones”, conclui a professora do Instituto de Higiene e Medicina Tropical.