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Ranking das Escolas 2023

E se os exames fossem outros? No Ranking das Artes Visuais lideram as escolas públicas, com Santo Tirso à cabeça

12 jul, 2024 - 00:00 • Salomé Esteves

Quando toca aos exames de Geometria Descritiva, História da Cultura e das Artes e Desenho, o ranking das Artes Visuais é dominado pelas escolas públicas. A Secundária D. Dinis, de Santo Tirso, arrecada o primeiro lugar, entre as 99 outras escolas.

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E se os exames fossem outros? Um ranking para as artes visuais
Ilustração: Salomé Esteves/RR

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As notas nos exames nacionais não são um bom espelho do trabalho nas escolas artísticas. Esta é a opinião dos diretores ouvidos pela Renascença e que, apesar disso, têm visto os seus alunos obterem bons resultados académicos. O motivo? Poderá estar na exigência do ensino artístico, que lhes confere habilidades usadas em todo o percurso escolar.

Este ano, a Escola Secundária D. Dinis, em Santo Tirso, alcançou o primeiro lugar no Ranking para as Artes Visuais da Renascença, que se baseia apenas nas provas de História da Cultura e das Artes, Geometria Descritiva e Desenho.

No Ranking das Escolas, as provas nacionais das disciplinas de Artes não são contempladas, por, usualmente, não serem tão concorridas. Mas, ao fazer as contas aos exames nacionais de Geometria Descritiva, História da Cultura e das Artes e Desenho, a representatividade do ensino público é muito maior.

Das 99 escolas que apresentam mais de 50 provas no total dos três exames, 95 são públicas. E, este ano, esta lista também está mais concorrida, já que há mais 24 escolas a figurar na lista das melhores nas Artes Visuais.

Como no ranking de 2022, a melhor escola também é pública, mas, nesta edição, o lugar pertence à Escola Secundária D. Dinis, de Santo Tirso, que conseguiu uma média de 13,16 valores no conjunto das três provas.

Além de ser uma escola com uma tradição de ensino artístico, Claúdia Soares, diretora da D. Dinis, acredita que o ensino das Artes na escola tem melhorado: “Desde 2018 que o currículo das artes visuais foi valorizado desde o pré-escolar” ao 12.º ano, explica.

Depois, o segundo lugar também vai para uma escola pública do Norte: a Escola Básica e Secundária de Ermesinde, em Valongo, que, um pouco mais de uma décima abaixo, também se manteve acima dos 13 valores, quando se olha para a média das três provas.

A primeira escola privada da lista continua a ser a mesma: os Salesianos de Lisboa. Depois de uma subida de pouco mais de três décimas na média geral, o colégio de Campo de Ourique saltou 14 posições e fixa-se, agora, no terceiro lugar (12,99 valores), seguido de outra escola privada: o Colégio de São Miguel de Fátima (12,92).

Apesar de neste ranking haver uma grande proporção de escolas públicas, as duas médias mais altas no exame de História da Cultura e das Artes são detidas pelo Colégio de Gaia, em primeiro, e, depois, pelo Colégio do Amor de Deus (13,4 e 13,2, respetivamente).

Já a Geometria Descritiva, foi também a Escola Secundária D. Dinis, de Santo Tirso, que alcançou a média mais alta (13,8 valores). Com um total de 28 provas nesta disciplina, posiciona-se cinco décimas à frente do segundo classificado.

Para a diretora da escola, Cláudia Soares, esta posição demonstra uma tradição de largos anos, em que os alunos de Geometria Descritiva têm resultados muito positivos nos exames, usualmente acima da média nacional. A professora sublinha que a qualidade dos professores e a sua permanência com as turmas ao longo do ciclo garante a estabilidade do ensino.

Para os alunos da D. Dinis, o calcanhar de Aquiles é a prova de Desenho, já que os resultados, revela Cláudia Soares, tendem a não refletir as competências dos alunos.

Mas as médias do exame de Desenho foram, no geral, mais altas do que as das duas outras provas. Ao contrário do que acontece com História da Cultura e das Artes e Geometria Descritiva, nenhuma escola teve uma média negativa na prova de Desenho. Quem lidera nesta disciplina é a Escola Básica e Secundária de Ermesinde, com uma média de 16,71 valores em 16 provas.

Ensino artístico “exigente” explica o sucesso nos exames

Apesar de fazerem os mesmos exames nacionais para o acesso ao ensino superior, há duas escolas na lista das Artes Visuais que se distinguem: a Escola Artística Soares dos Reis, no Porto, e a Escola Artística António Arroio, em Lisboa.

Nestas duas escolas, o currículo é estruturado de maneira diferente e a carga horária é superior. Além disso, por serem dois estabelecimentos de ensino exclusivamente artístico, ambas têm muito mais provas do que as outras 97.

Ainda que tenham 404 e 593 provas realizadas, respetivamente (quando as outras não têm mais de 180), isso não impede a Soares dos Reis e a António Arroio de estarem nas 20 melhores escolas das Artes Visuais — haver um maior número de provas realizadas abre a probabilidade de haver mais notas baixas, o que não se verificou.

Mas, além de estarem bem-posicionadas neste ranking específico, como, aliás, seria de esperar, a Escola Artística António Arroio é a melhor escola pública do Ranking das Escolas da Renascença e a Soares dos Reis, a terceira.

Para José Caldas, diretor da Escola Artística Soares dos Reis, o sucesso dos seus alunos não está no conhecimento que demonstram nos exames, mas noutras competências que adquirem durante três anos de ensino artístico “exigente”.

Segundo o professor, 76% dos alunos da Soares dos Reis, que se situa no centro do Porto, vêm de outras cidades e passam entre duas a três horas a viajar de casa para a escola e vice-versa. Para José Caldas, esta é uma demonstração da dedicação dos alunos e das suas famílias.

Além disso, conta, estes alunos, especialmente os do 12.º ano, têm “o dobro da carga horária dos alunos dos cursos científico-humanísticos”, o que, insiste José Caldas, resulta numa capacidade de gestão de tempo e de autonomia superior à de outros alunos do mesmo nível de ensino.

Apesar de satisfeito com os bons resultados dos seus alunos em ambos os rankings, José Caldas não deixa de notar que não é isso que leva a escola a ter procura. “Ninguém escolhe a Escola Artística Soares dos Reis por causa dos rankings, ninguém. Ninguém se preocupa com esse assunto. Preocupa-se sim, por ser uma escola que envolve os alunos na aprendizagem.”

“Ninguém escolhe a Escola Artística Soares dos Reis por causa dos rankings, ninguém."

Exames nacionais não refletem o trabalho dos alunos das artísticas

Tanto Claúdia Soares, diretora da D. Dinis, como José Caldas, diretor da Soares dos Reis, acreditam que os resultados dos exames nacionais não refletem o trabalho dos alunos ao longo de três anos de ensino secundário.

Por isso mesmo, Cláudia Soares sugere que a prova de ingresso seja feita na faculdade de interesse do aluno, ao invés de ser da responsabilidade do ensino secundário. Porque, apesar de defender que os exames são redutores enquanto prova de ingresso, a professora também considera que a existência de uma prova faz aumentar a motivação dos alunos, que têm nesse fim uma razão para se aplicarem mais no trabalho das disciplinas.

Já José Caldas aponta outro caminho. “Seria importante começarmos a pensar noutros processos de seleção”, diz, dando o exemplo área do Desporto, em que existem pré-requisitos no acesso às licenciaturas.

Desta forma, argumenta, seria possível fazer uma “análise particular” ao “trabalho que um aluno foi fazendo ao longo dos anos”, como, lembra, “acontece com faculdades estrangeiras, em que os alunos não são selecionados com base nas suas classificações”, mas através de portfólios ou entrevistas.

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