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Reportagem

Música, dança e um profundo desejo de paz no regresso à Escola Ucraniana

23 set, 2023 - 17:50 • Ana Catarina André

Na festa de início de ano, em Lisboa, pais e filhos evocaram a cultura do País, não esquecendo a guerra e o sofrimento. Voltar a casa continua a ser para muitos um objetivo.

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Reportagem em escola de Lisboa com alunos ucranianos
Ouça a reportagem da jornalista Ana Catarina André

No pátio da Escola Básica Pedro de Santarém, em Lisboa, cerca de 100 alunos ucranianos, entre os 3 e os 16 anos, celebram, com pais e professores, o recomeço de mais um ano letivo. Há música e dança, adornadas com trajes e padrões típicos da Ucrânia. Um grupo de crianças, de cinco ou seis anos, entoa pequenas canções tradicionais do País. “Na Ucrânia, fazemos sempre festas de início e fim de ano”, explica a professora Iryna Shnayder, diretora da Escola Ucraniana que funciona todos os sábados neste espaço emprestado, em Benfica.

Entre as atuações, intercaladas com discursos, a guerra, que começou em fevereiro de 2022, vai-se fazendo presente. Após um minuto de silêncio pelas vítimas, ouve-se “Slava Ukraini” [Glória à Ucrânia], e dezenas de desabafos sobre o profundo desejo de paz que a todos assola. “Queremos muito que parem as armas”, sublinha Iryna Shnayder.

Nos primeiros tempos após o início do conflito, a Escola Ucraniana chegou a receber 300 crianças. No fim do último ano letivo, com o regresso de dezenas de famílias ao País, eram apenas 170. “Entre as que permanecem, a integração tem sido muito positiva. Quando chegaram, estavam muitos stressadas. Viviam aquele horror todo”, recorda a professora, contando que, desde então, com a ajuda do corpo docente e de psicólogos, a saúde mental dos alunos melhorou bastante. “Foram muito bem acolhidos em Portugal”, frisa. “É muito importante terem uma escola ucraniana, porque a maioria pensa regressar para a sua terra, depois de a guerra terminar. Aqui sentem-se, de certo modo, em casa.”

Além dos refugiados, a Escola Ucraniana é também frequentada por filhos de imigrantes, como é o caso de Nicole, de 8 anos. A mãe Natacha Nadyuk, de 46 anos, está em Portugal há mais de duas décadas. Casou-se com português, mas faz questão de que a filha conheça a sua ascendência. “É uma forma de aprender a língua e as tradições da Ucrânia”, diz.

Ainda que só funcione ao sábado, nesta instituição os alunos estudam língua, literatura, história, mas também química, matemática, inglês, biologia, entre outras disciplinas. “Temos muitas crianças que durante a semana frequentam a escola portuguesa e ficam connosco ao sábado, e outras que, de segunda a sexta-feira, estudam à distância, na sua escola na Ucrânia, e que depois vêm para cá [ao fim-de-semana]”, explica a diretora, Iryna Shnayder, professora de inglês.

“Estamos a lutar pela liberdade”

Na festa de início de ano letivo, estão também dois sacerdotes, um católico e outro ortodoxo, como é hábito nestas ocasiões na Ucrânia, e a embaixadora da Ucrânia em Portugal, Maryna Mykhailenko. “Estamos muito gratos a Portugal por tudo o que têm feito pelas nossas crianças e pelos deslocados. Estão bem integrados”, diz à Renascença, recordando que, desde o início da guerra, 500 menores morreram, mais de mil ficaram feridos e cerca de mil foram deportados à força para a Rússia. “Estamos a lutar pela liberdade, pela integração europeia”, sublinha a diplomata.

Presente também no evento, Pavlo Sadokha, presidente da Associação de Ucranianos em Portugal, diz que, apesar de, no ano passado, apenas quatro das catorze mil crianças refugiadas em idade escolar, se terem matriculado no ensino público, isso não significa que “ficaram fora da atenção do Estado”. “Foram criados programas que permitiram estudar à distância, obter certificados e passar de ano”, diz, frisando o papel da Escola Ucraniana na integração destes menores. “Os filhos de imigrantes, que também frequentam as aulas, são os melhores integradores que se poderia ter.”

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