Dia Mundial da Asma

"Há pais em pânico". Rutura de medicação para a asma tem sido recorrente

02 mai, 2023 - 07:00 • André Rodrigues

Doentes têm tido dificuldade em adquirir inaladores de fluticasona, utilizada para o controlo da asma infantil. Presidente da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica fala de "pais em pânico". Portugal tem mais de 700 mil asmáticos. Cerca de um quarto têm menos de 18 anos.

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A Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC) alerta para situações de rutura em medicamentos para o controlo da asma.

A situação é particularmente preocupante no tratamento da doença em idade pediátrica.

“Nas últimas duas a três semanas, tenho recebido diariamente telefonemas de pais em pânico”, conta à Renascença a presidente da SPAIC, Ana Cristina Morete.

Em causa está a dificuldade na aquisição de fluticasona inalada, utilizada para o controlo da asma infantil.

“Temos outros para substituir, mas tem acontecido a haver ruturas de stocks nas farmácias”, acrescenta a presidente da SPAIC.

Apesar de esse ser um problema mais frequente no Inverno, “porque nessa altura do ano as agudizações implicam mais regularidade na toma”, Ana Cristina Morete refere que, “também tem havido ruturas agora e continua a haver desde há alguns meses”.

Má perceção da doença

Portugal tem um universo estimado de mais de 700 mil asmáticos. Desses, cerca de 25% estão em idade pediátrica.

A presidente da SPAIC reconhece que o principal problema com esta doença é a “má perceção” por parte dos doentes.

Os números são reveladores: “43% da população portuguesa com asma não tem a doença controlada e, nesse universo, 88% acham que está controlada”.

A explicação, segundo esta especialista, está na subjetividade dos sintomas, como falta de ar, aperto no peito, cansaço, tosse e pieira que, muitas vezes são desvalorizados pelos pacientes ou atribuídos a outras condições menos graves.

“Há doentes com sintomas ligeiros, que procuram os médicos e fazem medicação, há outros doentes com sintomatologia muito mais intensa, que nem sequer lhes dá um impulso para procurar ajuda médica. E, depois, também temos o contrário: doentes que utilizam a medicação de alívio por sintomas que, se calhar, não são justificados, que têm um excesso de procura de serviços de urgência”, esclarece a imunoalergologista.

Excesso de alívio pode levar à morte

A fraca perceção dos doentes em relação à asma e a ausência de conhecimento de como funciona a medicação leva boa parte dos doentes a uma utilização indevida dos dispositivos de inalação.

Um estudo recente da SPAIC indica que cerca de metade dos asmáticos utilizaram o inalador de alívio mais de oito dias durante um mês, o que sugere um mau controlo da doença.

Ana Cristina Morete entende que, na origem deste problema está o facto de os tratamentos serem de muito longa duração, o que compromete a adesão dos pacientes: “Quando propomos um doente para o início de terapêutica diária para controlar a asma, o doente faz tudo direitinho no primeiro, segundo e terceiro mês”.

O problema é que, ao final de um ano, “menos de 20% fazem a medicação, como indicado pelo seu médico. Portanto, a persistência de adesão ao tratamento é muito fraca nos doentes com asma e a adesão de longo prazo, às vezes, é inferior a 10% ou 20%”, alerta.

A asma é uma doença que se manifesta em ciclos de crise. Mas o tratamento só é eficaz se os doentes seguirem o esquema prescrito. A receita é mais ou menos parecida na generalidade dos casos: “Na asma, temos o corticoide, que é para ser usado todos os dias e, depois, como pode ocorrer uma crise, o doente tem de ter dispositivos inalatórios de alívio e esses, se forem usados sem um corticoide associado, vão agravar a própria doença”.

Ana Cristina Morete reconhece que a situação é paradoxal, mas avisa que a toma excessiva da medicação de alívio “leva a que muitos doentes prefiram fazer essa medicação, que não trata a doença”, e, no limite, “pode associada a morte, porque, sem o corticoide associado, o brônquio deixa de responder a esse mesmo alívio”.

A intensidade da asma varia de caso para caso. No universo total de doentes em Portugal, entre 5% e 10% apresentam sintomas graves.

Em número absoluto, serão entre 35 mil e 70 mil pacientes.

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