01 mai, 2023 - 00:02 • Diogo Camilo
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Os trabalhadores portugueses têm de trabalhar três vezes mais horas que os da Irlanda para gerar o mesmo dinheiro. As mulheres recebem menos 200 euros por mês que os homens (e em profissões mais qualificadas o fosso salarial é maior). E o setor onde os trabalhadores são mais bem pagos em Portugal é o da eletricidade e gás, apesar de este não ser, de longe, o que gera mais riqueza no país.
Estas são algumas das conclusões da Pordata, a base de dados estatísticos da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), na análise à situação laboral dos portugueses, a propósito do Dia Internacional do Trabalhador, que se comemora esta segunda-feira, 1 de maio.
Um dos pontos que salta à vista e preocupa é o de que os cinco setores que geram mais riqueza em Portugal - indústria transformadora, imobiliário, retalho, administração pública e saúde - têm trabalhadores a ganharem salários abaixo da média nacional (1.294 euros).
As atividades da indústria transformadora, do imobiliário e do retalho tiveram ganhos superiores a 20 mil milhões de euros no ano de 2020 mas, em média, os seus trabalhadores não recebem mais do que 1.277 euros por mês.
“Os setores que mais contribuem para a riqueza total gerada em Portugal não envolvem conhecimentos especializados nem mão de obra muito especializada”, explica à Renascença a diretora da Pordata, Luísa Loura.
Do lado contrário, um dos setores com os trabalhadores mais bem pagos é o da eletricidade, gás e água, que até é dos que gera menos riqueza: em 2020, o seu Valor Acrescentado Bruto (VAB) foi de 4,1 mil milhões de euros, mas o salário médio de um trabalhador neste setor foi de 2.966 euros - mais do dobro do salário médio nacional.
Outro dos setores bem posicionado na remuneração dos trabalhadores é o das finanças e seguros: o salário médio mensal é de 2.374 euros, enquanto a atividade gerou uma riqueza de mais de 9 mil milhões de euros.
A diferença salarial entre o setor menos bem remunerado (o do alojamento e restauração), onde o salário médio é de 914 euros, e o mais bem remunerado (da eletricidade, gás e água) é superior a dois mil euros.
As profissões mais mal pagas são as de assistente na preparação de refeições (salário médio de 761 euros), trabalhador de limpeza (791 euros) e trabalhador de cuidados pessoais (818 euros).
Olhando à disparidade salarial entre sexos, a Pordata indica que o maior fosso está num setor que abrange atividades como a justiça, o desporto e a cultura, e em que os homens ganham, em média, mais 2.409 euros que as mulheres.
Depois disso, é nas profissões mais qualificadas que o chamado “gap” salarial é mais acentuado: entre diretores e gestores de empresas, os homens recebem por mês, mais 1.070 euros que as mulheres; entre diretores de serviços administrativos, homens recebem mais 577 euros que mulheres; entre profissionais de saúde, a diferença é superior a 400 euros.
No geral, o salário dos homens é, em média, 224 euros superior ao das mulheres: eles têm uma remuneração bruta mensal de 1.396 euros, 100 euros acima da média nacional, enquanto elas recebem em média 1.172 euros por mês - menos 120 que a média nacional.
Entre profissões também há discrepâncias na escolaridade: em 2021, seis em cada 10 trabalhadores da agricultura, construção e indústria tinham, no máximo, o Ensino Básico.
O setor da agricultura e pesca é o que tem maior percentagem de pessoas que apenas estudaram até ao Ensino Básico (71%), enquanto apenas 8% foram até ao Ensino Superior. Do lado contrário, 70% dos trabalhadores na área da Informação têm um curso na universidade.
Em comparação com o resto da União Europeia, Portugal tem uma produtividade 25% inferior à média, sendo o quarto país dos 27 Estados-membros com menor produtividade no trabalho, ou seja, que cria menos riqueza por hora de trabalho, segundo dados provisórios de 2022 avançados pelo Eurostat.
Abaixo de Portugal só a Eslováquia, a Grécia e a Bulgária. No topo da tabela está a Irlanda, onde um trabalhador gera três vezes mais dinheiro que um trabalhador português numa hora de trabalho.
“A Irlanda tem o dobro da produtividade da média europeia e Portugal está 25% abaixo. É sabido que a produtividade em Portugal é baixa e está associada à riqueza que se consegue acrescentar com aquilo que se produz e pode haver muitos fatores”, considera Luísa Loura.
A produtividade no ano de 2022 em Portugal foi ligeiramente acima dos últimos anos, sendo o resultado mais próximo da média europeia desde 2019, mas o lugar na tabela tem vindo a descer, graças à subida de outros países.
Os dados indicam ainda que, nos últimos 10 anos, o setor que mais trabalhadores perdeu foi o da educação, seguido do comércio a retalho e do alojamento e restauração, enquanto o setor que mais trabalhadores ganhou na última década foi o de atividades de saúde e apoio social.
Em 2021 havia menos 29 mil professores que no ano de 2011, mas a profissão que mais se evaporou foi a de diretor ou gerente de comércio a retalho (menos 42 mil trabalhadores na última década). Do outro lado, a profissão que mais ganhou foi a de trabalhador da construção (mais 51 mil nos últimos 10 anos).