Cabaz Renascença

IVA zero prometia preços 6% mais baratos, mas desconto foi de 1%

25 abr, 2023 - 18:50 • Salomé Esteves

Há uma semana, a promessa era de que a redução fosse de 6%, mas isso não aconteceu. Há descontos a menos, preços que aumentaram e alimentos que estavam mais baratos o ano passado.

A+ / A-

Um semana depois da entrada em vigor do IVA zero, o preço total no cabaz foi o mais baixo desde o início de fevereiro, com 42 produtos a ficarem mais baratos entre 17 e 18 de abril, quando a medida foi aplicada. De uma semana para outra, a poupança foi de quase dois euros.

Faz esta terça-feira uma semana que entrou em vigor a medida que colocou 46 conjuntos de produtos com IVA zero. Desde então, a Renascença tem acompanhado como os preços se estiveram a comportar.

A Renascença está a fazer a análise dos preços de um conjunto de alimentos desde novembro, mas nessa altura faltavam alguns produtos que o cabaz agora Governo inclui. Nessa altura, foi reformulada a análise, e reforçado o cabaz inicial. Desde 1 de fevereiro, foram analisados os preços de 60 produtos.

Esta semana, o cabaz elaborado pela Renascença teve um preço total de 187,53 euros. A 17 de abril, os mesmos 60 produtos (todos estavam disponíveis), custavam pouco mais de 189 euros. O que quer dizer que a diferença da aplicação do IVA zero foi, no cabaz da Renascença, de 1%.

Maioria dos alimentos já foi mais barata

Na semana após a aplicação da medida, três dos 60 produtos foram vendidos pelo preço mais alto. Por outro lado, 12 tiveram o preço mais baixo. Isto quer dizer que 48 alimentos já foram mais baratos antes, mesmo estando agora incluídos na lista do IVA zero.

Na transição para a segunda semana, quatro produtos com IVA zero ficaram mais baratos - a curgete, os grelos, as cenouras e os medalhões de pescada – e dois ficaram mais caros – a alface e o grão seco. Dos produtos que não estão abrangidos pelo IVA zero, um abriu a semana a descer - a polpa de tomate - e um a subir - a farinha.


Descontos abaixo de 6% e produtos que ficam mais caros

Olhemos para o exemplo do arroz agulha. Este é um dos alimentos essenciais que o Governo incluiu na lista do IVA zero e que ficou mais barato a 18 de abril. Neste dia, um quilo de arroz da marca de origem nacional, que incluímos no cabaz da Renascença, passou de 1,34 euros para 1,30 euros. Isto corresponde a um desconto exato de 3% e não de 6%, o que implica uma alteração de preço anterior à aplicação do desconto.

Respeitando a medida, o supermercado utilizado na nossa análise teria de colocar este arroz específico à venda por 1,26 euros.

Ainda que o preço desta embalagem de arroz refletisse a quebra de 6% do IVA, esta não seria a vez em que, na análise da Renascença, estaria mais barata: a 21 de novembro de 2022 custava 0,95 cêntimos por quilo.

O mesmo aconteceu com a couve branca inteira, que, a 17 e 24 de abril, custava 1,39 euros, mas que, em novembro, custava menos de um euro. Esta couve específica não é contemplada pelo IVA zero, mas os medalhões de pescada são.

A 17 de abril, como durante todo o mês de fevereiro, uma embalagem de um quilo de medalhões de pescada custou 3,69 euros. Contudo, com a entrada do IVA zero e, portanto, de um desconto de 6%, passou a custar 12,25 euros, a 18 de abril e 10.23 euros, a 24 de abril. Não só isto não representa um desconto, como um aumento de mais de 200%. O preço deste produto tem apresentado grandes flutuações.

Também o azeite, outro produto abrangido pelo IVA zero, ficou mais caro de 17 para 18 de abril, passando de 4,39 euros para 4,70 euros por uma garrafa de 0.75 cl. Apesar disso, 4,70 euros representa um desconto de 6% sobre o preço que registamos a 14 de abril, na semana anterior, quando uma garrafa custava 4.99 euros.

Da lista de produtos do Governo havia uma exceção: o óleo. Ao contrário dos outros produtos alimentares, que são taxados a 6%, o óleo alimentar é taxado a 13%. Então, seria expectável que este fosse o produto que tivesse o maior desconto. Isto não aconteceu.

Na aplicação da medida do IVA zero, uma garrafa de um litro do óleo que estamos a analisar, de uma marca de origem nacional, passou de 2,19 euros para 2,18 euros. Caso o desconto fosse aplicado na totalidade, o óleo teria de estar à venda por 1,91 euros a 18 de abril.

Alguns produtos até ficam mais baratos, mas depois não estão disponíveis

Durante a semana em que grande parte dos produtos no cabaz da Renascença ficaram mais baratos, também, pela primeira vez, alguns ficaram indisponíveis.

A dourada de alto mar esteve indisponível toda a semana. Este foi sempre o produto mais caro do conjunto. Desde 15 de março, custou sempre 34,99 euros. Neste preço, um desconto de 6% levaria a que o custo total por quilo descesse para 32.89 euros. Isto equivale a um desconto de 2,10 euros, o que se traduz na maior do conjunto de produtos.

Também a cavala fresca teve indisponível durante todo o período de IVA zero.

Além destes peixes, outras proteínas de origem animal estiveram indisponíveis durante um ou dois dias. É o caso dos bifes de perú, do peito de frango, do novilho para estufar, das costeletas de porco e dos ovos.

De resto, apenas o tomate rosa, o nabo, os grelos, o melão verde e a alface frisada faltaram nas prateleiras digitais do nosso cabaz entre 18 e 24 de abril.

Como é que um mesmo conjunto de produtos pode custar quase 370 euros num mês e menos de 200 no mês seguinte?

Os 60 produtos do cabaz da Renascença atingiram o máximo de preço no dia 15 de março, quando o o cabaz custou um total de 368,52 euros. Este recorde precedeu o anúncio da medida do IVA zero em nove dias.

Na semana seguinte, o mesmo cabaz custava cerca de 360 euros, o segundo preço mais alto. Quatro dias depois do anúncio, passou a custar 346,67 euros.

A data de 15 de março coincidiu com o momento em que registamos o preço máximos em vários produtos, como na dourada de alto mar (34,99 euros), nos medalhões de pescada (17,39 euros), nas costeletas de porco (5,39 euros), no azeite (19,99 euros), na couve-flor (2,69 euros), na pêra rocha (2,69 euros), nos ovos (2,99 euros) e nas bolachas Maria (2.89 euros).

Em nenhum outra semana houve uma convergência de tantos preços anormalmente altos. Apesar de muitos outros alimentos terem atingido preços muito acima do seu normal, outros preços mais baixos equilibravam o custo total.

Por exemplo, o café solúvel chegou a custar 7,99 por 100 gramas a 22 de fevereiro. Mas, como mais de 10 outros produtos tiveram dos preços mais baixos do seu historial, o preço total do cabaz acabou por ser mediano no contexto das 13 semanas que analisamos.

Desde então, os preços desceram gradualmente até à entrada em vigor do IVA zero, quando se registou uma descida mais acentuada. Esta semana, o valor cifrou-se nos 187,53, quase menos dois euros do que há sete dias.

Esta medida faz parte de um pacote de apoio às famílias e estará em vigor, pelo menos, até outubro. Dado o oscilamento dos preços individuais dos produtos e do preço total do cabaz, o mais expectável é que os preços continuem irregulares num futuro próximo.

Saiba Mais
Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+