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Aeroporto de Beja

"Governo seria demasiado estúpido e despesista se não aproveitasse o aeroporto de Beja"

16 jul, 2022 - 09:00 • Rosário Silva

A vaga de cancelamentos e perturbações na operação das companhias aéreas e aeroportos nas ultimas semanas, nomeadamente na Portela, em Lisboa, trouxe de novo para a ribalta o aeroporto de Beja. A funcionar desde abril de 2011, mas muito aquém das expetativas criadas, os defensores não deixam cair a infraestrutura. O Movimento de cidadãos “Beja Merece+”, acredita que, mais tarde ou mais cedo, o Governo vai ter de olhar com outros olhos para uma infraestrutura importante para o país e para a Europa.

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"O Governo seria demasiado estúpido e despesista se não aproveitasse o aeroporto de Beja", afirma à Renascença o porta-voz do movimento de cidadãos “Beja Merece+”, Florival Baiôa.

Os defensores da infraestrutura continuam a reclamar o seu aproveitamento em todas as suas capacidades.

“Este aeroporto não está morto, mas não é devidamente utilizado. A criação de um hub transitário, não existe nenhum a sul do Tejo, que promoveria a criação de emprego, podia servir os chamados voos transatlânticos ou outros de excesso, quer de Lisboa, quer de Faro”, adianta Florival Baiôa.

“A utilização deste aeroporto, pode começar por várias áreas, por exemplo, pela manutenção, que é fundamental, a área de cargas e descargas também é importante e só essas duas áreas, em parte, já desbloqueava parte de Portela”, acredita.

Por tudo isto, o porta-voz do movimento de cidadãos “Beja Merece+”, considera que o aeroporto alentejano tem todas as condições para ser alternativa a Lisboa.

“As vantagens são, por exemplo, termos uma pista europeia, onde pode aterrar qualquer avião. À sua volta há terrenos para a instalação de empresas. Qual é o aeroporto que tem centenas de hectares para se expandir em termos industriais e em termos comerciais? Nenhum! Uma outra vantagem é que fica longe da cidade, logo é pouco incomodativo e permitirá viagens noturnas”, enumera o responsável.

“Temos as condições ideais, temos espaço, temos tempo e temos os canais aeronáuticos livres”, sublinha, Florival Baiôa, que tem acompanhado com atenção a situação nos aeroportos, assim como a polémica sobre a localização do novo aeroporto.

“Esta polémica, que hoje existe, é uma polémica perfeitamente desnecessária. Por questões ambientais, pensamos que seria um crime fazer o aeroporto no Montijo. Eu até tenho muitas dúvidas que a União Europeia permita uma coisa dessas. Fazer um aeroporto temporário e depois um outro definitivo, então, isso são loucuras”, observa.

O porta-voz do “Beja Merece+”, lembra que poder dispor de uma infraestrutura do género, “provoca inevitavelmente um enorme salto em termos demográficos”, sendo que “continuamos a perder 1% da população por ano”.

“Temos necessidade de gente para Beja e esta infraestrutura é a alavanca fundamental para haver uma coesão nacional. Não podemos continuar a pensar que Portugal é Lisboa, temos de deixar este pensamento centralista, próprio do absolutismo real que havia nos séculos XVII e XVIII”, refere.

O responsável acredita que “mais tarde ou mais cedo, com certeza absoluta”, o aeroporto “terá que começar a ser utilizado”, até por causa das diretivas comunitárias.

“O Governo seria demasiado estúpido e despesista se não aproveitasse este aeroporto e nós não temos tempo para ser despesistas”, conclui.

Corrida contra o tempo para a integração no país e na Europa

A polémica relacionada com a construção do novo aeroporto, por um lado, e os graves constrangimentos no aeroporto de Lisboa, por outro, trouxeram de novo à ribalta a relevância do aeroporto de Beja.

Primeiro, foi a Assembleia Municipal de Beja que aprovou uma moção, na qual defende o aeroporto da cidade como “uma excelente e útil alternativa” aos aeroportos de Lisboa e Faro, “em caso de necessidade e de sobrelotação”.

O documento recorda que “o aeroporto de Beja encontra-se certificado pelo Instituto Nacional de Aviação Civil e é um dos quatro aeroportos portugueses que podem receber voos internacionais”, seja de passageiros ou de carga.

O tema ultrapassou as fronteiras da região e chegou mesmo à Assembleia Municipal de Lisboa, por proposta do partido Aliança que, entre outras recomendações, refere que a única alternativa para evitar mais constrangimentos na Portela, é “desviar temporariamente algum do tráfego excedentário do AHD – Portela para o Aeroporto Internacional de Beja”, por Lisboa se encontrar a pouco mais de 1h40m de Beja, com ligação por autoestrada.

“A sua localização periférica, colocam-no especialmente vocacionado para a operação das designadas companhias “low cost” e para serviços de médio e longo curso, tendo a pista principal condições para receber os aviões usados neste tipo de operações”, menciona a recomendação.

Nas reações, também o Partido Comunista Português (PCP), em comunicado, defendeu que a infraestrutura “reúne todas as condições no imediato”, devendo, por isso, ser “colocado ao serviço do país”, atendendo ao “expectável aumento do fluxo turístico” e à “grande saturação em Lisboa e Faro.

Os comunistas argumentam com o facto de o aeroporto alentejano ter “condições para receber aviões de média e grande dimensão e escoar grande parte do tráfego, permitindo que o Alentejo cresça ainda mais no plano da oferta turística e do escoamento de produtos”.

A ‘saga’ do Aeroporto de Beja

2000 – Ministro do Equipamento Social, Jorge Coelho (do XIII Governo liderado por António Guterres), anuncia a constituição da empresa de desenvolvimento (EDAB) que vai promover o aproveitamento da Base Militar de Beja, transformando-a, parcialmente, em aeroporto civil;

2002 – É primeiro-ministro, Durão Barroso. Em Beja, anuncia para 2003, a abertura do aeroporto militar à aviação civil, com valências internacionais.

2003 – Um ano depois, sem novidades, é assinado um protocolo para a criação do aeroporto civil de Beja.

2005 – Após renovação de cadeiras, dois anos antes, a EDAB volta a sofrer agitadas mudanças, com o então primeiro-ministro, Santana Lopes, na sua curta governação, a indigitar uma nova administração. Pouco tempo depois, chega ao Governo, José Sócrates. É aprovado o Estudo de Impacte Ambiental do novo aeroporto. Governo anuncia disponibilidade de verbas para 2006.

2006 – Obra é adiada, com novo anuncio de começo para 2007, podendo ficar operacional em 2008, ainda que seja necessário esperar por 2015 para que se chegue a um número aceitável de passageiros para garantir a sustentabilidade da infraestrutura.

2007 – Lançada, em janeiro, a primeira pedra, com a presença do primeiro-ministro, José Sócrates. Obras começam três meses depois. Em novembro desse ano, a TAP desiste de transferir a manutenção e engenharia para Beja.

2008 – Com um atraso que, por esta altura, já leva 10 meses de atraso, é decidido adjudicar a segunda empreitada, com uma nova previsão de conclusão: 2009.

2009 – Mais atrasos. Afinal, a abertura fica para o ano seguinte. Ainda neste ano, o Governo anuncia que a concessão do aeroporto passa para as mãos da ANA -Aeroportos de Portugal. Paralelamente, começa mais uma ‘novela’, desta vez para a certificação da infraestrutura.

2010 – Por falta de certificação, a abertura é adiada para 2011. Por esta altura, o Tribunal de Contas arrasa o projeto, destacando, entre muitos outros aspetos, a “derrapagem orçamental”, ao mesmo tempo que lembra, dez anos depois de ter arrancado, a infraestrutura “opera em quadro de total incerteza de viabilidade económica”.

2011 – Sem estar certificado, nem a operar, o primeiro voo, excecional, a partir do aeroporto de Beja, acontece a 13 de abril, com um avião da companhia cabo-verdiana TACV, para transportar 70 passageiros. Ainda nesse ano, Passos Coelho toma posse como primeiro-ministro e o seu Plano Estratégico dos Transportes, que vigora até 2015, não inclui o aeroporto de Beja, na lista dos aeroportos nacionais. Mais de um ano depois do previsto, é dissolvida a Empresa de Desenvolvimento do Aeroporto de Beja.

2012 – Governo cria grupo de trabalho para estudar soluções para o aeroporto. Conclui-se que continua nas mãos da ANA, mas que modelo de negócio deverá ser mais direcionado para o desenvolvimento industrial. Entretanto, o Governo avança com a privatização da ANA. Vários aeroportos, entre eles o de Beja, são vendidos à empresa francesa Vinci.

2013 – O Instituto Nacional de Aviação Civil certifica o aeroporto para todos os tipos de tráfego aéreo, podendo Beja receber, a partir de agora, voos de passageiros.

2014 – Fazem-se os primeiros voos comerciais entre Paris e Beja, mas são cancelados dois meses depois do seu inicio. Serviu de retaguarda à Portela, por ocasião da final da Liga dos Campeões da UEFA que se disputou em Lisboa.

2015 – Aeroporto mantém-se sem voos regulares por desinteresse por parte das companhias aéreas, tanto mais que grandes projetos turísticos anunciados para o Alentejo, não se concretizaram.

2016 – Celebra 5 anos. A ANA anuncia esforços para que aeroporto se afirme no segmento do parqueamento de aeronaves, com resultados no inicio deste ano, com a presença da companhia aérea Hi Fly, da euroAtlantic airways e da SATA.

2017 – Continua a funcionar como “plataforma giratória entre operações para alguns operadores aéreos”, com destaque para o estacionamento e a manutenção. Regularmente processam-se voos de aviação privada e também alguns voos charter.

2018 – A empresa Mesa anuncia investimento de 30 milhões de euros na construção de um hangar para manutenção de aviões. Neste ano, fica também para a história, a aterragem do maior avião de passageiros do mundo, o A380, da companhia portuguesa Hi Fly. Em novembro desse ano, o aeroporto bejense viu aterrar um avião da Air Astana que declarou emergência com “a perda dos controlos da aeronave”. Acionados todos os meios, apesar de se ter temido o pior, o avião aterrou com sucesso em terras alentejanas.

2021 – Aeroporto recebe mais de uma centena de voos Premium. Vinci Airports admite vir a ampliar o aeroporto de Beja, caso haja interesse dos operadores.

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  • Luiz
    17 jul, 2022 SANTO ANTÓNIO DOS CAVALEIROS 07:06
    E as Berlengas aqui tão perto!
  • João Santos
    16 jul, 2022 Avanca 16:37
    Se existem outros países com aeroportos no norte centro e sul do país com capacidade porque não haveremos de aproveitar Beja, o turista que vem para o Algarve que não é tão pouco quanto isso aproveitava também as potencialidades turísticas do alentejo. Com a boa autoestrada que temos não percebo o impedimento de se visitar Lisboa desta forma... Faz todo o sentido que desenvolver o aeroporto de Bela fará libertar o da portela... É bom que os decisores possam ter este factor em conta... Não consigo ver senãos para esta alternativa, Portugal não é só Lisboa e Porto é quem procura praias e sol não vai só para estas cidades

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