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Presidente da República

Festa calorosa, corrida às "selfies" e elogios à diáspora no Reino Unido. Assim foi o 10 de Junho de Marcelo em Londres

11 jun, 2022 - 01:36 • António Fernandes

“Cada um de vocês é um embaixador de Portugal, todos os dias”, declarou o Presidente da República, em discurso aos portugueses que o receberam na capital de Inglaterra.

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A festa começou a horas, mas sem a estrela que todos esperavam ver. O anúncio da ausência foi feito pelo embaixador em Londres, Nuno Brito, que disse que houve um “percalço técnico” e que a “aeronave em que seguia o presidente teve de ser substituída”. Os quase mil portugueses na sala tiveram de esperar mais uma hora e meia.

Pelo meio, ouviram o Secretário de Estado das Comunidades Paulo Cafôfo que disse que a “comunidade orgulha o país” e que não “há Portugal sem comunidades”. Dos discursos passou-se à musica, interpretada por Lara Martins, cantora portuguesa que durante seis anos fez parte do elenco do musical Fantasma da Ópera em Londres. A conversa pela sala e os aperitivo encheram o silêncio da ausência do Presidente, que chegou ao Hotel Intercontinental, perto das oito da noite. Apressado, não parou para falar com a comunicação social.

Minutos depois subiu ao palco, acompanhado do Ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, em representação do Primeiro Ministro António Costa, que teve de cancelar a sua presença por motivos de saúde. Ouviu-se o hino inglês primeiro, seguido de “A Portuguesa”, cantada em uníssono por todos na sala.

Cravinho leu depois a mensagem de António Costa, referindo que estas “celebrações não são apenas oportunidade de homenagear país e a nossa língua, mas também para vos escutar”. Se ouvir, o Governo saberá que o maior ponto de insatisfação da diáspora no Reino Unido é a dificuldade em contactar e marcar serviços nos consulados. Talvez por isso, Cravinho disse que o Governo tem estado empenhado num novo modelo que, diz, está a ter impacto nos serviços.

Eis que é tempo para Marcelo, recebido com muitas palmas. Primeiro houve algumas condecorações, como para Regina Duarte, do Instituo Camões, que falou à Renascença nos últimos dias sobre o projecto que liderou para criar a primeira escola anglo-portuguesa do Reino Unido.

No discurso, que durou pouco mais de 10 minutos, o Presidente da República teve dois focos: a aliança histórica entre Portugal e o Reino Unido e os muito elogios à diáspora portuguesa. Sobre a aliança, Marcelo relembrou que “as alianças só duram porque há quem, como vós, todos os dias construa essa aliança”. Os portugueses, disse, são embaixadores de Portugal “sendo os melhores dos melhores” em várias áreas.

No Reino Unido, disse, estava a comunidade portuguesa mais jovem das que estão espalhadas pelo mundo. Essa juventude notava-se também na sala. Tanta gente naquela sala, mas cada 1 “representava outros 400”, para totalizar os 400 mil que estão no Reino Unido. Também por isso “não há família portuguesa que não tenha 1,2,3 membros da família que vivam no estrangeiro”. Marcelo está nesse grupo: “Sei, por experiência, o que é a vossa vida. E sei como contribui para o prestígio de Portugal.”

A fechar, Marcelo disse que tinha a “certeza que Portugal conta convosco” e que os presentes também podiam “contar com Portugal”. A correr contra o tempo, queria conhecer aqueles portugueses e disse que preferiu abandonar o guião e manter o discurso curto porque “discurso há muitos, mas os encontros pessoais são mais raros”. Ouviram-se “vivas” pela sala, mas o Presidente voltou ao microfone para manter a ordem: “Para não haver confusão, fico no palco. Assim entram de um lado e saem do outro para garantir que não há ninguém que fique sem selfie.”

A multidão reagiu com palmas, assobios, gritos. O Presidente tentou evitar o caos, mas a sua popularidade ficou ainda mais clara quando ali se juntou um amontoado sem fim de pessoas, que durou horas.

A corrida à "selfie" com Marcelo foi agitada. Foto: Filipa Santos
A corrida à "selfie" com Marcelo foi agitada. Foto: Filipa Santos
João Noronha, diretor e fundador do jornal "As Notícias", de Inglaterra. Foto: Filipa Santos
João Noronha, diretor e fundador do jornal "As Notícias", de Inglaterra. Foto: Filipa Santos
O Padre Carlos Gabriel vive em Londres e foi ver Marcelo. Foto: Filipa Santos
O Padre Carlos Gabriel vive em Londres e foi ver Marcelo. Foto: Filipa Santos
Padre Gabriel com o correspondente da Renascença no Reino Unido, António Fernandes (ambos à direita). Foto: Filipa Santos
Padre Gabriel com o correspondente da Renascença no Reino Unido, António Fernandes (ambos à direita). Foto: Filipa Santos
Cantora Lara Martins atuou na receção a Marcelo. Foto: Filipa Santos
Cantora Lara Martins atuou na receção a Marcelo. Foto: Filipa Santos

Do êxtase à celebração da “portugalidade”


A sala estava cheia, ainda mais cheia pelo murmúrio de conversas. No meio do turbilhão, vejo ao fundo João Noronha, director e fundador do jornal As Notícias, que serve a comunidade portuguesa desde 2006. Para João, a vinda do Presidente foi recebida com “êxtase total”, acrescentando que é “neste momento uma figura sem contestação para os portugueses”.

O jornalista acredita que a vinda de Marcelo vem patrocinar um momento de “conciliação entre a comunidade portuguesa e o estado português”. João diz que têm estado de costas voltadas por uma “insatisfação com os consulados”. O problema, considera, não é o serviço prestado pelos consulados, mas sim o número, que considera insuficiente.

No sábado, está planeado um almoço com membros da comunidade das artes no Reino Unido. Também nesta noite as artes estiveram representadas, a começar pelo palco e Lara Martins, que diz que “foi uma honra” ser convidada para cantar nas comemorações. Para a cantora, é importante que “os artistas da diáspora sejam reconhecidos também no nosso país porque levamos o nome de Portugal por todo o mundo”.

Das artes, encontro também na sala Jorge Balça, encenador de teatro e ópera, com quem já falámos noutros anos, sobre o Brexit. Jorge diz que o facto do presidente vir a Londres e “convidar representantes de todas estas comunidades espalhadas no Reino Unido, que são tão díspares e estarmos todos reunidos debaixo do mesmo tecto a celebrar a nossa portugalidade, a nossa língua, é muito especial”.

Depois da saída de cena do presidente, a sala foi-se esvaziando mas o Padre Carlos Gabriel mantinha-se animado a contar histórias. Veio a Londres pela primeira há quase 40 anos para aprender inglês, e desde há cinco é o capelão da comunidade portuguesa de Londres. Este regresso era o desejado para “terminar a carreira como capelão de comunidades portuguesas em Londres”.

O padre Carlos Gabriel acredita que a vinda do Presidente da República para assinalar o Dia de Portugal é um “momento significativo” para a comunidade portuguesa. Relembra que a comunidade é “muito grande, de 400 mil” mas que foi afectada pela história recente da política britânica que culminou no Brexit e com isso “sofreu uma pancada grande, que levou muita gente embora”.

Para os que ficaram, este é um fim-de-semana de reconhecimento, de celebração da língua portuguesa - uma celebração que continua no sábado, 11 de junho, com um programa cheio que passa pela Anglo Portuguese School, pela Imperial College e pelo hospital Brompton, com almoços e jantares pelo caminho. Um programa cheio, como cheia foi uma noite em que o nome de Portugal foi dito mais alto que todos os outros.

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