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Recolha do Banco Alimentar Contra a fome

Isabel Jonet: “Os portugueses sentem o peso deste acréscimo dos preços”

27 mai, 2022 - 22:00 • Henrique Cunha

Voluntários regressam este fim de semana à recolha de alimentos no terreno, após as condicionantes da pandemia. Isabel Jonet diz que o Banco Alimentar continua “a registar um aumento de pedidos por parte das instituições” porque “todas as refeições custam mais caro”.

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No regresso dos voluntários do Banco Alimentar contra a Fome (BAcF) ao terreno, depois da interrupção motivada pela pandemia, a presidente da instituição, Isabel Jonet, destaca que as campanhas "são sempre momentos de mobilização da sociedade” e lembra que “estas duas grandes campanhas de recolha de alimentos são a única ocasião onde são angariados produtos básicos”.

A campanha de recolha decorre de 26 de maio a 5 de junho. Os voluntários vão estar no terreno para a recolha em saco no sábado e no domingo. A ajuda através de vale e "online" decorre até 5 de junho.

Que importância tem esta campanha de recolha, considerando que esta será a primeira depois da interrupção ditada pela pandemia?

As campanhas do Banco Alimentar são sempre momentos de mobilização da sociedade portuguesa para a solidariedade e para a partilha. Já é assim há 32 anos. Excetuando esta interrupção forçada a que a covid nos obrigou, apenas pela necessidade de evitarmos os contactos e de termos menos presença de voluntários.

Os voluntários são os principais atores das campanhas do Banco Alimentar. Teremos mais de 40 mil pessoas espalhadas por todo o país, nas lojas, nos armazéns dos bancos alimentares, ajudando no transporte. São pessoas de todas as idades, de todas as convicções religiosas, políticas, etc, mas unidas por uma causa comum: a de levar alimento à mesa de quem precisa.

No próximo fim de semana e, depois, até ao dia 5 de junho, teremos muitos voluntários que vão interpelar as pessoas que vão às compras com a possibilidade de partilharem com quem tem carências na sua região. Porque essa é a proposta do Banco Alimentar. É uma proposta de partilha, ou seja, dividit com o seu próximo aquilo que vai ter na sua mesa. E esta a mobilização da sociedade é muito importante neste momento, pois ainda há muitas pessoas que precisam de ajuda para ter uma vida digna.

Esse recrutamento de pessoas de voluntários foi mais difícil, tendo em atenção os receios deste período de pandemia que ainda vivemos?

Os voluntários conhecem bem o Banco Alimentar e a proposta que o Banco Alimentar lhes faz. Temos a ajuda de muitos grupos, escuteiros, guias, muitas empresas que convidam os seis colaboradores. Mas ainda temos sobre nós este peso que até os recentes números da pandemia ilustram. Ainda há muitas pessoas que têm infeção. A doença é menos grave, mas isto faz com que muitas pessoas ainda tenham que estar confinadas. E, portanto, os voluntários são muito necessários. E eu aproveito para deixar aqui um apelo a todos os voluntários que ao longo do fim de semana, seja sábado, seja domingo, apareçam na loja da sua região ou no Banco Alimentar e se ofereçam. Não é preciso darem muito tempo, mas é preciso dar este tempo com comprometimento e com a certeza de que fazem a diferença.

Referiu que a campanha vai até 5 de junho, até porque há a possibilidade de ajuda através de vale...

Até 5 de junho teremos vales em todas as cadeias de distribuição. São vales que estão disponíveis nas caixas e que as pessoas acrescentam à sua conta, mas também através do canal alimentestaideia.pt; onde as pessoas podem comprar através da internet como se estivessem a doar no supermercado. E este canal online tem ganho cada vez mais relevância, porque as pessoas também estão mais habituadas a comprar pela internet e, portanto, aqui também podem partilhar com quem precisa através desta doação "online".

"Os preços dos produtos aumentaram muito e nós temos até subidas superiores a 40% em alguns produtos básicos"

A crise decorrente da pandemia é agora agudizada também pela circunstância da guerra. Poderá ter reflexo na capacidade de resposta solidária dos portugueses?

Os preços dos produtos aumentaram muito e nós temos até subidas superiores a 40% em alguns produtos básicos. Basta ver que um pacote de leite custava 0,53 euros e hoje chega a custar 0,75. E eu estou a falar de umo produto que é o mais básico e aquilo que é mais doado pelos portugueses.

Os portugueses sentem o peso deste acréscimo dos preços dos produtos alimentares ou na fatura da energia, mas eu tenho a certeza que não deixarão de ser solidários na medida das suas possibilidades. Não é preciso darem muito. É preciso não se esquecerem de que há pessoas que não têm nada na sua mesa e mesmo que demos só um bocadinho já estamos a fazer a grande diferença na mesa de famílias. Muitas destas famílias têm crianças e não queremos que falte nada à mesa das famílias que procuram no apoio das instituições que recebem os bens do Banco Alimentar a ajuda para poderem ter pelo menos uma refeição por dia.

Há algum objetivo definido para esta campanha?

Nós sabemos que em todas as campanhas que fazemos se bate o recorde, o que prova a solidariedade dos portugueses. Gostaríamos que o Banco Alimentar não fosse necessário. Isso queria dizer que ninguém precisava de ajuda alimentar, mas infelizmente não é assim e, portanto, temos que contar com os portugueses para nos ajudarem nesta tarefa diária que todos os dias faz com que levemos alimento à mesa de quem precisa mais.

E estas duas grandes campanhas de recolha de alimentos, são a única ocasião onde são angariados produtos básicos como o azeite, o arroz, o leite, o atum, as salsichas e os cereais de pequeno-almoço. São produtos básicos que só nos entram porque nestas campanhas os portugueses os doam. Portanto, uma vez mais, conto com estas doações dos portugueses.

"Temos registado um aumento de pedidos por parte das instituições, seja para as famílias que apoiam, porque pedem mais ajuda, seja também para as próprias instituições"

Recentemente, aludiu a um aumento crescente dos pedidos de ajuda por causa da pandemia, por um lado, e depois pela sua situação decorrente da crise provocada pela guerra na Ucrânia. Estes últimos desenvolvimentos têm confirmado estes receios de aumento de pedidos de ajuda?

Temos registado um aumento de pedidos por parte das instituições, seja para as famílias que apoiam, porque pedem mais ajuda, seja também para as próprias instituições, uma vez que as próprias instituições têm que enfrentar despesas maiores nos produtos que compram e que se servem nos lares, nos centros de dia, no apoio domiciliário, nas creches. Todas as refeições custam mais caro e custa mais caro também às instituições. E ainda não foram renegociados os acordos com a Segurança Social e, portanto, as instituições têm hoje custos maiores de eletricidade e gás, preços mais superiores para os produtos alimentares e outros, e até precisam de mais ajuda dos bancos alimentares. E, portanto, há uma pressão pelo lado da procura que nos obriga a apelar mais aos portugueses para que sejam solidários.

Não há dados concretos sobre esse aumento?

Ainda não tenho dados concretos sobre este aumento. Mas, sobretudo, não podemos esquecer também que há um problema terrível para estes refugiados que é um problema de habitação. Muitos dos refugiados ucranianos hoje debatem-se com a impossibilidade de obter a casa de que necessitavam para poder recomeçar uma vida no nosso país. E, portanto, aqui também é preciso que as instituições estejam atentas e que possam ajudar estas pessoas e, portanto, há aqui um grande esforço que tem sido pedido às instituições.

"Há uma pressão pelo lado da procura que nos obriga a apelar mais aos portugueses para que sejam solidários"

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