Fruta do Oeste. Produtores avisam que preços devem acompanhar subida dos custos

23 mar, 2022 - 15:30 • Teresa Paula Costa

Produtores da maçã de Alcobaça e da pera-rocha certificadas denunciam aumento exponencial dos custos de produção. Preços podem vir a subir e a qualidade da próxima campanha pode ficar comprometida.

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Cerca de 10 a 15 toneladas de maçã de Alcobaça, certificada com o selo Indicação Geográfica Protegida (IGP), saem todos os dias em camiões da Campotec. Daquela organização de produtores, situada na freguesia da Silveira, Torres Vedras, vão para as grandes superfícies e pontos de venda depois de terem sido pesadas, triadas, lavadas e embaladas.

Ao produtor, cada maçã fica em 15 a 20 cêntimos. Depois desse processo, fica no dobro do valor, mas, até chegar às mãos dos consumidores, o seu valor é duplicado com os custos da distribuição. Ou seja, feitas as contas, uma maçã de Alcobaça fica, no mínimo em 60 cêntimos.

Ficava, porque estes números são os de há seis meses. Atualmente, os custos são outros, explica à Renascença o presidente da direção da Associação Nacional da Maçã de Alcobaça, Jorge Soares.

Eletricidade aumentou 400%

Segundo Jorge Soares, nos últimos seis meses, "a eletricidade, para quem está no mercado livre e para quem não tem contratos de longa duração, aumentou cerca de 400%”.

Outro custo que aumentou significativamente foi o das embalagens. “Uma embalagem individual de plástico aumentou cerca de 35%”, lamenta o produtor.

Também “as embalagens de cartão aumentaram cerca de 45 a 50%”.

Este custo vem juntar-se ao dos combustíveis. “De 2020 para 2021”, salientou Jorge Soares, “o gasóleo subiu 5%, mas de 2021 para março de 2022, subiu 44%“, ou seja, “em dois anos, o gasóleo aumentou 51%”.

Tratam-se de custos “insustentáveis” para o setor, alerta o presidente da Associação Nacional de Produtores de Maçã de Alcobaça.

A mesma situação acontece com a pera-rocha, outro fruto certificado da região Oeste, desta vez, com o selo Denominação de Origem Protegida. Trata-se de produtos cuja conservação em câmaras frigoríficas ao longo de nove meses implica um gasto constante de eletricidade.

A estas despesas acrescem ainda os aumentos do salário mínimo, no início do ano. Uma situação “importante”, para o presidente da assembleia-geral da Associação Nacional de Produtores de Pera Rocha.

Armando Torres Paulo diz à Renascença que o acréscimo foi significativo, pois “estamos no mundo rural onde a maior parte dos funcionários ou tem um salário mínimo ou muito próximo”. No entanto, quase todos os funcionários, independentemente do seu salário, receberam um aumento, o que fez crescer a despesa.

Pelo mesmo diapasão afina Jorge Soares. "O setor está hoje muito diferente do que era", porque são precisos “engenheiros agrónomos, engenheiros da qualidade, técnicos comerciais e técnicos de gestão”, entre outros.

“Há duas décadas, a agricultura era onde se empregavam as pessoas menos qualificadas e menos conhecedoras, mas hoje não é”. É preciso equiparar os salários destes quadros aos outros setores, salienta o produtor.

Guerra no Leste inflaciona fertilizantes

Outro custo acrescido nesta altura é o dos fertilizantes, particularmente do nitrogénio, considerado "o maior alimento" das plantas.

Armando Torres Paulo conta que, devido à guerra na Rússia e às sanções económicas, “os fertilizantes que vêm essencialmente da Rússia e da Bielorrússia” deixaram de estar disponíveis e os produtores tiveram de passar a comprá-los a outros países que aumentaram muito os preços. Torres Paulo fala em aumentos na ordem dos 200%.

Por isso, os preços da fruta vão ter de aumentar em breve, dizem ambos. Mas o maior impacto pode vir a ser na qualidade da próxima colheita de maçã e pera.

Fruta de pior qualidade no próximo ano

Jorge Soares explica que, no caso da horticultura, os produtores podem simplesmente decidir não cultivar as terras de um ano para o outro. O caso da fruta é diferente.

Os pomares são preparados “para 10 anos”, o que dissuade os agricultores de os abandonarem, dado o investimento feito. Por isso, no caso da fruta, a falta de dinheiro disponível pode levar os produtores a terem apenas “maçãs produzidas pelos mínimos, para que as árvores não morram, para que a atividade não dê muito prejuízo, mas onde a qualidade não vai ser a que se deseja”, alerta Jorge Soares.

Nem num caso nem no outro os produtores pensam vir a pedir apoios ao Estado.

A região Oeste fornece cerca de 85% da produção nacional de pera rocha, enquanto a maçã de Alcobaça certificada é apenas produzida nesta região do país.

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  • Ana Paula Pereira
    22 jul, 2022 Bombarral 08:03
    E os preços do trabalhador? Não sobem? Todos ganham menos o trabalhador. É o costume. Devia de haver uma fiscalização, porque há muitos patrões que se aproveitam e exploram as pessoas.

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