Reportagem

"​Aqui tenho qualidade de vida". Marta não troca Castelo Branco "por nenhum lugar do mundo"

14 mar, 2022 - 23:09 • Ana Carrilho

Marta Jesus concluiu a licenciatura em Turismo há dois anos no Instituto Politécnico de Castelo Branco e é Relações Públicas do kartódromo local. Assegura que a região tem “um grande potencial que precisa de ser explorado”. Não apenas na cidade, mas também nas freguesias.

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"E vem muita gente aqui ao Kartódromo?" Assim começou a conversa com Marta Jesus, a jovem de colete amarelo na berma do kartódromo de Castelo Branco que tirava fotografias, enquanto alguns elementos que participavam na "fam" aceleravam na pista de karts.

A resposta veio de imediato e com números rigorosos de visitantes, quem são e de onde vêm, os dados sobre as pistas e os campeonatos. Tudo na “ponta da língua”, ou não se tratasse, afinal, da responsável pelas Relações Públicas do Autódromo de Castelo Branco.

É, apenas, uma das muitas atividades desta jovem que já correu mundo à conta do título “Miss Castelo Branco” ganho em 2016 e da paixão que tem por motas e carros. Mas como “as conversas são como as cerejas”, falou-se e tudo um pouco: das paixões às dificuldades dos jovens em arranjar emprego estável e casa que possam pagar, dos encantos e motivos de interesse da região ao muito que é preciso fazer para atrair visitantes. E da certeza de Marta: “não troco Castelo Branco por nenhum lugar no mundo”.

Castelo Branco tem muito potencial turístico e ainda há muito por explorar

“Estas iniciativas (fam trip ou viagens de promoção de um destino) são muito importantes porque as pessoas não sabem o muito que aqui há para conhecer e são uma boa oportunidade para lhes mostrar que há bons motivos para virem até Castelo Branco passar uns dias. E o Interior também já percebeu que tem potencial para atrair muita gente e diferentes públicos. E quando experimentam, têm vontade de voltar”, diz Marta Jesus, com entusiasmo.

Entre os motivos de interesse está, obviamente, o “seu” Kartódromo, inaugurado há dois anos. Mesmo com uma pandemia a trocar-lhe as voltas, no primeiro ano de funcionamento recebeu 16 mil visitantes: grupos de amigos ou de empresas para team building, famílias e participantes de torneios e campeonatos nacionais ou de Espanha. Também há quem traga o seu próprio kart e use as instalações para treinar.

Com o alívio das restrições, há vontade de viajar e Marta espera que nos próximos tempos cheguem mais visitantes à região de Castelo Branco, onde, na sua opinião, “há uma qualidade de vida que não se encontra noutros locais, nomeadamente nas grandes cidades de Lisboa e Porto”.

Com uma licenciatura em Turismo concluída há dois anos no Instituto Politécnico de Castelo Branco, Marta afirma – com alguma “propriedade” – que há muito para fazer e para mostrar, “há um grande potencial que precisa de ser explorado”. Não apenas na cidade, mas também nas freguesias.

E dá como exemplo a sua, Alcains, que se tornou mais familiar para os portugueses por ser a terra natal do Presidente Ramalho Eanes. “É um orgulho imenso para todos nós”. É também uma terra afamada pelo queijo e que alberga o Museu do Canteiro, dedicado aos homens que trabalham a pedra, especialmente o granito característico da região.

Mas para Marta, também seria interessante apostar no Turismo Religioso, valorizando e mostrando o conjunto de capelas que existem na freguesia, mas que estão quase sempre fechadas. Sem esquecer o Turismo de Natureza.

"Quero ficar cá"

Marta Jesus tem 26 anos e depois de acabar o curso não teve dificuldade em arranjar trabalho. O emprego no Kartódromo não foi o primeiro, que terminou por causa da pandemia. Mas mesmo agora, a situação contratual com a Escuderia de Castelo Branco (que gere a infraestrutura) ainda não lhe dá a estabilidade suficiente para dar outros passos. A situação do marido, engenheiro informático, é semelhante. Por isso, um ano depois do casamento, continuam a viver em casa dos pais de Marta. Entretanto, vão tentando fazer algum pé-de-meia que lhes permita avançar para a compra da sua casa.

Incentivos à fixação dos jovens

A habitação é um dos problemas com que Castelo Branco se debate, admite à Renascença o presidente da Câmara, Leopoldo Rodrigues. “Sem habitação em condições e com preços que possam pagar, também é difícil captar e/ou fixar os jovens”.

Apesar dos preços ainda serem mais baixos do que noutras zonas do país, não estão ao alcance de todos. Por isso, a autarquia decidiu investir na construção de habitação “a preços acessíveis”. Leopoldo Rodrigues diz que, numa 1ª fase, já há 100 fogos em fase de projeto. Por outro lado, os particulares também têm incentivos para construir “habitação com qualidade”.

Ainda assim, o edil defende que o governo deve continuar a investir nos incentivos à fixação de população no Interior, nomeadamente jovens. Que não terão de ser apenas económicos, podem passar pelas infraestruturas e condições de vida. Por exemplo, a qualificação dos serviços de saúde “é essencial, com mais médicos e médicos especialistas”. E também faltam professores. “A qualidade das escolas é uma das coisas que as famílias mais apreciam”.

Falta de mão-de-obra que depois também se reflete na capacidade de atração de novas empresas, nomeadamente de alto valor acrescentado, para a região. “Isto é uma espécie de “pescadinha de rabo na boca”: por vezes há empresas que manifestam interesse em se fixar aqui mas deparam-se com falta de pessoas para trabalhar; e as pessoas não veem porque não têm empresas onde possam trabalhar. Isto só se resolve criando condições para os jovens se fixarem e estando cá, fazendo divulgação das mais-valias do território para que as empresas se instalem”, argumenta Leopoldo Rodrigues.

Ainda assim, há 2.800 desempregados em Castelo Branco, metade de longa duração. A situação na Dielmar pôs centenas de postos de trabalho em risco em Alcains (e a mãe de Marta é uma das funcionárias que temeu pelo desemprego), mas a aquisição feita por empresário de Barcelos salvou a unidade fabril e está a criar mais emprego. Para isso, está ser feita formação que pode absorver alguns dos desempregados do concelho.

"De Alcains vou a todo o mundo, mas volto sempre"

Marta Jesus não esconde a paixão pelos carros, motas e karts. “É a minha praia”, diz à Renascença, ao mesmo tempo que revela, (mostrando até as fotos no telemóvel), que também já foi Miss Castelo Branco em 2016.

À conta dos concursos de beleza, já foi duas vezes à China e uma a Itália, sem contar com as viagens a diversos países em que há comunidades portuguesas. Aliando a moda e beleza ao desporto motorizado, recebe frequentemente convites para ações de promoção de marcas automóveis ou motas, às vezes em grandes prémios. Atividades reduzidas por força da pandemia.

Tempo houvesse e teria muito mais para contar sobre a sua vida com pouco mais de um quarto de século. Mas Marta garante: “Sem sair de Alcains (para viver fora) já corri mundo, mas volto sempre. E o meu objetivo é ficar cá”.

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