Ordem dos Farmacêuticos

Vacinação anti-Covid. "Não há razão para que as farmácias não possam colaborar neste processo"

13 jan, 2022 - 01:12 • André Rodrigues

No início do processo de vacinação contra a Covid-19, as farmácias foram preteridas, apesar da disponibilidade que sinalizaram para serem parte do processo. "No início houve problemas que justificavam ter mais cuidado. Hoje, não creio que essas razões persistam", diz o presidente da Secção Regional do Norte da Ordem dos Farmacêuticos que diz que, hoje, já se sabe muito mais sobre as vacinas do que no arranque da vacinação. "Estamos preparados para acelerar o processo, é tudo uma questão de vontade política", diz Franklim Marques.

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A Ordem dos Farmacêuticos diz que não há nenhuma razão para que as farmácias não absorvam parte do processo de reforço da vacinação contra a Covid-19.

“É algo que acontece em Espanha, na França e no Canadá”, revela o presidente da Secção Regional do Norte da Ordem dos Farmacêuticos.

Em declarações à Renascença, Franklim Marques considera inútil a manutenção em funcionamento de grandes centros de vacinação quando, segundo diz, os farmacêuticos dão garantias de eficácia e estão prontos para acelerar o processo, tal com já tinham sinalizado no início da campanha de imunização contra o SARS-CoV-2.

Vontade política

“Já se conhece muito melhor as vacinas, já não são necessários os grandes centros de vacinação, porque temos uma distribuição igualitária de farmácias por todo o país, temos cerca de 3.000 farmácias, portanto, neste momento, não há razão para que as farmácias não possam colaborar neste processo. Estamos preparados para isso. Basta só que o Governo assim o queira e decida enveredar por esse caminho”, assinala.

Outro dos argumentos a favor da vacinação nas farmácias, segundo este responsável, é o facto de já não haver falhas ou atrasos na distribuição de vacinas, algo que era comum no início do processo de vacinação.

“No início, havia muito cuidado em poupar ao máximo. Portanto, no início houve problemas que justificavam ter mais cuidado. Hoje, não creio que essas razões persistam”, diz.

Além disso, Franklim Marques diz que o recurso às farmácias e aos seus profissionais para apoiar o esforço da vacinação permitiria acelerar o processo.

Com cerca de 3.000 farmácias em todo o país, e com três pessoas por estabelecimento dedicadas à vacinação anti-Covid, “teríamos mais 9.000 pessoas aptas para vacinar. Não sei quantas pessoas trabalham nos grandes centros de vacinação, mas se cada pessoa vacinar 30 a 40 pessoas por dia”.

140 mil mortes anuais por interações medicamentosas

Este farmacêutico identifica, ainda, uma vantagem acrescida: “tornava-se mais fácil para as pessoas idosas que, em vez de percorrerem quilómetros para os centros de vacinação tinham a sua farmácia de proximidade mesmo ali ao lado. E isso contribuiria decisivamente para acelerar o processo”.

Noutro plano, o presidente da secção regional do Norte da Ordem dos Farmacêuticos propõe o acompanhamento terapêutico por parte das farmácias, junto dos doentes crónicos.

Franklim Marques diz, dessa forma, seria possível esclarecer os utentes e reduzir os riscos das interações de medicamentos que leva muitos doentes às urgências hospitalares, sem necessidade.

“Estima-se que 140 mil pessoas morrem por ano devido a interações medicamentosas. Numa população idosa, como a nossa, as pessoas tomam muitos medicamentos.

Quanto mais medicamentos têm, maior é a possibilidade de haver interação medicamentosa e maior é a possibilidade de cair numa urgência.
Se acompanharmos estas pessoas, conseguimos que 80% não vão às urgências, diminuindo a possibilidade de sobrecarga”, explica este responsável da Ordem dos Farmacêuticos.

Redução de custos sociais

Um outro estudo conclui que, por cada euro por pessoa investido no acompanhamento farmacoterapêutico, poupava-se 14 euros ao SNS.

Como? “Não indo à urgência, diminuindo internamentos hospitalares - e cada internamento fica por 200 euros por noite. Por outro lado, evitando, também as faltas ao trabalho e todos os custos sociais relacionados com este problema”.

Para Franklim Marques, esta solução é particularmente relevante para os doentes crónicos que tomam muita medicação e, por isso, necessitam de um apoio suplementar para a gestão das tomas e para prevenir eventuais riscos e avaliar a eficácia da medicação, sem que o doente necessite de recorrer permanentemente a um médico assistente.

Para evitar o recurso às urgências e aos cuidados de saúde primários, o presidente da Secção Regional do Norte da Ordem dos Farmacêuticos sugere que “sejam as farmácias a proceder à renovação da terapêutica, em contacto com o médico, e esse doente escusa de ir ao centro de saúde ocupar essa vaga.

“O médico prescritor dedicará o seu tempo ao novo diagnóstico, de novos doentes, ao acompanhamento de situações mais críticas e, também, à instituição da terapêutica, porque nós não podemos substituir-nos a quem faz a prescrição clínica”, conclui.

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