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José Artur Paiva

Infeção natural? "Só depois do pico de casos diários"

28 dez, 2021 - 23:30 • João Malheiro

José Artur Paiva apela a que seja definida uma estratégia ao nível europeu para a fase final da pandemia. O diretor geral de Medicina Intensiva do Hospital São João acredita que vai haver capacidade de resposta em janeiro para os mais de 37 mil casos diários projetados. E apela a um reforço da capacidade de testagem e de rastreio de novos casos.

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O diretor geral do serviço de Medicina Intensiva do Hospital São João, José Artur Paiva, defende que a infeção natural e uma mudança de atitude face à Covid-19 "só deve ser discutida depois de passarmos o atual pico de casos diários".

O epidemiologista Manuel Carmo Gomes admitiu, esta terça-feira, que Portugal pode ter de mudar de atitude na contenção da Covid-19 devido à elevada transmissibilidade da variante Ómicron, se se comprovar que provoca menos doença grave do que as variantes anteriores.

"Se realmente é muito menos grave do que a Delta em populações muito vacinadas, como é a nossa, talvez faça mais sentido deixar que as pessoas se imunizem naturalmente. Nunca advoguei teorias de imunidade de grupo por infeção natural, mas estamos numa situação completamente diferente, com a população praticamente toda vacinada e uma variante que, para já, não parece ser muito preocupante em hospitalizações", afirmou, à Lusa.

"É uma discussão interessante, que tem de ser feita, mas só depois deste período de contenção, para podermos reduzirmos o processo de crescimento da transmissão comunitária", defende, à Renascença, o médico intensivista do Hospital São João.

José Artur Paiva diz, no entanto, que vai haver um momento em que terá de ser discutida a "fase final" da pandemia e que, idealmente, "é uma discussão a ser feita a nível europeu e, até, se possível, a nível mundial".

Hospitais prontos para dar resposta a pico de casos

Portugal pode atingir um máximo de 37 mil casos diários de Covid-19 em 7 de janeiro, avançou a ministra da Saúde, citando previsões do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), esta terça-feira.

“As previsões apontam para 37 mil casos no dia 7 de janeiro”, declarou Marta Temido em entrevista à SIC Notícias e à RTP.

O diretor geral do serviço de Medicina Intensiva do Hospital São João aponta que, apesar do país "estar num crescimento exponencial de uma variante altamente transmissível, sabemos que a gravidade é bem diferente".

"Sobretudo pela proteção vacinal e a grande adesão da população a ela. O número de casos graves é bastante inferior a ondas anteriores", explica, à Renascença.

"Neste momento, estamos com uma capacidade de resposta adicional significativa e, por isso, vemos alguma tranquilidade", acrescenta.

José Artur Paiva tem "esperança" que os serviços não Covid sejam menos afetados do que em vagas da Covid-19 anteriores.

"Aprendemos, ao fim destes dois anos, como dar resposta à pandemia. Há, hoje, um maior número de camas que permite uma resposta sustentável. E há o compromisso de saber responder a todos os doentes, não apenas aos infetados com a Covid-19. A resposta não pode ser feita a custa de outros doentes. É preciso atuar nas áreas corretas", aponta.

Mesmo assim, o médico intensivista indica que não se pode baixar a guarda e os Hospitais "têm de estar preparados para um acréscimo de doentes internados e em cuidados intensivos".

Melhor comunicação e mais capacidade de rastreio de novos casos

José Artur Paiva realça a importância a capacidade de testagem e de rastreio de novos casos é "fundamental" para combater a nova variante da Covid-19.

E, apesar de Portugal estar a "testar de uma forma muito significativa", há algumas preocupações relativamente a este processo.

"Preocupa-me que cerca de 16% das pessoas com testes positivos não tenham um processo de isolamento rápido. E preocupa-me que 46% dos contactos de casos positivos não sejam submetidos a rastreio atempado e isolamento", refere, à Renascença.

Por isso, o diretor geral do serviço de Medicina Intensiva do Hospital São João pede que o processo "seja agilizado" e que haja "uma boa utilização dos testes".

"É preciso uma melhor comunicação que permita às pessoas perceberem quem é que beneficia da realização dos testes. Para que se perceba quem necessita de testes e quais as consequências do resultado positivo", defende.

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