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Combustíveis

Aumento de preços e escassez. Como a crise energética pode influenciar o acesso aos medicamentos?

09 nov, 2021 - 01:00 • André Rodrigues

Bastonária da Ordem dos Farmacêuticos alerta que, se a crise energética não reverter nos próximos seis meses, é possível que haja escassez nas farmácias e aumento do preço dos medicamentos de venda livre. Os fármacos dispensados sob receita não aumentam. Indústria admite aumento dos custos de produção em 2022, mas garante que há planos de contingência para reagir a situações de crise.

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Portugal poderá vir a enfrentar um quadro de escassez de medicamentos nas prateleiras das farmácias, caso não haja uma reversão da crise energética nos próximos tempos, alerta a bastonária da Ordem dos Farmacêuticos.

"Se esta crise se mantiver, durante seis meses ou mais, é natural que venham a sentir-se impactos, sobretudo nos medicamentos de venda livre, não sujeitos a receita médica", diz à Renascença Ana Paula Martins, que admite que, no atual contexto, "são os que estão mais sujeitos ao impacto da crise energética, porque o aumento do preço dos combustíveis vai aumentar o custo da distribuição e isso terá de ser partilhado pelo consumidor", por via de uma subida do preço.

Diferente é a situação dos medicamentos com preço de venda ao público (PVP) marcado na embalagem, "que são negociados com o Estado... nesses vai haver uma tentativa de amortecimento por parte de toda a cadeia de valor, desde a indústria, passando aos distribuidores e às farmácias, porque não podem aumentar os preços", graças a uma lei-travão que congela o aumento do preço dos medicamentos prescritos pelos médicos, caso se verifique uma subida do preço europeu de referência.

Contudo, Ana Paula Martins reconhece que, se, por um lado, essa circunstância protege os consumidores, por outro lado fragiliza toda a cadeia de valor do medicamento.

"Isto é um mercado europeu e, quando a cadeia de valor do medicamento fica fragilizada, há uma tendência para que mercados que têm mais capacidade para pagar pelos medicamentos fiquem com eles. Aí, não é estranho pensarmos num aumento da escassez de medicamentos", avisa.

O problema da falta de medicamentos em Portugal não é de agora e, até, antes da pandemia era "muito visível".

"Mas como Portugal não consegue compensar nos medicamentos por causa da lei que tem estas margens e estes preços - podemos vir a ter mais falta de medicamentos do que temos hoje", nota a bastonária da Ordem dos Enfermeiros.

Doenças neurodegenerativas e do foro psiquiátrico são as áreas terapêuticas potencialmente mais afetadas, ou cujo impacto pode ser mais preocupante.

"No caso da medicação para a doença de Parkinson ou, também, no caso da medicação para doenças do foro psiquiátrico… em ambos os casos são fármacos em que é muito mais difícil fazer uma substituição do que, por exemplo, num analgésico ou num antibiótico", remata.

Planos de contingência para prevenir crises

Do lado da indústria, a incerteza é mitigada através de planos de contingência que procuram responder, por antecipação, aos cenários mais complicados, até porque, cabe às associadas da Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (APIFARMA) garantir o fornecimento de medicamentos diretamente aos hospitais.

Em declarações à Renascença, o diretor executivo da APIFARMA antecipa que "os custos de produção para 2022 vão aumentar em cerca de 22%, mas os medicamentos são um bem diferente de muitos outros. O aumento do custo de produção não se reflete num aumento do preço. Isso não é viável", por via da lei-travão.

Já um cenário de escassez torna-se mais difícil de prever, neste quadro de incerteza.

"É isso que esperamos que não aconteça e é isso que os planos de contingência da indústria farmacêutica têm evitado que aconteça. Não temos, para já, qualquer informação de que possa haver escassez, mesmo no período complexo que estamos a viver. A indústria farmacêutica funciona com planos de contingência que não são para reagir ao que está a acontecer hoje. São para reagir àquilo que se prevê que possa acontecer amanhã, depois de amanhã e na semana seguinte", conclui Heitor Costa.

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