20 out, 2021 - 06:58 • Liliana Carona
Aos 75 anos, a Irmã Vitória luta contra mais uma recidiva, na mama, mas o percurso como doente oncológica começou em 1990, com um melanoma ocular.
“Não tenho razão para estar mal disposta. Essa força procurei-a no próprio sofrimento quando em 1990 estive internada no IPO do Porto, para onde fui enviada por causa de melanoma na vista. Fui operada e recidivava sempre, foram histórias complicadas”, recorda.
Pinta, toca órgão, tem o serviço de capela, portaria, livraria e a distribuição de roupa aos pobres. “Sempre bem-disposta”, garante a Irmã Maria Vitória, de hábito e véu cinza.
É a segunda filha mais velha de sete irmãos e há 54 anos abraçou o serviço pastoral na Casa Rainha do Mundo, um convento em Gouveia das congregação das Irmãs de São João Baptista e de Maria Rainha.
Natural da Aldeia de São Francisco de Assis, na Covilhã, percebeu aos 15 anos “uma interpelação forte”, pois, “vivia numa família muito cristã, e havia sempre um ambiente familiar, tinha um tio sacerdote e já caminhava numa intimidade com Deus”, sublinha a religiosa.
Uma história complicada, que se desdobra num cancro no esófago em 1991, e mais tarde em 2012 na mama. Em 2021 novamente no peito.
“Em 2012, eu não ia fazer o rastreio, mas um dia decidi ir. No espaço de oito dias fui internada em Coimbra”.
Diagnóstico? Cancro da mama. “Fiz radioterapia, medicação oral durante seis anos e agora estes últimos exames indicam que voltou a aparecer na mesma mama, mas não estou com receio, estou nos braços de Deus”, sorri a Irmã Vitória, decidida a enfrentar mais uma vez a doença oncológica.
Foram 30 anos de cirurgias, muitas anestesias e outras tantas complicações e noites que não esquece.
“Tenho um novo tumor na mesma mama, mas nunca tive medo, só tive medo naquela noite em que o professor Ramiro Valentim me preparava para morrer, porque tinha recidivado para o esófago. Foi uma noite de luta, mas ao mesmo tempo de esperança... parecia que as estrelas do céu brilhavam ainda mais e pude ajudar outros doentes. Os meus colegas partiram e eu ainda cá estou 30 anos depois e não sei porquê”, afirma a Irmã Vitória, tecendo elogios à equipa que a acompanhou nessa altura, no IPO do Porto.
“Em 1991 estive um mês sem comer e sem beber. Agradeço ainda hoje ao professor Ramiro Valentim e ao Dr. Cabral, médico pneumologista. Depois de algumas horas amenizei, entreguei-me... estava longe de tudo e de todos, mas sempre próxima de alguém que não me abandonou, talvez sentado aos pés da minha cama”, destaca comovida.
Não sabe como resistiu aos solavancos da doença oncológica que recidivou várias vezes. Para outros e outras como ela, a Irmã Vitória deixa uma mensagem.
“Proteção divina? Não duvido nada, sinto-me em paz, com alegria e muita paz interior e digo a todos os doentes cancerosos que tenham sempre esperança, porque vale a pena, vale a pena lutar. Que não desanimem, só nos complica a situação e que tenham confiança porque a Deus nada é impossível. Todos os dias estão presentes os doentes oncológicos na minha oração."
"Libertem-se da situação do medo, tenham confiança. Devemos viver libertos. Se andasse com medo durante 30 anos, não tinha vivido", aconselha.